As minhas séries favoritas do ano passado decidiram voltar juntas nesse mês, aparentemente. E eu não vou reclamar. A segunda temporada da charmosa Central Park tá aí, e a série volta nessa sexta-feira, dia 25, na Apple.
Eu comentei sobre Central Park ano passado, e como eu tava triste que essa comédia tava presa em um serviço de streaming que ninguém ia assinar. Ano passado eu achava Central Park (e, em menor medida, For All Mankind) a única série que valia a pena assistir no serviço, mas nesse último ano entre as temporadas a Apple TV trouxe Ted Lasso, Snoopy e sua Turma, Wolfwalkers, a maravilhosa segunda temporada de For All Mankind, e uns documentários maravilhosos, como Boys State e O Ano em que a Terra Mudou.
Eu ainda não tenho certeza que a Apple TV “vale a pena”, mas eu acho que se a qualidade desse último ano se manter por mais um ano eu não duvido que a gente vai parar de comparar a Apple TV como um Netflix com menos conteúdo e começar a comparar ela com a própria HBO, e daí sim não vai ter como fugir de assistir essas séries. A qualidade tá lá em cima.
Ted Lasso e Betty foram o milagre da TV ano passado. A segunda temporada de Betty já está passando na HBO (e tá melhor ainda), e a de Ted Lasso estreia em 23 de julho, eu mal posso esperar.
Na TV, comédia pode ser filmada de algumas maneiras. As duas mais comuns são os chamados setup de multiplas câmeras (multi-cam setup) e o setup de câmera única (single cam setup). Você provavelmente já viu séries que usam cada uma dessas abordagens, e provavelmente sabe dizer qual é qual instintivamente: as chamadas “sitcom” são geralmente gravadas com várias câmeras em frente à uma platéia. É o caso de Friends e The Big Bang Theory, por exemplo. Já comédias como Fleabag e Ted Lasso são gravadas com uma câmera só, de uma forma mais parecida com um filme.
Nesse texto para o AV Club, Saloni Gajjar comenta como a montagem de Ted Lasso traduz bem a sensação de colaboração do futebol, e das amizades, e como ele cria uma série tão boa de sentir com isso:
Look no further than the first meeting between Ted, Coach Beard, and kit-man Nathan (Nick Mohammed) in the pilot. When Ted and his fellow coach ask the latter for his name, he’s surprised; no one ever asks. Instead of immediately giving an answer, there’s a pause as the camera cuts back and forth between their faces, setting the comedic tone and letting Nathan’s confusion linger (and Mohammed’s performance shine). The joke continues when Ted and Coach Beard see Nathan again and remember his name, and the scene cuts to another look of happy surprise on the kit-man’s face. The Ted Lasso editors build on a similar momentum for every character and running gag. One of the show’s biggest secondary arcs is Roy and Keeley’s romance, and the editors prime us to root for them early on by focusing on their longing gazes, flirtatious parking lot conversations, and when Roy finally asks Keeley out in episode eight (“The Diamond Dogs”).
McCoy and Catoline’s intercuts from the field, to the coaches, to the viewers in the stands and those watching the game at home present the matches in an appealing way to fans as well as viewers not particularly interested in soccer. In the establishing shot of the premiere with the AFC Richmond team practicing on the field, the duo combines close-ups of legs and passes with slow-motion scenes and pans out to catch all the gameplay. These jump-cuts, especially in the finale, generate the necessary energy for high-stakes storytelling. This is true of non-game scenes as well. Two of the show’s most memorable moments—the team celebrating its win by going to a karaoke club in “Make Rebecca Great Again,” and Ted’s game of darts with Rebecca’s ex-husband, Rupert (Anthony Head), in “The Diamond Dogs”—speak to McCoy and Catoline’s remarkable ability to follow the script’s character developments and the actors’ work with their cuts.
Ai, ai. Ted Lasso é muito boa. A nova temporada estreia no mês que vem, e eu mal posso esperar.
Eu queria tanto poder recomendar Central Park pra todo o mundo que tá precisando de uma série carinhosa sobre uma família que se ama mesmo quando não se entendem. É uma comédia musical em desenho animado, dos mesmos criadores de Bob’s Burgers, e o humor carismático e coração grande são traços em comum nas duas séries.
Central Park ainda não tem os personagens bem formados de Bob’s Burgers, mas acho que isso é comum em toda a primeira temporada de uma comédia, já que o humor e o desenvolvimento dependem muito dos roteiristas e da audiência entender intimamente os personagens pra resultar em comédia. Mas Central Park tem picos muito altos, e não é só porque é um musical. A série é sobre uma família que mora no Central Park de Nova York, onde o pai trabalha como administrador, e os episódios são geralmente sobre pequenos eventos nos seus dias. A mãe é uma jornalista querendo ser levada a sério em um folhetim que ninguém se importa, a filha tá tentando entender seus sentimentos em relação à um garoto; e o caçula está apaixonado por um cachorro. Tem uma trama de uma ricaça querendo comprar o Central Park pra transformar em um “investimento imobiliário”, mas isso quase que não importa — Central Park tá mais preocupada no dia-a-dia dos personagens.
E é um charme, os números musicais não se focam nos grandes eventos da vida da família, mas nos pequenos eventos do cotidiano. É uma crítica recorrente à série, de que não existe material o suficiente pra criar números musicais entre os personagens, mas eu abracei isso mais como uma subversão de uma família nada excepcional tentando levar o seu dia a dia entre si com mais carinho do que desavença. Nem sempre eles conseguem, mas o que importa é o quanto eles tentam. Eu acho que isso só realça a carta de amor da série ao parque do título, porque destaca como esses pequenos momentos que realmente importam na vida da família se passam entre os bancos e as árvores do parque, e como eles são sortudos de viverem em um lugar como o Central Park. Esse é um lugar especial pra eles e quando a ricaça ameaça destruir ele, vira uma ameaça ao afeto da famíla entre si.
Só que é um saco que essa série esteja no Apple TV+. Ninguém assina o Apple TV+. Eu só assisto porque ganhei um ano de graça no serviço, e das outras séries que eu vi por lá até agora nenhuma me chama a atenção o suficiente pra recomendar que alguém pague por mais um serviço de streaming só por essa animação, então eu recomendaria esperar a primeira temporada acabar, no fim do mês, pra você aproveitar o período de teste grátis e assistir tudo. A série também tá naquele Popcorn Time, inclusive.