O curta-metragem sempre foi um interessante formato de experimentação e descoberta para o audiovisual. Até 1910 as sessões de cinema eram compostas por uma seleção de pequenos filmes que, após a passagem da década, passaram a ser exibidos como “complemento” para a atração principal: os feature films (longas-metragens). A partir daí, infelizmente, os espaços e caminhos de circulação dos filmes de curta-metragem foram se estreitando cada vez mais. Hoje, apesar do home vídeo, do streaming, e de todas as possibilidades e comodidades possíveis, o curta acaba por não fazer parte dos hábitos de consumo em cultura e audiovisual da grande maioria das pessoas, assim como não existem exibições dedicadas a este formato no circuito comercial de cinemas.
O interesse em torno do curta-metragem acabou se limitando ao estudo, à pesquisa, e ao seu caráter experimental explorado por festivais e mostras de cinema. Embora esses limitantes façam o curta circular menos e ser um formato menos divulgado e incentivado, de alguma forma isso acaba dando ao formato uma maior liberdade na criação de novas formas de se expressar - se por um lado essa falta de interesse “comercial” afeta o curta limitando sua distribuição, por outro permite ao formato uma maior liberdade em relação ao confronto com às expectativas estético/narrativas do público.
No Brasil, temos a felicidade de contar com um dos maiores e mais importantes festivais dedicados ao formato no mundo: o Kinoforum (Festival Internacional de Curta Metragens de São Paulo). Realizado desde 1990, o Kinoforum costuma reunir uma leva de cerca de 400 curtas recém lançados em todo o mundo (alguns inéditos), divididos em diversas mostras e sessões temáticas, exibidas em múltiplos espaços da cidade de São Paulo. O festival é um dos mais celebrados e estimados no mundo a trabalhar com o curta-metragem. Desde 1995 o festival é realizado pela Fundação Kinoforum, que é responsável, além dos trabalhos diretamente ligados ao festival, por estimular atividades durante o ano voltadas ao incentivo e divulgação do cinema brasileiro e sul-americano, tanto no sentido de dar visibilidade a estes trabalhos, quanto na formação de novos realizadores e críticos através de oficinas. O trabalho da associação também envolve a manutenção de um importante acervo de curtas-metragens e o lançamento de DVD’s, encartes e editoriais.
Diante da situação global, particularmente agravada no Brasil, relacionada a pandemia do Covid-19, a organização do festival, em sintonia com diversos festivais pelo mundo, tomou a importante decisão de realizar a sua 31ª edição totalmente online e gratuita, permitindo o acesso digital universal aos filmes que compõem o catálogo da sua edição 2020, além de diversas atividades paralelas como os debates dos filmes exibidos e mesas de discussão de diversos assuntos relacionados à realização audiovisual. Separamos alguns destaques exibidos em anos anteriores do festival para convidá-los para acompanhar a edição desse ano.
Destaque no 26º Kinoforum: O Quintal (André Novais de Oliveira, 2015) — 21 min
Mais um dia na vida de um casal de idosos da periferia.
Destaque no 21º Kinoforum: O Duplo (Juliana Rojas, 2012) — 25 min
Silvia é uma jovem professora. Certo dia, sua aula é interrompida quando os alunos veem seu duplo pela janela. Ela tenta ignorar a aparição, mas o evento perturbador passa a impregnar seu cotidiano e alterar sua personalidade.