Eu me apaixonei por colunas de conselhos

Eu acabei abraçando vários costumes nesse último ano de pandemia e isolamento social. Algumas, como a pizza de sexta-feira, eu mantenho até hoje. Outras, com ler depois do almoço, acabaram alguns meses depois de eu ter começado. Eu acho eles bons definidores do tempo que tá passando durante a pandemia: eu lembro da “época em que eu via filmes nas terças-feiras”, algo que aconteceu entre abril e maio de 2020. Parece muito tempo, mas foi ano passado.

O mais novo costume que eu abracei nesses últimos meses foi ler colunas de conselhos. Eu nem sabia que isso tinha conseguido sobreviver na internet. Eu lembro que colunas de conselhos existiam em revistas de saúde e estilo de vida (geralmente mais voltados ao público feminino), e nunca dei muita bola antes porque eu era jovem e ninguém tem problemas maiores do que um jovem de 11 anos, etc.

Mas colunas de conselhos são muito boas de se ler. Elas têm basicamente duas partes: a primeira é descrição do problema que a pessoa enviou para o colunista, escrita por quem eu imagino que já tenha bastante experiência lendo essas colunas e sabe que é preciso oferecer os detalhes certos para seu correspondente conseguir aconselhar com sucesso, além de um pouquinho de desespero, o que ajuda a deixar o problema mais profundo; a segunda é o conselho em si, em que uma pessoa muito mais mentalmente saudável do que eu responde a coisa certa, dando dicas de como desfazer o emaranhado causado pelo problema.

Tem algo a mais também: eu tenho a impressão de que histórias acontecem com as pessoas que as contam, e em um último ano em que eu tinha a impressão de que nada estava acontecendo comigo, eu comecei a perceber como os pequenos e os grandes problemas do nosso dia-a-dia também são histórias que podem ser boas para serem contadas, já que eu não tenho mais uma viagem ou algo que aconteceu no fim de semana pra contar para os meus amigos. Teve um momento ali pelo meio do ano em que eu achava realmente difícil de enviar um “oi, tudo bem?” para as pessoas que eu me importo, porque eu sentia que nem eu e nem elas tínhamos o que responder.

Acho que essas colunas de conselhos me ajudaram muito nisso. Primeiro eu comecei a usar algum pequeno problema do meu dia-a-dia (geralmente um que tem um final engraçado) pra puxar assunto com meus amigos e não deixá-los se sentindo muito sozinhos. Eu geralmente recebia uma anedota sobre um outro problema como resposta, e assim a gente vai se ajudando. Eu vou deixar o meu “tudo bem?” para quando eu puder ver meus amigos e abraçá-los enquanto eles respondem porque, se não estiver, pelo menos eu vou estar ali pra ajudar.

Colunas de conselhos são tão grandes na internet que existem subreddits só disso, portais que fazem um apanhado dos melhores conselhos da semana, e colunas de colunas de conselhos. Se você quer dar uma chance, minhas duas colunas favoritas são Ask the Fuck-up, da Jezebel (que inclusive foi um dos meus links favoritos do ano passado) e Dear Prudence, do Slate. As duas têm ótimos problemas e ótimas respostas, e as duas autoras não poupam tempo nem tamanho na hora de explicar sua linha de raciocínio. Um dia eu quero ter a saúde mental delas.