Cinco coisas (que você não conferiu) pra terminar bem 2015

2015, o pior ano de todos (ou, pelo menos, desde o surgimento do Twitter, que foi quando eu comecei a mensurar esse tipo de coisa), tá acabando. Finalmente, vamos pôr nossos pés no arroz, pra dar sorte.

Pode ter acontecido um monte de coisa ruim, mas 2015 teve várias coisas boas pra tentar deixar ele bom. Foram excelentes filmes (Mad Max! Jurrassic World! STAR WARS!), excelentes séries (Mad Men! Community! The Leftovers?), jogos (The Witcher 3! Metal Gear Solid! Fallout!!!$#%#@) e muito mais. Todo mundo viu, jogou, leu, escutou isso. Mas teve outras coisas — tão boas, ou ainda melhores — que acabaram se perdendo no meio de tanta coisa boa.

Já que o ano tá acabando e tá na hora de ver o que fazer nesse recesso, aí vão cinco dicas de coisas que você provavelmente perdeu em 2015, e que pode colocar em dia agora.

Um filme: 45 Anos

O que me deixa triste com 45 Anos não foi que ele foi pouco visto. É normal, pra um filme que vai ser lembrado só nas premiações, lá por fevereiro e março do ano que vem, que seu lançamento em outubro leve pouca gente pra ver. O que me deixa realmente triste é que ele foi lançado na pior semana do ano. Seus concorrentes, Os 33 e O Último Caçador de Bruxas, foram dois fracassos de bilheteria, que não encheram salas e que quem viu não gostou. Daí 45 Anos, que quem viu amou, ficou lá, com duas salinhas aqui em POA, enquanto as outras pros “grandes lançamentos” estavam vazias.

45 Anos conta a história de Kate e Geoff (eu fiquei me perguntando que nome é esse, mas é um apelido pra Geoffrey), um casal que está nas vésperas de celebrar o seu quadragésimo quinto aniversário de casamento. Durante a semana que precede a grande festa, Geoff recebe uma carta que o informa que sua grande amada da juventude foi encontrada numa geleira na Suíça, onde desapareceu há cinquenta anos. A partir daí, Kate e Geoff descobrem verdades dolorosas sobre seu relacionamento, e talvez não haja mais o que celebrar no final.

O mais impressionante de 45 Anos é a simplicidade com que tudo é exibido, mas o quão doloroso é assistir, mesmo assim. Andrew Haigh já fez um filme incrível sobre relacionamentos (Weekend, de 2011) e dirigiu uma das melhores séries do ano (Looking, na HBO). Mas em 45 Anos ele une a honestidade de um com a maturidade do outro e cria uma obra pequena e irretocável de dor e dúvida. 45 Anos não é um filme sobre aquilo que faz um casal se separar; mas sobre aquilo que passa na nossa cabeça quando estamos ainda estamos juntos.

Onde assistir? 45 Anos ainda está no circuito, em algumas salas do país. O DVD deve chegar em março do ano que vem.


Uma série: Hannibal

Essa foi difícil. 2015 foi um ano incrível para a televisão. Transparent é uma das coisas mais sensacionais já feitas, Mad Men se encerrou em uma belíssima temporada, Community deu adeus (mas ainda espera um filme), The Leftovers foi a melhor série dramática do ano e Looking teve o mais incrível finale que eu poderia imaginar.

Mas teve, também, Hannibal.

Hannibal me deixa com fome. Ele me sacia, mas sempre me deixa querendo mais. Uma série de canal aberto, mas com um nível de qualidade que muita emissora de cabo não consegue atingir. Hannibal é charmosa (é o mais bonito show da TV), é inteligente e é implacável. Eu sua terceira temporada, a série não teve só que sofrer as consequências do magnífico final da temporada anterior, como também desenvolver o Grande Dragão Vermelho, adaptando assim o primeiro livro de Thomas Harris sobre um dos personagens mais marcantes do final do século 20; ao mesmo tempo que melhora e muito aquilo que o próprio autor destruiu nos terceiro e quarto livros. Em sua terceira temporada, Hannibal foi um dos melhores seriados policiais da história, bebendo de referências gigantes, como The Wire, Sopranos e até Six Feet Under. Mas ele não ficou só na referência: ele apostou fundo em si mesmo.

E também é uma história de amor.

Onde assistir? O AXN está fazendo reprise da série e você pode assistir tudo no site da emissora. As duas primeiras temporadas estão no Netflix, e a terceira deve aportar no primeiro semestre do ano que vem.


Um jogo: Here And There Along The Echo

Nada em 2015 se compara a Here And There Along The Echo.

Vocês já sabem que eu amo Kentucky Route Zero. Amo a ponto de dizer que ele é o melhor jogo já feito (pelo menos até agora). A Cardboard Computer, enquanto não lança o quarto ato, nos deu um gostinho do que está por vir. E Here And There Along The Echo é um telefonema que eu não quero esquecer.

E isso é tudo o que você precisa saber aqui. Here And There Along The Echo é um telefonema. Mas é o telefonema que vai acompanhar você por muito, muito tempo. Como nas melhores partes de Kentucky Route Zero, Here And There… é um excelente contador de histórias. Bem como naqueles antigos jogos de telefone, que você ligava para um número e se aventurava em uma série de menus, Here And There lhe apresentará personagens e lugares fantásticos e inesquecíveis, em uma das experiências mais mágicas que eu tive esse ano.

Onde jogar? Várias formas. Você pode ligar para o número do jogo através do Skype (é um número americano, então use o Skype para ser mais barato), ou (acesse o site)[http://kentuckyroutezero.com/here-and-there-along-the-echo/] e baixe-o gratuitamente.


Um álbum: Currents

Deixa eu te contar uma verdade: eu não gosto do Tame Impala. Nunca vi o que eles têm de especial. Sério. O que é aquele InnerSpeaker, ou aquele Lonerism, com uma só música boa? Mas daí todo o mundo falou bem de Currents. Daí né, o pau mandado aqui foi conferir.

E Currents não é todo excelente, pra falar a verdade. Tem umas três ou quatro músicas ali que eu passo toda vez, sem exceção. Mas Let It Happen, The Less I Know The Better e Past Life, em compensação, estão sempre no repeat agora. E não dá pra não ser. Currents tem aquele poder de ser o ponto de virada de uma banda, que já tinha aquela personalidade bem definida, mas que agora vai além. Currents é excelente. É divertidíssimo de se ouvir. Completamente dançante. Completamente apaixonável. Eu quero ouvir ele o resto da minha vida (ou até o próximo álbum do Arcade Fire).

Onde ouvir? Já a venda em qualquer lugar, se você é desses. O álbum já está disponível no Spotify.


A melhor dica que eu recebi esse ano não foi de livro, não foi de filme, não foi de série e nem de jogo. Quando me recomendaram ver a Jout Jout lá por julho, eu não dei muita bola. Vi um vídeo. Daí fui ver outro. E agora eu fico vendo todos eles repetindo várias vezes.

As vezes eu sinto saudades de podcasts. Aqueles programas de áudio que parecem rádio, mas na Internet. Podcasts eram bons pra trabalhar. Era só dar o play e ficar ouvindo enquanto trabalha. Mas eu não sei mais de nenhum podcast que seja bom e que o pessoal não fiquei gritando que nem um desesperado, então tem isso. Mas agora tem a Julia e o Caio, que fazem meus dias melhores, com um monte de opiniões geniais, insights inesperados e funks maneiros. Jout Jout Prazer é uma das melhores coisas que a internet brasileira nos fez nos últimos anos.

Onde assistir? Sai correndo agora e se inscreve no canal dela.