Meu lançamento favorito esse ano não foi um jogo em si, mas um serviço. O Apple Arcade é um plano de assinatura de jogos da Apple para o Mac, iOS e tvOS que chegou prometendo bem pouco — um punhado de jogos, sem microtransações e anúncios, por R$ 9,90. Diferente de outro serviço de assinatura de jogos por aí, porém, o Arcade entregou todas as suas poucas promessas com um grande truque na manga: a maioria dos jogos do serviço são muito bons, e funcionam.
Quando a App Store do iPhone abriu as portas na década passada, os primeiros jogos eram estranhos — alguns eram uma tentativa de criar experiências que deram certo no GBA em um panorama de controles totalmente diferente. Poucos jogos eram realmente bons, mas muitos eram muito interessantes, e tentavam usar o que fazia o iPhone ser único ao seu favor. De Dots a Threes a Monument Valley, eles tentavam explorar a tela de toque do iPhone, e no processo criaram uma ótima plataforma de jogos onde, com o passar dos anos, foi otimizada não para expandir aquilo que eles se aventuraram a fazer, mas para criar mais maneiras de pegar uns trocados através de microtransações e “recompensas diárias”.
O Apple Arcade proporciona um espaço para experimentação e excelência em jogos de celular, mais uma vez. Não é permitido ter anúncios ou loot boxes ou nenhum tipo de transação financeira nos jogos do serviço, então os jogos no Arcade possuem experiências sem interrupções ou “tempos de carregamento” onde você precisa esperar seis horas pra poder jogar novamente (ou pagar R$ 0,99 centavos para pular esse tempo). Sem precisar competir pelos centavos dos jogadores, esses jogos podem ir mais longe. Fazia tempo que os jogos para celulares não eram tão empolgantes.
Como todos os catálogos por aí, o Arcade tem alguns pontos mais altos do que outros, mas a média dos jogos (hoje já são mais de cem) no Arcade é realmente surpreendente. Por isso, aí vão os dez melhores jogos disponíveis hoje por lá (em ordem alfabética), para você que está afim de começar a explorar um catálogo empolgante de jogos.
Assemble With Care (ustwo Games)
Dos mesmos desenvolvedores de Monument Valley, meu jogo favorito no iPhone, Assemble With Care é um jogo de reparos. Você joga como Maria, uma restauradora. Seu trabalho é desmontar, arrumar, e montar de novo. Maria acaba conhecendo um pouco seus clientes através de seus objetos e o que eles significam para essas pessoas — porque é importante para eles consertar esses objetos, e não comprar um substituto —, enquanto revela um pouco sobre a vida da personagem. Como Monument Valley, Assemble With Care dá valor a cada toque que o jogador dá na tela do celular (ou trackpade se você jogar no Mac), respondendo a cada uma das suas ações com precisão e cuidado. É um lindo jogo, perfeito para você jogar no ônibus (cada reparo demora alguns minutos, e vem acompanhado com bonitas histórias sobre esses objetos), um pouco a cada dia.
Bleak Sword (more8bit)
É difícil de transportar jogos de ação para os celulares porque o toque em uma tela não é necessariamente o jeito mais preciso de controlar a ação de um personagem. Mas Bleak Sword encontrou uma forma perfeita — e em dobro, já que você pode optar por jogar ele com uma ou duas mãos. É um jogo de combate bem sangrento otimizado para a tela de toque (mas que é ótimo de jogar com um controle também, se você tiver) com gráficos marcantes em 8-bit. É meio empacado nas mecânicas de progressão em níveis que jogos de RPG têm, mas os melhores momentos de Bleak Sword são quase inigualáveis na tela de um celular. O combate é bom, e é intenso, e é recompensador.
INMOST (Hidden Layer)
Eu não me senti bem jogando INMOST. É um jogo de plataforma sombrio que lida com a tristeza, a morte e a depressão de forma bem direta. Mas o jogo compensa seus temas ao traduzi-los de forma tão bela no visual — um misto de jogo do SNES com um filme de terror da década de 60. É tão bonito que eu acho que é um jogo que vale a pena jogar no computador (ou na Apple TV, se você e uma das onze pessoas no planeta que tem aquela coisa). (Disponível no Nintendo Switch em breve).
Manifold Garden (William Chyr)
Desenvolvido por sete anos, Manifold Garden é descrito pelo seu desenvolvedor como uma jornada pela história das grandes descobertas da física. É bem ambicioso ele descrever seu jogo de quebra-cabeças gravitacionais assim, mas Manifold Garden é uma obra prima. É lindo de se ver, claro, mas seus controles baseados na gravidade do espaço que você está vendo na tela são impressionantes, e manipulam a maneira como você imagina que está vendo algo. (Também disponível para Windows e PlayStation 4).
Neo Cab (Fellow Traveller)
Esse pequeno jogo narrativo coloca você na pele de Nina, uma motorista de aplicativo que precisa se sair bem nas corridas com seus clientes enquanto precisa lidar com um sério problema pessoal. A jogabilidade de Neo Cab não é nada inovadora (é um jogo de escolhas de diálogo, afinal de contas), mas jogar um jogo com essa abordagem no celular têm um efeito particularmente eficaz aqui. Neo Cab termina quase que uma pequena tragédia dos tempos modernos. (Também disponível no Nintendo Switch).
Over the Alps (Stave Studios)
Eu amo jogos de “escolha sua própria aventura”, e fiquei muito feliz em descobrir que o Arcade tinha um novo jogo desses esperando por mim. Over the Alps é bem clássico: cheio de mistérios e traições e reviravoltas, e isso não é nada de novo no gênero. Só que ele faz isso tudo tão bem, e é tão bonito, e se adapta tão bem à versatilidade exigida pelos jogos no Arcade — onde você pode encerrar a jogatina a qualquer hora porque algo mais importante está acontecendo ao seu redor — que me ganhou de jeito. Ambientado na Suíça dos anos 1930, o jogo possui um valor de produção tão alto que só torna a história, já batida mas muito bem contada, em algo ainda mais bacana de experimentar.
Sayonara Wild Hearts (Simogo, Annapurna Interactive)
Provavelmente o grande jogo do lançamento do Arcade, Sayonara Wild Hears é brilhante. É um jogo de ritmo e corrida, dividido em várias faixas sobre corações partidos e amores terminados. Cada música apresenta uma nova mecânica e novos desafios, e o jogo faz o resto para tornar a experiência de você aperfeiçoar essas mecânicas em um momento único na sua jogatina. Sayonara explode em cor, em ritmo e em ação, e é um dos melhores jogos que eu joguei nesse ano. (Também disponível no PlayStation 4 e no Nintendo Switch).
Skate City (Agens)
Skate City é um jogo de simulação de skate bem simples e bem prático, com poucos controles que fazem, cada um, uma manobra diferente. Mas a simplicidade do jogo traduz muito bem em uma experiência gostosa. Você travessa as ruas de Barcelona e Los Angeles em cima de um skate enquanto decide se quer pular num corrimão ou tentar enfrentar uma escada. Você ganha pontos se acerta, ou volta um pouco para tentar de novo se erra. Não há troféus nem competições nem nada do gênero. É só uns minutos tranquilos em cima do skate por paisagens lindas. As vezes é só o que você precisa pra terminar seu dia.
Stela (SkyBox Labs)
Esse jogo de plataforma é lindo. Caramba, é lindo demais Você é Stela, que atravessa um mundo pós-apocalíptico cheio de luzes e sombras e é provavelmente a última pessoa viva. Me lembrou muito o INSIDE da Playdead, e não só pelos visuais. Tudo em Stela quer a sua morte, e você vai morrer muito até conseguir acertar um pulo ou descobrir como superar um obstáculo. Mas é sempre recompensador quando você finalmente consegue seguir em frente. Como Limbo e INSIDE, é um jogo que valoriza sua tentativa e erro apresentando uma história forte e bela, que vale a pena a frustração de perder e tentar novamente porque você acaba se importando com a personagem e esse mundo que ela está atravessando.
WHAT THE GOLF? (Triband)
Foda-se, esse é o melhor jogo do Apple Arcade. É perfeito. É engraçado pra caramba. Tá sempre surpreendendo o jogador. É tudo o que o golfe deveria ser. É uma carta de amor aos jogos e aos jogadores, e está sempre pronto pra te fazer rir e te deixar empolgado em tentar algo novo. WHAT THE GOLF? é perfeito e só ele vale a assinatura do Arcade. (Disponível em breve no Nintendo Switch também!)