Em It’s Blitz! é “Skeletons”. Em Fever to Tell, “Maps”. Todo álbum do Yeah Yeah Yeahs apresenta, em meio aos gritos raivosos e os tons incontidos, uma música em os tons mais delicados e melancólicos de Karen O. E Karen O sabe lidar com sua voz em um tom doce. “The Moon Song”, canção do filme Ela, não é só linda – é devastadora. O sussuro que encerra “Food Is Still Hot”, na trilha-sonora de Onde Vivem Os Monstros, é o que precisa para você se emocionar.
O fato é que Karen O é melhor fazendo canções de amor do que gritando descontrolada no Yeah Yeah Yeahs (e eu gosto bastante da banda). Se no seu trabalho com o conjunto ela divide espaço com muitos instrumentos, dando a impressão de músicas “estufadas” e sem muito respiro, em Crush Songs, seu “debut” em carreira solo é justamente essa pausa. “Quando eu tinha 27 eu me apaixonava bastante”, diz ela no encarte do disco,“Eu não sabia se eu iria amar de novo, um dia” . Mais que o amor ou uma obsessão, a paixão é um sentimento fugaz, uma afeição intensa que, sem os altos e baixos que constroem um relacionamento com amor.
Esse sentimento rápido e intenso explica a qualidade, e o motivo de existir, de Crush Songs. Karen O gravou as músicas entre 2006 e 2010, poucas tem mais de dois minutos (o álbum tem 25 minutos no total); e a “textura” das canções, repletas de ruídos (algumas músicas são escritas enquanto ela as toca) e com pouquíssimos instrumentos dão uma característica dura e direta, como uma mensagem apaixonada sem rodeios
. Crush Songs é feito de uma intimidade nunca presente em nenhum outro trabalho de O, seja dentro ou fora do Yeah Yeah Yeahs, e o seu poder está justamente em como O consegue transportar o espectador para seu estado de espírito na hora da performance. Com “Rapt”, “Ooo” e “NYC Baby”, Karen O expõe seu eu mais delicado, como um pedaço de bolacha prestes a se esfarelar.