Uma Criatura Gentil

Terminei Uma Criatura Gentil do Dostoiévski hoje de manhã. Caramba, como eu senti raiva quando comecei a ler essa novela porque era incrível como o autor consegue desenvolver o mundo do narrador, a personalidade do narrador e a impressão que o narrador tem do mundo que o carca com tanta facilidade. É tão natural e flui tão bem a leitura (eu leio bem devagar) que as vezes eu esquecia completamente como o escritor delimita formalmente a história que ele tá contando.

Minhas reações sobre o livro amadureceram conforme eu ia progredindo (ainda bem), porque Uma Criatura Gentil tá sempre mudando, mesmo que a forma se mantenha a mesma. Primeiro eu fiquei meio 😕 pelo livro ser sobre o marido de uma mulher que se matou. Depois eu fiquei meio 🤔 porque o livro era sobre as impressões do marido sobre a sua esposa, que cometeu suicídio. E acabou comigo bem 😲 porque é um belo retrato de um ser humano desprezível a ponto de ser completamente cego perante a pessoa que vivia junto com ele por todo aquele tempo, tão intoxicado dentro de si mesmo e da sua própria honra que acabou não percebendo a doença da esposa até ser tarde demais. No fim, o livro só confirma todas as impressões que o narrador tenta evitar que tu tenha com aquelas explicações egocêntricas.

Que baita livro, esse. Minha próxima leitura acho que vai ser… não sei. Preciso de uma sugestão.

Problema de nostalgia

Eu ainda não considero Super Mario Odyssey um grande jogo como Super Mario Galaxy é, mas se tem uma coisa que esse remake de Crash Bandicoot me fez foi apreciar mais o novo jogo do Mario.

Era pura nostalgia a lembrança que eu tinha de que Crash era divertido? Plataformas mal desenhadas, inimigos toscos e uma mecânica de controle que simplesmente me faz ficar revirando os olhos. Eu comecei a jogar Odyssey novamente porque eu precisava tirar o mal gosto do gênero da boca e, por mais que eu ache o conceito desse novo Mario mal explorado, ele pelo menos é feito com perfeição.

Um dos meus momentos favoritos de Kentucky Route Zero

Eu acordei hoje lembrando de um dos meus momentos favoritos de Kentucky Route Zero (dos vários):

A gente (Conway, Shannon, Ezra, Junebug e Jonnie) tá observando aquilo que sobrou de uma criação que parecia fantástica: o fantasma do alvorecer da Era da Informação que nos prometia finalmente se desapegar da ideia que ter algo é ter dinheiro, que agora a promessa é que a informação seria livre e que estaríamos finalmente livres das amarras do dinheiro.

É uma linda ruína: uma pilha de computadores pega fogo para iluminar uma caverna. A gente lembra que não temos mais um lar.

O jogo nos dá então uma única opção pra prosseguir:

Nothing to be done.

Como todos os bons momentos de Kentucky Route Zero, esse pequeno instante nos permite se deparar com a promessa de um mundo melhor, algo que parecia ter chegado bem perto — e então ele nos lembra que temos que seguir em frente.

O trailer de Godzilla 2 é fantástico

Ontem eu assisti o trailer de Godzilla: King of the Monsters, a continuação do filme de 2014 que eu nunca assisti.

Esse trailer não sai da minha cabeça. Eu não sei se é o Clair de Lune que eles usaram (muito) bem, mas eles capturam aí justamente o que é fantástico em Jurassic Park e que ninguém encontrou desde então: aquele sentimento de fascínio de ver esses monstros gigantes com seus próprios olhos. Aquele plano do monstro abrindo as asas e brilhando é uma das coisas mais empolgantes que eu já vi.

Os Últimos Jedi de Harry Potter

Ontem de noite eu não tinha muita coisa pra pensar (ou melhor, eu devia estar pensando num post que eu tô escrevendo mas não tava conseguindo evoluir) e fiquei fazendo equivalentes entre Star Wars e Harry Potter.

Se a gente for parar pra pensar a atual franquia de Harry Potter, essa ridícula Animais Fantásticos & Onde Habitam sofre de vários problemas que acometeram a trilogia de prequels de Star Wars. Há uma tentativa muito errada de “conectar” as várias histórias que na série original nos davam aquela impressão de que esse era um mundo extenso e muito além da história do Potter, fazendo todas as histórias do passado que a gente ouvia serem muito mais próximas uma das outras, com umas conexões meio bobas. Também tem o uso de personagens que são só citados, e como eles geralmente são muito menos interessantes do que as histórias que nós imaginávamos deles. Tem uma troca de cenário (Estados Unidos não é nem um pouco tão interessante quanto a Inglaterra mágica). E tem uma autora tão afundada na própria cabeça que não consegue ver que ela está minando tudo o que havia de mais lindo na série — e assim excluindo uma parte de seus leitores no caminho.

Eu sou daqueles que acha que Os Últimos Jedi talvez seja o melhor Star Wars já feito, muito porque desvirtua tudo o que a série fazia até ali e realmente expande aquela galáxia, tornando ela muito maior e mais imprevisível do que todos os outros filmes antes fizeram (ok, talvez O Império Contra-Ataca tenha feito isso). É um novo fôlego pra uma fórmula batida, e se a Warner decidir dar novas mentes pra uma possível terceira série de filmes nesse mundo do Harry Potter, pode ser pra melhor. Eu mal posso esperar um Os Últimos Jedi no mundo de Harry Potter.

Os filmes de Cannes que eu quero ver, edição 2018

Todo ano eu fico meio assim com Cannes, porque lendo a lista dos selecionados nada parece muito empolgante. “Ah, um novo do Von Trier! Quanto será que ele vai me irritar agora?” foi a reação mais forte que eu tive ao conferir a lista no início do mês. Agora que o festival acabou, que o Notebook já viu de tudo e postou notas sobre eles, eu começo a ficar interessado nas coisas tudo e preciso correr atrás.

Pra me organizar e acompanhar esses filmes, aí vai a lista do que eu quero ver de Cannes esse ano:

Competição:

  • Everybody Knows: o novo do Asghar Farhadi com Pelenope Cruz. Abriu o festival com críticas mornas, mas eu não consigo não me empolgar pra um novo do Farhadi. Ou da Penelope Cruz. Parece uma delícia de assistir.

  • O Livro de Imagens: eu lembro quando fiquei sabendo que Filme Socialismo tinha sido selecionado pro Un Certain Regard e tinha me deixado completamente fascinado pelo trailer. Eu vi o filme com o João no laptop no meio de uma aula de programação. Mal posso esperar pra ver esse (que levou uma Palma especial???).

  • Sorry Angel: eu só li sobre esse filme hoje, mas é um conto gay do Cristophe Honoré que não fez muito barulho. Exatamente o meu tipo de filme.

  • Shoplifters: assistir o vencedor da Palma é sempre obrigatório. Esse ano que parece que eles finalmente deram a Palma pro merecedor (algo que não acontecia desde o quê, 2011?), finalmente é empolgante. Kore-eda é lindo sempre, vamo ver esse aqui.

  • Under the Silver Lake: foi bem mal recebido mas eu gosto muito do It Follows então ok.

  • BlacKkKlansman: puta merda se esse filme não parece tudo o que eu sempre quis ver do Spike Lee e que ele chegou muito perto com Chi-Raq.

  • Guerra Fria: o novo filme do diretor de Ida parece lindo e muito triste, bem o que eu gosto mais em Ida.

  • 3 Faces: Panahi homenageando Kiarostami? Muito minha cara.

  • Feliz como Lazzaro: o mais intrigante da competição e que parece lindo. Vai ser lançado por aqui pela Netflix e eu tô triste.

  • The Wild Pear Tree: o novo do Ceilan (que ganhou a Palma em 2015) fechou a competição e não fez muito barulho. Mas tem quase três horas e todo filme dele é como assistir uma homilia. Lindo, misterioso e que fica na tua cabeça por algum motivo indefinido.

Fora de competição e exibições especiais:

  • A Casa que Jack Construiu: eu não tenho interesse nenhum em um filme que o Von Trier parece embelezar sua própria misoginia, mas ao menos isso vai dar uma boa sessão + cerveja com o Erê.

  • O Grande Circo Místico: do Carlos Diegues. Parece lindo.

  • Dez Anos na Tailândia: novo do Joe & amigos, caralho.

  • Fahrenheit 451: vai vir pro HBO, é claro que eu vou ver.

Un Certain Regard:

  • Long Day’s Journey Into Night.

  • Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos: levou o prêmio do júri e foi o queridinho da crítica esse ano. Que orgulho.

  • Dunbass: o novo do Loznitsa (eu ainda quero assistir o Uma Criatura Gentil dele, esquecido na competição do ano passado) é simplesmente o filme que eu mais quero ver de Cannes esse ano.

Semana da Crítica:

  • Wildlife: esse filme do Paul Dano parece bom demais pra ser verdade.

Quinzena dos Realizadores:

  • Pássaros de Passagem: novo filme da equipe de O Abraço da Serpente, um dos meus filmez favoritos dos últimos anos. Um drama familiar no meio do conflito do narcotráfico colombiano. Parece lindo.

  • Climax: o novo do Gaspar Noé que tão dizendo ser o melhor dele!!!!

Bastante coisa esse ano. Queria ter visto um James Gray ou uma Claire Denis nessa lista também, mas ainda tem Veneza, né.