Posts marcados com Halt and Catch Fire

“Halt and Catch Fire” e “The Soul of a New Machine”

Ontem de noite estavam comentando sobre a abertura de uma das minhas séries favoritas no Twitter, Halt and Catch Fire:

Halt and Catch Fire me lembra muito um dos meus livros favoritos, The Soul of a New Machine, de Tracy Kidder. Escrito no início dos anos 1980, o livro documenta o desenvolvimento de um minicomputador na aurora da computação pessoal. É uma invenção que leva a equipe à beira da loucura por causa da forma que o gerente do projeto na empresa lida com sua equipe, usando o que ele chama de “gerenciamento de cogumelos”: deixá-los no escuro enchendo-os de merda.

The Soul of a New Machine é um livro trágico porque a equipe dá tudo o que pode para desenvolver um minicomputador que acaba sendo defasado muito rápido. O período, entre os anos 1970 e 1980, foi a explosão da evolução do hardware computacional (o Macintosh, o grande computador pessoal da Apple, foi lançado alguns anos depois), e o “gerenciamento de cogumelos” foi o que não permitiu que a equipe enxergasse que o grande trabalho que eles estavam realizado estava fadado ao fracasso.

Mas o livro tem uma noção da informática que eu gosto muito, e que é partilhada por Halt and Catch Fire, de que esses engenheiros de software e desenvolvedores eram desbravadores, e que cada invenção — uma placa-mãe, uma memória RAM, um processador, as instruções da BIOS — levava um pouco de quem eles foram e da maneira que eles pensavam, o que revela tanto dos seus potenciais quanto suas limitações (o livro descreve, já naquela época, como qualquer pessoa que não era um homem branco era colocado de lado pela indústria).

A tragédia de The Soul of a New Machine é de que a “alma” que os engenheiros davam à essas invenções serviam para mudar os meios, mas não as intenções pelas quais a tecnologia seria utilizada. Um exemplo que o livro dá pra tragédia que é a computação, de um modo geral, é que os computadores possibilitaram que empresas pudessem gerar e armazenar relatórios sobre qualquer setor sem a necessidade de papel, o que poderia eliminar muito os custos de uma empresa. O problema é que os executivos não acreditavam no que eles viam na tela de computador, então todos esses relatórios precisavam ser impressos, o que acabou aumentando o gasto com papel.

Mesmo assim, a beleza do que foi inventado nessa era da computação (que é muito semelhante ao que aconteceu de novo com a internet na segunda metade dos anos 1990) indicava que a tecnologia poderia ser usada pra ressaltar o potencial da humanidade, e não apenas alimentar suas falhas. O problema é que a tecnologia só vai até certo ponto, ela só muda nossos meios, mas não nossas intenções.


Esse post é uma versão mais coerente de algo que eu postei no Twitter. O original está aqui.

As minhas séries favoritas para você assistir nessas férias

Game of Thrones acabou nesse último domingo com um monte de morte e um monte de pistas pro que vai acontecer nas duas próximas (e últimas?) temporadas. Você vai ter até o ano que vem para esperar uma nova temporada e as férias de inverno estão aí. Péssimo timing, HBO, a gente vai precisar de algumas coisas pra ver.

É por isso quedecidi escolher escolher sete séries para você assistir. Elas deviam seguir alguns critérios para entrar nessa seleção:

  • Elas precisam ser excepcionalmente boas. Isso mesmo, as séries aqui são aquilo que eu acho que há de melhor na TV por enquanto;
  • Elas precisam estar disponíveis para ver, de alguma forma, no Brasil.
  • Elas não podem estar canceladas ou finalizadas. Todas essas séries possuem uma nova temporada vindo por aí;
  • Elas precisam ter pelo menos uma temporada inteira disponível. A gente quer te indicar aquilo que tem de melhor, então vamos naquilo que confiamos ser bom — e que você provavelmente vá gostar.

Nós esperamos que essas sete séries lhe dão aquele gostinho de fazer uma maratona, de buscar coisas ainda mais legais e, claro, nos sugerir algo que você também acha que iremos gostar. Essas séries são só o começo: a gente gosta de ver o que você acha delas, e o que mais poderíamos ter sugerido. Vamos nessa?

Imagem da série “The Americans”

The Americans

  • Número de temporadas: 4
  • Próximos episódios: só em 2017
  • Onde assistir: Netflix, FX (em reprises) e FOX Play
  • O que é: um casal de espiões soviéticos vai viver nos EUA durante a Guerra Fria.

Vamos começar por cima? The Americans é uma das melhores séries na TV hoje. A terceira temporada, que foi exibida nesse ano, é disparado a melhor coisa que aconteceu na TV em 2016. The Americans é o filho de séries como Família Soprano, Mad Men e Breaking Bad: isso mesmo, uma herança de gigantes. Talvez seja até melhor que elas. Contanto a história de um casal de espiões soviéticos nos EUA, a série não brinca em ser emocionalmente forte e muitíssimo bem escrita. E prepara o espectador para um jogo tão forte com aquilo que nos ensinou e nos fez acreditar que, mesmo depois de assistir todos os episódios, vai ficar sedendo esperando a próxima temporada.

Imagem da série “Broad City”

Broad City

  • Número de temporadas: 3
  • Próximos episódios: só em 2017
  • Onde assistir: na Comedy Central (em reprises)
  • O que é: A vida e as desventuras de duas garotas em Nova York em um ritmo insano e surreal.

É incrível que Broad City exista, pra falar a verdade. Ela existe naquele universo insano de que a televisão consegue criar teoricamente tudo — mas que muitíssimo pouco disso é realmente percebido pelos seus manda-chuvas. Contando a vida de duas mulheres e suas desventuras por Nova York, com muitíssimo bom humor, sinceridade e aquele sabor agridoce do aprendizado e da realização de que a vida, por mais feliz e divertida que seja, vem carregada de perdas, medos e histerias. Sua última temporada foi insana de divertida, e fez suas duas personagens principais crescerem como poucas séries permitiriam (vide Girls — que eu também gosto bastante —, que demorou cinco temporadas para que suas personagens finalmente amadurecessem).

Imagem da série “Halt and Catch Fire”

Halt and Catch Fire

  • Número de temporadas: 2
  • Próximos episódios: estreia prevista para agosto de 2016
  • Onde assistir: no AMC Brasil
  • O que é: um grupo de pessoas na década de 80 se aventura no desenvolvimento para criar um computador pessoal.

A melhor surpresa que eu tive na TV do ano passado Halt and Catch Fire é um deleite. Capturando um momento na indústria da informática que une o fervor da descoberta (como aquele que vemos em A Rede Social), mas também o medo de até onde esse avanço pode alcançar. Unindo um elenco de peso e ideias maravilhosas que realmente se concretizam (e não apenas vivem no mundo da possibilidade, já que aqui é uma série que bota tudo o que tem na tela), Halt and Catch Fire é algo como um thriller e um drama de época, um fervor de descoberta e um medo do desconhecido — seja ele do tecnológico ou do humano. É TV de primeira, também.

Imagem da série “Master of None”

Master of None

  • Número de temporadas: 1
  • Próximos episódios: em algum momento de 2016
  • Onde assistir: no Netflix
  • Uma série de aprendizados sobre a vida adulta no mundo contemporâneo.

A vida adulta fascina a TV já que, afinal de contas, ela atingiu a maturidade há pouco mais de uma década. Master of None mostra como a vida adulta, no final de contas, não é nada demais e esse já é um grande motivo de ela ser interessante. Aziz Ansari encontra nessa premissa uma excelente série de auto descoberta, romance e, inclusive, o modo da Netflix de tratar suas séries. É diferente de tudo o que o serviço ofereceu até o momento: ao invés de ser uma grande e intrincada temporada com episódios bastante co-dependentes, Master of None é totalmente episódica e imprevisível — e isso a torna fascinante por si só.

Imagem da série “Silicon Valley”

Silicon Valley

  • Número de temporadas: 3
  • Próximos episódios: só em 2017
  • Onde assistir: na HBO Signature (em reprises), ou na HBO GO
  • Como o mundo da tecnologia da informação é triste e ganancioso — e suga a vida daqueles que desejam se aventurar nele.

Eu sempre achei Silicon Valley divertida. Ela é meio que o oposto de Halt and Catch Fire, e mostra uma visão bem decepcionada do universo da tecnologia da informação. Mas, cara, o que eles fizeram esse ano é surreal. Silicon Valley passou uma temporada inteira explorando seus personagens e vendo do que eles eram capazes, e com isso nos entregou uma das melhores comédias que a HBO já fez (ao lado de uma outra que está logo abaixo) e um dos retratos mais honestos de amizade da TV. Uma surpresa, e um deleite.

Imagem da série “Veep”

Veep

  • Número de temporadas: 5
  • Próximos episódios: só em 2017
  • Onde assistir: na HBO Signature (em reprises), ou na HBO GO
  • A vida da vice-presidente americana e sua equipe, que não é muito boa naquilo que faz.

A finale desse domingo foi difícil. Veep apontou pra um caminho que eu nunca havia pensado antes, mas vamos lá. A verdadeira líder das comédias hoje. Veep é poderosa e divertidíssima, honestamente aterrorizante e dolorosamente hilária. Repleta pelo melhor elenco em uma série cômica atualmente, e roteiros afiadíssimos que exploram, debocham e se fascinam pelo intrincado universo político americano — e pelos incríveis seres que habitam esse universo —, Veep é uma versão mais honesta, menos glamurosa de The West Wing, se é que você consegue me entender. Mais que isso, porém: é um retrato bastante doloroso de como o poder destroi uma pessoa, e a performance vertiginosa da Julia Louis-Dreyfus entrega cada nuance necessária.

Imagem da série “The Leftovers”

The Leftovers

  • Número de temporadas: 2
  • Próximos episódios: 2017
  • Onde assistir: na HBO Plus (em reprises), ou na HBO GO
  • Anos depois do misterioso desaparecimento de 2% da população mundial, uma família precisa reconstruir sua vida.

Cara, como eu amo essa série. A segunda temporada não é só a melhor coisa que eu vi no ano passado — é um dos retratos mais poderosos sobre como o ser humano só encontra a força para se reconstruir naqueles que o cercam. The Leftovers pode parecer desesperador, mas é um dos maiores, e mais complexos, retratos da necessidade do ser humano em acreditar, seja lá o que for. A série é, talvez, a coisa mais estranha da TV hoje: uma jornada mística sobre a aleatoridade e a inexplicabilidade da vida e sobre como tudo é uma constante luta pela sobrevivência. The Leftovers é a melhor coisa na TV hoje, e a mais única, a mais misteriosa e a mais satisfatória. Cada uma hora é uma jornada ao desconhecido de si mesmo. Ao final dela (que deve acontecer ano que vem, já que estamos na última temporada), talvez não sejamos mais os mesmos.