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Nintendo anuncia Game Builder Garage

Game Builder Garage é um jogo/aplicativo para o Nintendo Switch que permite que as pessoas criem jogos usando uma interface gráfica amigável, como o Scratch ou o Kodu Game Lab da Microsoft. O usuário vai ligar blocos que podem ser objetos ou ações à blocos de interação, permitindo criar comportamentos e cenários.

Pelo trailer, Game Builder Garage é bastante inspirado no Labo Garage e no Dojô do Yamamura em Super Mario Maker 2, e aposta no grande forte da Nintendo: seu conhecimento inigualável dos fundamentos do game design. De longe as melhores aulas de design de níveis que eu tive foram através do Yamamura no SMM2, com lições com foco em cada elemento que um nível de jogos do Mario podem apresentar. Game Builder Garage parece uma versão extendida e mais poderosa desse modo de jogo e tô bem interessado no que ele pode oferecer. Me lembrou de quando a Nintendo lançava aplicativos como leitor de livros e bloco de anotações para o DS e o 3DS, sempre com um diferencial bacana. Parece que o Switch tá tomando esse mesmo caminho.

Eu tô amando The Last Campfire

Eu passei esse fim de semana jogando The Last Campfire, que foi lançado no último dia 27 no Apple Arcade (e no PC, no Switch, no Xbox e no PS4). É o meu novo jogo favorito do serviço de assinatura de jogos da Apple, e eu tô considerando comprar ele no Switch pra poder jogar na TV.

The Last Campfire é o novo jogo da Hello Games, o pequeno estúdio que fez No Man’s Sky, um dos jogos mais ousados e fascinantes da última década. O lançamento de No Man’s Sky foi meio complicado — as pessoas descobriram que explorar o espaço levava muito tempo e era raro encontrar planetas com vida orgânica (surpresa!?) —, e a Hello Games passou os últimos quatro anos fazendo grandes pacotes de atualização pro jogo, adicionando multiplayer, estações espaciais, e aliens.

O novo jogo dessa équipe é bem menor. É do mesmo designer de um dos meus jogos favoritos do Wii, LostWinds, e compartilha muito do mesmo DNA. Ao invés de ser um plataforma, The Last Campfire é um jogo de aventura onde o jogador controla Brasa, um serzinho encapuzado que se separou de outros coleguinhas e precisa atravessar umas ruínas pra reencontrá-los. Nessas ruínas, Brasa descobre que outros encapuzadinhos como ele morreram com o mesmo objetivo. Para Brasa conseguir sair desse lugar misterioso é preciso reunir essas almas e levá-las até à fogueira que dá título ao jogo, onde um espírito levará os encapuzadinhos para o Além.

The Last Campfire é um jogo econômico. Ele não é muito longo e sua estrutura é simples: você atravessa as ruínas misteriosas em busca dos vestígios dos encapuzadinhos. Você precisa mover um sapo de lugar para conseguir uma chave, que vai liberar uma área onde está um desses encapuzadinhos. Quando você o encontra, o jogo abre uma espécie de “dungeon” (como as de Zelda), onde você precisa resolver um quebra-cabeça para reconectar o corpo do encapuzado à sua alma. As vezes você move pedras para conseguir alcançar a alma, outras vezes você precisa pisar nos lugares certos na sequência correta.

Conforme você vai solucionando os quebra-cabeças da “dungeon interna”, você vai descobrindo como o serzinho perdeu sua alma. E esse é um dos traços onde The Last Campfire mais remete à LostWinds: embora seja econômico, o jogo consegue criar uma história e um lugar com muita eficácia. LostWinds criava uma sensação de que o vilarejo do Deus do Vento (onde a história começava) era um lugar repleto de história e de tradição.

The Last Campfire é muito mais íntimo, as histórias que você vai descobrindo são de criaturas com medo e se sentindo sozinhas ou com fome, e conforme você vai as reunindo perto da fogueira o jogo consegue criar uma sensação de comunidade muito bonito. Aos poucos, as ruínas não parecem mais tão sombrias e vazias, a chama da fogueira vai crescendo e mais encapuzadinhos se sentam ao redor dela.

É na “textura“ dos comandos que The Last Campfire brilha. LostWinds era um dos jogos que realmente entendia as possibilidades do Wii Remote, e The Last Campfire faz algo muito semelhante com a tela de toque do iPhone e do iPad: os controles não são só precisos, mas eles criam uma ilusão de peso que é rara até mesmo nos outros jogos do Arcade, que tentam criar esquemas de controle semelhantes à joysticks, o que causava uma estranheza. Como Monument Valley e Assemble With Care, o time da Hello Games usa a tela do celular como uma tela em branco onde você é o pintor: uma passada de dedo muito rápida oferece um toque ágil mas fraco, fazendo Brasa correr; um giro firme com o dedo aplica força, o que é útil para mover manivelas ou empurrar caixas. Sabendo do cuidado desse time com seus jogos anteriores, eu suspeito que os comandos traduzam muito bem para mouse/teclado e controles de videogame também.

É um jogo perfeito para sessões curtas por causa da sua estrutura, e também oferece uma ótima experiência se você quer sentar e enfrentá-lo em uma sessão: não existem cronômetros nem urgência nas suas missões, e o cuidado visual e sonoro do jogo nunca faz a experiência ser maçante ou estressante — você não precisa correr com nada, porque o jogo pede sua paciência. The Last Campfire é bem delicado. Ele retribui sua dedicação e sua atenção, tanto nos quebra-cabeças quanto nas histórias que eles têm pra contar.