Group Listening — “Walks”

Eu não sei como eu descobri Group Listening. É um duo que faz músicas ambiente, mas eu não lembro se me recomendaram ou se eu acabei descobrindo enquanto procurava músicas para trabalhar de manhã.

Enfim, o novo trabalho do Group Listening é “Walks”. Faz jus ao nome: é uma trilha sonora perfeita para caminhadas.

Nesses últimos anos, principalmente desde que comecei a morar sozinho, caminhar se tornou a minha atividade favorita. Mais que ler ou ver filmes, caminhar é algo imprescindível pra mim. Eu preciso colocar os pés no chão e simplesmente caminhar. Parte disso é por que eu trabalho em casa e, se eu deixar, eu não saio do meu apartamento nem vejo ninguém por dias a fio. Quando eu comecei a enlouquecer com isso, eu comecei a caminhar. Eu saía na rua e caminhava para qualquer lugar que me levasse. As vezes eu ia para a Casa de Cultura ou pra Redenção. Geralmente, eu só caminhava.

Eu continuo fazendo isso — no fim do meu turno de trabalho, eu coloco os meus tênis e saio. Eu tento caminhar duas horas por dia, todos os dias. Alguns amigos falam que é muito, e que vai me fazer mal (na verdade, eu desenvolvi uma hérnia por causa disso).

Mas caminhar é uma necessidade básica pra mim. Eu preciso sentir o vento, e ouvir o movimento do mundo ao redor. E essas duas impressões são capturadas muito bem em “Walks”: nem todos os instrumentos que Group Listening usa nas faixas são claros de ouvir, e é algo especialmente bonito. Parece muito com aquele momento no fim do dia que a cidade está voltando para casa, mas ainda tem bastante movimento na rua: você ouve muito mais o som do trânsito, mas lá longe você ouve o ruído das pessoas nas suas casas também. As vezes vem um cheiro — uma janta sendo preparada, um banho sendo tomado.

“Walks” captura essa sensação que é muito especial pra mim — e o melhor, não só no mato. Embora eles usem sons da natureza em algumas faixas, “Walks” também oferece músicas para caminhadas nas cidades, e até mesmo em shoppings. São sons mais eletrônicos, como esperado, mas não são intensos. É uma variedade importante: caminhar não é uma constante, existem momentos que você tem mais impulso e outros que tanto seu corpo quanto seus arredores pedem para você ir mais devagar, para sentir o contrapasso do seu pé no solo e do solo no seu pé. Tá aí um disco que captura bem esse momentinho em meio a tudo o que acontece ao redor.