As (mais de) cem melhores coisas dos anos 2010

Quando eu e o Fillipe começamos com a ideia que resultaria no PCM, em 2012, nosso objetivo era criar um espaço onde nosso grupo de amigos podiam recomendar, uns para os outros, aquilo que gostávamos naquele momento. Das músicas que ouvíamos nas nossas reuniões na garagem da casa dos meus pais aos filmes que estávamos empolgados para assistir (teve um momento que esse filme era o Alice no País das Maravilhas do Tim Burton, essa década foi uma bagunça).

O tempo passou, e eu e meus amigos seguimos nossas vidas. Nós continuamos juntos, mas temos menos tempo do que no ensino médio para explorar os catálogos do Popcorn-Time Netflix e nos reunirmos para jogarmos o novo Smash Bros. Mas eu sempre gostei da ideia que fundou o PCM, do espírito de compartilhar aquilo que amamos, aquilo que nos faz lembrar uns dos outros ou aquilo que queremos compartilhar com quem amamos, e por isso eu o mantive até hoje. Nos últimos cinco anos o PCM virou basicamente um blog onde eu escrevo sobre o que gosto. Mesmo com as colaborações da Manu, do Raul e do Gui nesse último ano, o PCM continuava cheio de opiniões minhas sobre as coisas que eu gosto, e aquele espírito do PCM, de um grupo de vozes com gostos distintos escrevendo sobre as coisas diferentes que fazem os seus dias mais felizes acabou se perdendo.

Então, pra acabar o ano e acabar a década, eu decidi voltar à esse espírito. Eu convidei um grupo de amigos meus para me recomendarem as coisas que eles mais gostaram nesses últimos dez anos, aquilo que definiu a década deles. O resultado é uma lista diversa, cheia de boas surpresas (e algumas certezas na forma de Mad Max) que resgatam aquilo que eu amo no PCM.

A proposta foi simples: eu pedi que cada um deles me enviasse uma lista daquilo que mais gostaram nos anos 2010. Alguns me deram várias listas, outros me deram uma lista com justificativas, outros foram criando uma lista enquanto conversávamos sobre as coisas que gostávamos. Cada uma delas é única e deliciosa de ler, e acho que é o jeito certo de encerrar um ano bem produtivo pra esse blog. São 118 dicas no total (agrupando repetidas e partes de outras coisas), e eu não poderia pedir um retrato melhor da última década do que esse.


Afonso Alban

Cena de Atlanta Donald Glover e Lakeith Stanfield em Atlanta.

Séries:

  1. The Newsroom (HBO, 2012–2014)
  2. Fleabag (BBC/Prime Video, 2016–2019)
  3. Veep (HBO, 2012–2019)
  4. Atlanta (FX, 2016—)
  5. Sharp Objects (HBO, 2018)
  6. Years And Years (HBO, 2019)

Discos:

  1. Tropix (Céu, 2016)
  2. channel ORANGE (Frank Ocean, 2012)
  3. American Teen (Khalid, 2017)
  4. Beauty Behind the Madness (The Weeknd, 2015)
  5. To Pimp a Butterfly (Kendrick Lamar, 2015)
  6. 21 (Adele, 2011)
  7. The Life of Pablo (Kenye West, 2017)
  8. Lemonade (Beyoncé, 2016)

Filmes:

  1. Garota Exemplar (David Fincher, 2014)
  2. Ela (Spike Jonze, 2013)
  3. Moonlight: Sob a Luz do Luar (Barry Jenkins, 2016)
  4. Mad Max: Estrada da Fúria (George Miller, 2015)
  5. A Rede Social (David Fincher, 2010)
  6. Coringa (Todd Philips, 2019)

Emanuele Spies

Uma mulher olha para o pára-brisa do carro, coberto de neve Rooney Mara em Carol.

Os padeiros do PCM me pediram para refletir sobre a minha lista da década. Aquelas coisas que me marcaram nos últimos dez anos. Eu tenho certeza que ela é completamente enviesada nos últimos 5 anos muito mais do que os primeiros 5. Mas acredito que isso seja até natural, afinal a gente tende a lembrar com mais carinho das coisas que nos marcaram recentemente.

Filme: Carol

Então é claro que minha lista começa com Carol. Porque Carol não foi apenas o melhor filme lésbico que eu já vi, mas ele também abriu portas que eu nunca havia pensado em olhar. Esse filme me fez redescobrir o universo cultural lésbico, aquele submundo que toda adolescente vive, mas que eu, por N razões, não vivi.

Não basta ser um filme com elenco maravilhoso, pelo amor, Cate Blanchett maravilhosa beijando outra mulher, quem perderia? E essa outra mulher sendo Rooney choro-fácil-pode-ver Mara? Eu já tinha adorado o trabalho da Rooney em Os homens que não amavam as mulheres, onde Lisbeth Salander é super queer, forte, daquelas que não leva desaforo para casa, mas vê-la nesse personagem super frágil que desabrocha e virá uma mulher independente e cheia de si. Foi incrível.

Mas Carol também me marcou porque ele me fez pensar (finalmente!) que eu deveria estar perdendo muita coisa, que deveria haver tanto conteúdo lésbico por aí que eu nem sabia que existia. E foi assim que eu comecei a me aventurar em livros lesbicos em inglês; em fanfics; em audiobooks. E nunca mais parei.

Filme/Livro: Precisamos falar sobre o Kevin

Precisamos falar sobre o Kevin foi o livro mais forte e emocionante que eu já li. Daqueles que mexia com meu humor e me deixava completamente desnorteada. O filme é tão maravilhoso quanto e eles ficaram marcados na minha vida.

Livros: Trilogia Millennium

Como já mencionado: Lisbeth Salander. É tão maravilhoso quando a gente consegue se identificar com um personagem. Não que minha vida se pareça em qualquer aspecto com a de Lisbeth. Mas uma protagonista mulher, nerd, inteligente, que nao esta nem ai para a opinião alheia? Shut up and take my money. Ao ler o livro um eu nem imaginava que teria o prazer de “ver” Lisbeth com uma mulher. Isso foi apenas um enorme bônus.

Eu amei esses livros e os guardei com tanto carinho que quando me mudei de país ou carreguei comigo - e para quem os viu, sabe que são pesados.

Série: The L Word

Se Carol me despertou para o universo de livros e fanfics, The L Word me acordou para a vida. De novo eu repito a importância de se sentir representada em alguma mídia. Até então eu achava que era estranha, que eu não pertencia àquele mundo, mas eu não sabia o porquê. Quando eu passei a assistir a série, e a ver outros universos possíveis, comecei a compreender que de fato eu não pertencia onde estava, pois aquele mundo não era o meu.

The L Word, apesar de ser uma grande ficção com enormes problemas, me fez ver que nao tinha nada errado comigo, eu so nao estava no lugar certo.

Disco/Show: S&J Nossa História

Eu sempre fui fã de Sandy & Junior. Apesar de ter ido apenas em dois shows deles na vida: um quando eu tinha por volta de 5 anos e o outro quando anunciaram o fim da carreira.

Mas mesmo quando eles se separaram, S&J continuou sendo minha playlist frequente. E o dia que eu soube que eles voltariam eu sabia que faria de tudo para vê-los novamente.

Claro que a vida não é assim um parque de diversões e apesar de ter conseguido comprar os ingressos - porque, veja só, eles fizeram shows fora do Brasil -, eu não tive condições financeiras de ir até eles.

Porém, isso não diminuiu em nada o impacto desse álbum que coroa os últimos 10 anos. Quem sabe na próxima década eles se reúnam de novo?

Podcast: Mamilos

Eu já escrevi um post inteiro sobre o porquê Mamilos é incrível, e se você não leu, pode ir lá, esse post te espera.

Foi ouvindo Mamilos que eu aprendi a ouvir podcast. E é ouvindo Mamilos que eu aprendo constantemente a ser alguém melhor.

Blog: Flexões Lésbicas

O Flexões não é apenas o melhor blog lésbico brasileiro, mas também a razão pela qual eu conheci minha esposa. Então é obvio que ele figuraria nessa lista. Se você não conhece, corre lá! A Jac continua atualizando ele até hoje. O conteúdo é maravilhoso e a forma como a Jac escreve é divertida demais.

Link: Your body language may shape who you are

Existem inúmeras TED talks maravilhosas por ai. Mas nenhuma é tão poderosa, especialmente se você for mulher, quanto essa.

Tire 20 minutos do seu tempo e assista. Talvez essa conversa não vai mudar sua vida. Mas ela poderá te impulsionar a realizar varios desafios que antes pareciam distantes.

Link: A3O

Quando eu digo que Carol me abriu portas para fanfics, é de A3O (Archive Of Our Own) que eu me refiro.

Quantas horas eu já gastei lendo histórias fictícias dos meus personagens favoritos? Eu não saberia dizer. Mas garanto que eu sou a louca das histórias longas, de múltiplos capítulos e centenas de milhares de palavras. Isso de terminar em um dia não me agrada. Tenho que sofrer por dias para valer a pena.

Música/Link: Spotify: Descobertas da Semana

Spotify não é barato, mas desde que eu parei de ouvir a rádio Last.FM para descobrir novos artistas, foi com Spotify e as Descobertas da Semana que fui presenteada com músicas perfeitas, na medida pra mim.

Gosto bastante quando o algoritmo trabalha a meu favor. Você não?

App: Strava

O Strava não é o melhor app para registrar atividades físicas e eu sei que começar uma justificativa assim deve ser bem estranho, mas quero deixar as expectativas bem ajustadas.

Ele foi, no entendo, um excelente companheiro de pedais. E eu tenho certeza que só cheguei a certas marcas (como 132km em um dia) porque os desafios nele me impulsionaram a isso.

Então por esse motivo ele está na minha lista da década, pois guardarei com carinho os “troféus” que ele me proporcionou.

Jogo: Overwatch

Eu nunca fui gamer e demorei muitos anos para ter um videogame. Quando finalmente tive um, quase não terminava jogo algum porque eu não tinha paciência. Quando falavam em FIFA perto de mim, eu achava uma perda de tempo. Até jogar. FIFA foi responsável por muitas noites em claro (e por “em claro” eu me refiro a ir dormir a 1 hora da manhã) que acabei pegando mais gosto por jogar.

Foi assim que quando me falaram sobre um jogo em grupo chamado Overwatch não exitei. Eu não pensei que seria perda de tempo. Até porque ele foi me vendido como “Manu tem personagem lésbica”, logo, mesmo se fosse perda de tempo, eu compraria.

Acontece que Overwatch foi o maior vício dos meus últimos anos. Se eu estivesse em casa, eu estava jogando Overwatch. Parei de acompanhar séries, quase não via mais filmes. Eu. Só. Jogava. Fui ficando boa no jogo. Trazendo novos amigos pra jogar juntos. Até um videogame novo foi comprado, pra Luísa poder jogar comigo.

Nenhum jogo chegou a esse nível. Nenhum jogo me fez acompanhar história de personagem. Atualizações constantes. Jogar os eventos até o fim. Acompanhar o campeonato mundial! Sim, eu virei essa pessoa. Atualmente não tenho mais videogame, e de todos os jogos que acumulei nos últimos 8 anos com consoles, somente um faz falta. Overwatch.


Guilherme Bragança

Representação das ondas gravitacionais que são geradas na colisão de buracos negros Pelo que eu entendi isso é uma representação do que acontece quando dois buracos negros se chocam, mas pergunte pro Guilherme pra ter certeza.

Twin Peaks: The Return (Showtime, 2017). Eu já vou jogar aqui de primeira o mais importante. Twin Peaks: The Return, ou Twin Peaks season 3, ou Twin Peaks season 1 (pelo amor de deus Netflix ARRUMA ISSO), foi minha coisa favorita dos anos 10. Não estaria usando hipérbole se dissesse que foi o pedaço de mídia audiovisual mais incrível que degustei na vida.

Red Dead Redemption, 1 e 2 (Rockstar Games, 2010/2018). Eu não conseguiria montar um top 10 games favoritos mas certamente consigo um top 3; RDR1 estaria em segundo lugar nessa lista (o primeiro lugar seria Metal Gear Solid 2 mas ele é da década passada).

Metal Gear Solid V: The Phantom Pain (Konami, 2015). O último jogo da franquia Metal Gear (vamos fingir que Survive não existiu) deixou um gosto meio amargo na boca dos fãs quando todos os escândalos envolvendo Kojima e a Konami explodiram, porém, vendo o produto como ele é, ainda sim é um jogo fantástico.

Kingdom Hearts 3 (Square Enix, 2019). Deus do céu eu esperei 14 anos pra ver um minigame com o Ratatouille e valeu completamente a pena.

Mac Finds His Pride (It’s Always Sunny in Philadelphia 13x10, 2018). It’s Always Sunny está junto com Seinfeld entre minhas séries de comédia favoritas mas como ela é de 2005 não irei contar como algo dos anos 10, porém vou colocar o último episódio da décima terceira temporada, que saiu em 2018, na lista pois é lindo demais.

Nathan For You (Comedy Central, 2013–2017). Nathan é um cara que quer se conectar com pessoas, e para isso ele usa seu programa de TV com ideias absurdas para melhorar negócios.

Vsauce. Os anos 10 foram anos incríveis para a educação científica, e o YouTube ajudou muito nisto. Michael, do Vsauce, é um dos grandes educadores que surgiram no site e os vídeos dele nos fazem ter grandes reflexões da vida e universo com assuntos mais banais.

Kurzgesagt. Assim como Vsauce, Kurzgesagt educa de formas fantásticas mas usando desenhos lindos de patos.

Shin Godzilla (Hideaki Anno e Shinji Higuchi, 2016). Escrito e dirigido por Hidaeki Anno (o criador de Neon Genesis Evangelion), Shin Godzilla é meio que um reboot do personagem (e contando que as versões americanas nem existem).

Mad Max: Estrada da Fúria (George Miller, 2015). Esse aqui foi o filme que uniu a tribo dos cinélifos e os ~normies.

Kerbal Space Program (Squad, 2011). Kerbal é uma ótima representação do método científico, que é a tentativa e erro (muitos erros).

The Legend of Zelda: Breath of the Wild (Nintendo, 2017). Se eu não colocasse esse aqui provavelmente o Arthur iria me bater.

(Nota do editor: Sim)

Dark Souls (FromSoftware, 2011). Dark Souls não é meu jogo favorito da década mas certamente ele foi O jogo da década, ele formou o zeitgeist dos anos 10 onde jogos começaram a apresentar multiplayer mais passivo, lore com pouca exposição e um desdém pelo jogador.

Detecção de ondas gravitacionais. Essa aqui foi importante pois é minha área de estudo, ondas gravitacionais foram teorizadas por Einstein mais de 100 anos atrás e em 2019 finalmente foram detectadas. Agora astrônomos tem um novo método de observar o universo, elas foram para nós o que The Jazz Singer foi para o cinema (menos o racismo).

JoJo’s Bizarre Adventure (Netflix, 2012–2019). Homens bombados fazendo poses. Só isso mesmo.

Fallout: New Vegas (Obsidian, 2010). O terceiro lugar no meu top 3 jogos favoritos e o motivo do meu ódio pela Bethesda por estar completamente cagando para ele.

Nintendo Switch. O Switch foi o terceiro console Nintendo que tive na vida, antes dele tive um GameBoy Color e o SNES, no momento que liguei o meu pela primeira vez pensei comigo “ok, esse foi o melhor eletrônico que já comprei na vida”.

Final Fantasy XIV: A Realm Reborn (Square Enix, 2013). Esse aqui foi uma das maiores histórias de superação na indústria dos games, o jogo começou com tantos problemas de bugs e gameplay que resolveram simplesmente aniquilar o mundo todo e começar de novo em A* Realm Reborn*. Para mim ele é o melhor MMORPG já feito então podem cancelar todos os outros (estou olhando para você, WoW Classic).

O final de Boa Noite PunPun (Inio Asano, 2013). Tem duas coisas no mundo que me fazem chorar 100% das vezes: cachorros sofrendo e o volume final de Boa Noite PunPun.


Leonardo Michelon

Um rosto no meio da escuridão da noite, em Cavalo Dinheiro Twin Peaks: O Retorno, de David Lynch.

Eu acho que a gente vive em um tempo sem esperança. Eu sou um fã desse negócio de “sinais dos tempos”, e mesmo sabendo que uma época não pode ser resumida num tema só, o que eu observo vendo essa lista é esse grande apreço pela nostalgia, já que as pessoas não tem como saber o que vem pela frente, viram pra trás. Essa ideia de que o tempo é uma repetição infinita nunca esteve tão clara, e eu acho que de fato o futuro não esta na incerteza, mas na reafirmação de coisas óbvias que muitas vezes a gente acaba esquecendo.

Obs.: a lista tá em ordem de lançamento.


Raul Fontoura

Uma gata em cima do telhado, em cena de Night in the Woods Night in the Woods, do estúdio Infinite Fall.

Fiz minha lista tentando trazer o que foi pra mim o espírito da década: o tipo de jogo, série, filme e música que conversou com os meus anseios, meus medos, minhas experiências. Entrar em um emprego, a encruzilhada de o que estudar na faculdade, sair da casa dos pais em maus termos por causa da minha bissexualidade, viver os anos do jovem baladeiro, lidar com abuso e trauma, compreender as próprias escolhas, e até reavaliar a forma como eu tomava escolhas. Essa década basicamente marcou o caminho da minha saída da “infância” para a vida adulta, de forma até bem caricata - do meu primeiro beijo até o meu primeiro divórcio, literalmente. A lista reflete um pouco dessa pessoa que eu fui nesse tempo, a pessoa que eu deixei de ser, e a pessoa que eu passei a ser pessoal, política e socialmente. Quem será que eu posso ser daqui 10 anos?

  1. The Suburbs (Arcade Fire, 2010)
  2. The Legend of Zelda: Breath of The Wild (Nintendo, 2017)
  3. Language (MNEK, 2016)
  4. The Gay and Wondrous Life of Caleb Gallo (Brian Jordan Alvarez, 2016)
  5. Crianças Lobo (Mamoru Hosoda, 2012)
  6. Atlanta (FX/Netflix, 2016)
  7. The Stanley Parable (Galactic Cafe, 2013)
  8. The Good Place (NBC/Netflix, 2016—)
  9. Que Horas Ela Volta (Anna Muylaert, 2015)
  10. Night In The Woods (Infinite Fall, 2017)

Tainara Fraga

Peggy (Elizabeth Moss) sorri enquanto cruza o corredor em Mad Men Elizabeth Moss em Mad Men.

Séries:

Episódios de série:

  • The Suitcase (4x7), Comissions and Fees (5x12), The Phantom (5x13) e Waterloo (7x7) (Mad Men)
  • Abed’s Uncontrollable Christmas (2x11) (Community)
  • The Reichenbach Fall (2x3) (Sherlock)
  • I Love You baby (5x10) e The Panic in Central Park (5x6) (Girls)
  • Episódio 4 (2x4) (Fleabag)
  • Toda quinta temporada de American Horror Story
  • The National Anthem (1x1) e White Bear (2x2) (Black Mirror)
  • Who Goes There (1x4) (True Detective)
  • Ciclo Sem Fim (2x6) (Dark)

Filmes:

Livro: O segundo sexo (Simone de Beauvoir - relançamento em 2016 pela Nova Fronteira).

Videoclipes:

Música:

Discos:

Show: David Gilmour (2015)

Jogo: The Legend of Zelda: Skyward Sword (Nintendo, 2011)

Série documental: Chef’s Table (Netflix, 2015–)

Episódio de série documental: Asma Khan (Chef’s Table)

Melhor abertura de série:


Arthur Freitas

Kentucky Route Zero, por Cardboard Computer Kentucky Route Zero, por Cardboard Computer.

Kentucky Route Zero (Cardboard Computer, 2013—). Nada nos últimos dez anos mexeu tanto comigo quanto Kentucky Route Zero, o jogo de apontar e clicar de um trio de artistas de Chicago. O projeto, que ainda não está finalizado, me acompanhou por boa parte da década através de quatro atos e três interlúdios que contam a história de Conway e Shannon, e uma trupe crescente de desajustados, esquecidos e falidos pelas cavernas do interior profundo dos Estados Unidos em meio à uma recessão econômica que parece o próprio apocalipse (e tudo indica que realmente seja). O jogo atmosférico presta homenagem à história dos videogames e às promessas da informática, enquanto olha para as tecnologias defasadas e as pessoas que se apegaram à elas. Essa é uma descrição triste para um jogo trágico, mas com momentos de beleza inabaláveis em que pessoas se unem para serem esquecidas juntas. É um sinal dos tempos que vêm, mas também um retrato perfeito do que está nos levando até eles.

Eu escrevi sobre KRZ diversas vezes no PCM nesses últimos anos: em 2014, sobre os Atos I e II; em 2015, sobre o Ato III e o interlúdio Here and there Along the Echo; em 2016, sobre o Ato IV; em 2017, sobre o interlúdio The Entertainment e em 2019 sobre o interlúdio Un Pueblo de Nada.

Cópia Fiel (Abbas Kiarostami, 2010). Esse filme mudou tudo para mim. Em 2011, quando eu fui ver ele no cinema sem ter a mínima ideia do que Cópia Fiel ou Abbas Kiarostami significavam (tava muito quente na rua e o ingresso do CCMQ naquela época era R$ 4, valia muito a pena). Eu saí da sessão sem ter nenhuma ideia do que eu tinha visto, mas uma fome insaciável de descobrir. Foi o começo do meu amor pelo cinema. Olhando hoje, eu vejo que esse filme me levou à faculdade apenas para tentar decifrá-lo, me apresentou meu diretor favorito, e se tornou meu porto seguro em dias complicados. É o filme que me trouxe até aqui, e que provavelmente vai me levar a outros lugares daqui pra frente também.

Eu escrevi sobre Cópia Fiel em 2016, quando soube da morte de Abbas Kiarostami.

The Suburbs (Arcade Fire, 2010). Em fevereiro, eu escrevi:

Eu escuto The Suburbs todo o verão desde seu lançamento, em 2010. Quando eu descobri o Arcade Fire, um pouco antes do lançamento do álbum, eu escutava Funeral e Neon Bible direto, no repeat, quase todos os dias. Foi a trilha-sonora do último ano do ensino fundamental e do meu primeiro ano do ensino médio. The Suburbs mudou tudo. Ele entendia a minha vontade de sair de casa e nunca mais voltar. Ele me acompanhou no meu primeiro emprego arrumando computadores de uma lan-house (!!). Ele soava como os meus dias de verão — gigantes, ensolarados, onde o dia durava uma eternidade de tédio, do bom e do ruim.

Dez anos depois, muita coisa mudou no mundo. É fácil um álbum sobre sentir saudade — e os perigos de sentir saudade — envelhecer com a passagem do tempo. Mas The Suburbs se transforma.

A Visita Cruel do Tempo (Jennifer Egan, 2011). Eu nunca escrevi sobre meu livro favorito aqui no PCM, então tá aí uma oportunidade pro ano que vem. Esse vencedor do Pullitzer escrito por Jennifer Egan é um livro gigante, não em extensão, mas em dimensão. Em uma narrativa que vai e vém por quarenta anos, A Visita Cruel do Tempo explora várias formas de contar sua história central através de personagens diferentes. A figura central é Sasha, a assistente de um produtor musical que já foi famoso, mas saiu de moda. Nós acompanhamos a vida de Sasha por pessoas conectadas à sua vida de alguma forma. Do seu filho que faz apresentações de slides à madrasta dos filhos de seu chefe; do seu tio que a encontrou na Itália quando ela fugiu na adolescência até seu amigo, que morreu em um acidente. A Visita Cruel do Tempo consegue capturar esse momento passageiro que é sentir o tempo passar, com uma audácia e imaginação que ficaram na minha memória como registros do próprio tempo. É uma loucura de bom.

The Leftovers (HBO, 2014–2017). A sinopse oficial da series finale de The Leftovers é “Nada é respondido. Tudo é respondido. E então acaba”. Para uma série que se preocupava em enxergar as maiores perguntas possíveis (qual o sentido de tudo, o que há depois da morte, existe uma força maior?), essa é uma sinopse capaz de gerar grandes expectativas e muita decepção, algo que é comum para o criador da série, Damon Lindelof (de Lost e da adaptação de Watchmen para a HBO). Mas, quer saber? Ela é perfeita. Não só para a finale, mas para a série inteira. Em suas três temporadas, The Leftovers criou uma experiência em que o espectador não espera por nada porque não sabe o que esperar, e fica contente com aquilo que vier. Seria fácil seguir o caminho simples, entregar qualquer coisa que viesse à cabeça dos roteiristas e deixar assim, mas The Leftovers entrega tudo, inclusive respostas. E então acaba. Foi a experiência emocional mais forte que tive nesses dez anos, uma montanha russa entre a depressão, a euforia, a íntima felicidade e, finalmente, um certo tipo de paz. The Leftovers foi a série que perguntou as maiores perguntas possíveis, e me ensinou a não me apavorar com a falta de respostas, mas aceitar que a beleza da vida é correr atrás delas até o final.

Eu escrevi sobre The Leftovers em 2015, sobre a segunda temporada, e em 2017, sobre a última.

  1. Vou contar os dois jogos como um pois não consigo escolher o melhor entre eles