Escrito originalmente em 1950, Eu, Robô, de Issac Asimov, é uma união de nove contos ligados pela memória da psicóloga roboticista Susan Calvin. Antes de se aposentar, com 75 anos, a Dra. Calvin concede uma entrevista ao Imprensa Interplanetária, onde fala sobre sua carreira na U.S. Robots and Mechanical Men Inc., ilustrando também a história da criação dos robôs e de seu aperfeiçoamento.
Robbie
No primeiro conto, Robbie é um robô babá, sem a habilidade de falar, cujo a função é acompanhar as aventuras cotidianas de Glória. Susan abre a entrevista com essa história, que se passa bem antes da sua entrada para a companhia, quando tinha apenas quinze anos.
Robbie foi criado em 1996 e por isso não falava. A “humanização” dos robôs foi acontecendo aos poucos depois disso, o que acarretou em campanhas antirrobôs e baixa aceitação dos autômatos na Terra. Pequenos detalhes na escrita leve de Asimov vão nos mostrando o contexto histórico e as opiniões que dividem os humanos quanto aos robôs. Entretanto, nada disso parece abalar o amor de Glória por Robbie, que prefere a companhia do robô babá do que a de outras crianças. A medida que a vizinhança começa a perceber o comportamento estranho da menina, contudo, os pais de Glória decidem se livrar do robô. É a partir de então que começamos a entender a relação humano/robô, tanto pelo lado emocional quanto racional, e somos surpreendidos por uma criatura que é mais que uma máquina. Nas palavras da Dra. Calvin:
Houve um tempo em que o homem enfrentou o universo sozinho e sem amigos. Agora ele tem criaturas para ajudá-lo; criaturas mais fortes que ele próprio, mais fiéis, mais úteis e totalmente devotadas a ele. A humanidade não está mais sozinha. […] Os robôs são uma espécie melhor e mais perfeita que a nossa.
Powell e Donovan
Depois da breve história de Robbie, Susan narra as aventuras de Greg Powell e Mike Donovan, que cuidaram dos piores problemas da U.S. Robots de 2011 a 2029. Asimov não é conhecido apenas pelo seu legado em ficção científica, mas também pela sua afinidade por escritas de detetive e mistério, que são muito bem desenvolvidas nos três capítulos seguintes. Greg e Mike são a típica dupla de detetives com um mistério em mãos, geralmente envolvendo um robô de alta tecnologia apresentando alguma contradição com as três leis da robótica. As leis, inclusive, são apresentadas no segundo conto, Andando em círculos, e são importantíssimas para o entendimento das resoluções da dupla.
1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.
2ª Lei: Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.
3ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis.
Um exemplo muito legal, da minha história favorita com eles, é quando Cutie decide descobrir sozinho sua origem, não podendo acreditar que uma criatura tão inferior quanto um humano pode construí-lo. Ao ser informado, então, da existência de humanos em outros planetas, do vazio infinito do universo e do funcionamento das bases de redirecionamento de energia espalhadas pelo espaço – onde se encontra agora -, Cutie estende suas buscas para o único campo onde as respostas lhe parecem mais plausíveis: a fé.
Com uma escrita simples e divertida, combinando conhecimento e criatividade, parece que vai ser difícil conseguir tirar Eu, Robô do topo dos favoritos de 2014. Inclusive, a capa dessa edição da editora Aleph também está lindíssima, trabalho de Pedro Inoue e com tradução de Aline Storto Pereira.
Uma ótima dica para quem quer aproveitar o feriado de carnaval. Um marco na história da ficção científica e, assim como seus personagens, robô de menos, humano demais.