Posts marcados com Spike Jonze

Efeitos práticos são tudo de bom

O vídeo acima é de um anúncio de uma empresa japonesa de bebidas, e é mais um anúncio que vai pra minha coleção de vídeos que eu amo porque usam efeitos visuais práticos.

Eu gosto muito de vários usos de computação gráfica, e esse vídeo com certeza usa para compôr e remover alguns detalhes pontuais, mas a parte mais legal mesmo — os corredores maleáveis e tudo voando pelos ares, é 100% efeito prático. Eu amo a sensação que esse tipo de efeito visual passa. Se você quiser dar uma olhada em como tudo foi feito (inclusive no corredor de 85 metros criado especificamente pro anúncio), dê uma olhada nesse vídeo de bastidores.

Esse vídeo me fez lembrar do anúncio Welcome Home que o Spike Jonze dirigiu para o lançamento do HomePod da Apple. É um dos meus vídeos favoritos (e também tem um making off muito bacana):

Eu não quero entrar para a briga de efeitos práticos e efeitos em computação gráfica aqui (até porque eu acho que essa é uma briga com um vencedor já). Computação gráfica cria coisas além da nossa realidade, mas eu amo a fisicalidade que os efeitos práticos de Mad Max: Estrada da Fúria criam, tornando aquilo que não pode ser verdade em algo real e tangível:

E usa computação gráfica para finalizar, tirar cabos e equipamentos de segurança e compôr os planos gerais. Que filme perfeito.

A trilha sonora de Ela

Pra mim, cada mudança de computador é um evento. Eu faço tudo no meu computador, então sempre que eu preciso trocar de um computador por outro, eu preciso tomar cuidado. Eu demoro meses considerando, eu preparo a mudança com semanas de antecedência, e faço tudo com calma, pra não perder nada. É engraçado, mas eu tomo muito mais cuidado com as coisas que estão no meu computador do que as que estão no meu celular. Eu acabo apagando mensagens, fotos e aplicativos sem muita consideração. Mas eu sei a localização de cada arquivo no meu computador, eu conheço de cor as minhas configurações preferidas dos programas que eu uso para trabalhar ou para escrever.

Eu mudo de computador a cada cinco anos1, e é um processo que eu me dedico à fundo porque é o aparelho central do meu dia-a-dia, mas também porque eu tenho coisas no meu computador que eu tenho muito medo de perder. Eu acho isso um tanto mágico: o digital nos permite armazenar qualquer coisa em pouco espaço de um jeito milagroso, mas também completamente efêmero. Um comando descuidado e puf, você perdeu algo importante para sempre.

Uma das coisas mais importantes para mim nesses momentos é a trilha-sonora de Ela, que sobreviveu três transferências de computador já. É um dos objetos mais raros, vindos de uma internet pré-streaming, mas pós-torrent: um álbum nunca lançado do Arcade Fire, levado para a internet em links suspeitos, no formato de um bootleg. A promessa da banda é de que o lançamento oficial do disco viria pouco tempo depois do lançamento do filme, em 2013, mas isso acabou só acontecendo na última sexta-feira.

Agora eu posso recomendar a trilha-sonora de Ela sem precisar mandar um link para a pessoa baixar — o disco tá disponível no Spotify, no Apple Music e no YouTube. Ela também mais suscetível à efemeridade digital — ele também foi lançado em vinil e em fita cassete. Ela está salva na minha biblioteca do Music, mas também tá salva no HD do meu computador. E no meu HD externo. E no Dropbox que eu tenho só pra ela. Essa trilha-sonora é especial demais para eu ter a chance de perdê-la.

Eu considero a trilha-sonora de Ela a minha “música ambiente perfeita”. Eu não sei se ela faz parte do gênero musical ambiente (eu acho que não?), mas eu penso nela nesses termos porque ela é, muito provavelmente, o disco que eu mais ouvi na minha vida. Eu escuto suas músicas quando estou triste, e quero me sentir menos sozinho na minha melancolia. Mas eu também gosto de ouvir quando estou feliz, porque suas notas são doces e sensíveis, e cada segundo em que elas me acompanham se torna um momento um pouquinho mais bonito, um pouquinho mais inesquecível. São músicas boas para trabalhar, porque suas notas são espaçadas na medida certa; e também são boas para relaxar e aproveitar o momento, porque elas parecem cercar ele com seus toques de piano.

Meu momento mais perfeito ouvindo esse disco foi em 2014. Eu me lembro como se fosse ontem. Naquele verão eu morava muito perto do trabalho — eu podia ir a pé até ele em menos de cinco minutos. Eu gostava de acordar bem cedo para poder ficar caminhando um pouco antes de chegar no escritório. Eu gostava de ir pelo meio da Santa Casa, porque no meio dela tem um café que eu gostava de pegar meu café com leite. Era uma manhã cinzenta e fria, logo depois de uma noite chuvosa. Eu caminhei pela Santa Casa ao som de Morning Talk. Ela começa lenta e triste e eu não lembro o porquê, mas eu tava meio triste também.

Eu tirei os fones de ouvido para pedir o meu café e agradecer a atendente, e quando coloquei eles de volta a música estava entrando em Supersymmetry, sua parte mais agitada e mais mágica. A música parecia guiar a movimentação da rua: os carros começavam a andar mais depressa, mais pessoas pareciam sair e andar na rua. O dia tava começando. Graças a esse momento, e à essa música, o meu estava começando um pouquinho melhor.

  1. Eu parei pra pensar sobre isso agora a pouco no banho e me deparei com esse padrão inesperado. Eu ganhei primeiro computador (um desktop Positivo) em 2005; depois substituí ele por um MacBook Pro em 2010, e por outro MacBook Pro em 2015. Em dezembro de 2020 eu troquei por um Mac mini. É uma periodicidade que eu nunca fiz questão de manter, mas eu começo a “sentir” meus computadores engasgando a cada cinco anos. 

Arcade Fire e Owen Pallett anunciam o lançamento da trilha-sonora de Ela

Luva, vinil e fita-cassete da trilha-sonora do filme Ela Detalhes da luva e vinil da trilha-sonora do filme Ela

Eu recebi tantas boas notícias na sexta-feira que eu ainda tô pondo elas em dia. Uma das que mais me deixou feliz foi o email do Arcade Fire anunciando o lançamento da trilha-sonora de Ela, o premiado filme de Spike Jonze lançado em 2013, e um dos meus filmes favoritos de todos.

A trilha de Ela existe na forma de um bootleg que vazou na internet na época em que o filme foi indicado ao Oscar de melhor trilha-sonora em 2014, e desde então ele vive protegido em meu computador. Eu troquei de computador duas vezes desde 2014, e em todas as vezes esse bootleg é uma das coisas que eu mais tomo cuidado para passar da máquina antiga para a nova. É um dos meus bens digitais mais preciosos: uma música etérea, que mistura um pouco de melancolia, saudade e felicidade com sintetizadores delicados e um piano profundo. Ele geralmente é a trilha-sonora das minhas melhores manhãs.

Embora o Arcade Fire tenha anunciado que ia trabalhar em um lançamento da trilha lá em 2014, isso não se materializou até agora. Sexta-feira, o anúncio veio do nada e foi uma surpresa tão boa que eu passei o dia procurando formas de encomendar o vinil. Eu ainda não consegui, mas vou na primeira oportunidade. A trilha também vai ser lançada em fita cassete, nas lojas de música digitais, e nos serviços de streaming como Spotify e Apple Music dia 19 de março.

Parando pra pensar agora, a trilha-sonora de Ela é como o ápice de tudo o que eu gosto. É composto pela minha banda favorita e acompanha um filme que eu amo tanto (e que, se você acompanha esse blog há tempos, provavelmente sabe que eu não consigo parar de falar sobre), dirigido por um dos meus diretores favoritos. Eu tô tão feliz que ela finalmente vai ser lançada mês que vem, mal dá pra acreditar que esse dia vai chegar.