Eu amo o primeiro Invocação do Mal. É excelente em vários níveis. Ele é um filme de terror que volta aquele tipo clássico do início dos anos 1970, como O Bebê de Rosemary e O Exorcista e, mesmo não sendo tão bom quanto esses, ele acha um lugar só seu pelos mesmos motivos. O mal ali era outro: o do desconhecido e, por isso, do incontrolável. Invocação do Mal nunca mostrava essa força maligna — ele mostrava como ela destruía a vida de uma família, cabia ao espectador imaginá-la.
É ótimo ver que James Wan voltou para essa segunda parte muito porque ele só amadurece. Olha aquele plano-sequência em que ele apresenta a família se mudando para uma nova casa. A gente não percebe como, na verdade, ele primeiro nos familiariza com cada cômodo, cada corredor, pra depois transformar aquela casa em um verdadeiro labirinto, uma entidade do mal. Ele repete a dose aqui. A família da vez (os Hodgson) não tão se mudando. Pelo contrário, eles conhecem muito bem aquela casa, e a familiaridade é que tornará ela, mais pra frente, aterrorizante. É a força que toma a casa contra as pessoas que vivem lá dentro que vão criar o medo.
Funciona muito bem. Invocação do Mal 2 é o tipo de filme de terror que se tem feito menos hoje em dia porque é muito difícil de acreditar. É um terror quase religioso, que brinca com fantasmas e nomes e rituais que já apareceram muito no cinema (é quase uma piada quando uma das personagens mostra um tabuleiro de Ouija). Wan sabe que tá pisando em ovos, e ao invés de se cuidar ele dança: ele manda a história pra Inglaterra, enche de referências de folclore local, e não se importa de exibir o circo midiático em volta.
É uma faca de duas pontas essa mistura de elementos. Invocação do Mal 2 dá um show na virtuose cinematográfica e nas atuações (Patrick Wilson e Vera Farmiga entregam tanto no papel que é de se emocionar); Wan dosa com sabedoria momentos cômicos e os momentos de sustos (eles existem, não dá pra dizer que não, mas são bem pontuados); mas acaba se perdendo um pouco nas sub-tramas. Ele começa narrando, de forma bastante econômica, o caso mais famoso dos Warren: o massacre a uma família em Amityville, e leva as “cicatrizes” desse caso até o final do filme (na forma bastante assustadora — e comercial — da Freira que, adivinhem, já tem um filme anunciado).
O bom do filme anterior era como tudo se fechava direitinho, e como absolutamente tudo girava em torno daqueles personagens. Invocação do Mal 2 faz quase tudo isso, mas ele almeja um pouco mais alto, e acaba se perdendo em partes. O circo midiático vira uma subtrama necessária, mas mal tratada; a Freira entra no filme, ganha importância, mas a gente nunca sabe o que ela realmente faz ali; tem uma reviravolta de espírito com espírito que não funciona muito; e, o maior dos pecados: Wan, dessa vez, mostra o mal, algo que ele sabia muito bem como não fazer. Pelo menos é por pouco tempo.
E, no meio de alguns erros e vários acertos, Invocação do Mal 2 se junta com A Bruxa num ano que promete bons filmes de terror por serem, justamente, aterrorizantes, e não assustadores. Não há muitos sustos em Invocação do Mal 2, mas ele não se importa muito com isso. A gente perde muito tempo conhecendo aqueles personagens e aquela casa por um simples motivo: quando o pesadelo começa, Invocação do Mal 2 nos prende lá dentro com eles. E daí, sim, ele cria o medo.