Eu pensei em começar esse post me explicando sobre o porquê dos quatro meses sem posts no PCM, sobre como eu demorei pra me adaptar a um ano em que o mundo decidiu acabar de vários jeitos diferentes ao mesmo tempo, e tudo o mais. Eu tava na metade dele e decidi reler e ver que ele era um dos piores textos que eu já escrevi. Ele tinha um pouco de tudo aquilo que eu já fiz nos textos mais insuportáveis aqui do site: era longo e cheio de analogia e metáfora em cima de metáfora que já tinha até parado de fazer sentido ali na metade. É o tipo de texto que eu escrevo que nem eu tenho paciência pra ler na hora de revisar.
E é exatamente o tipo de coisa que eu eu não quero fazer por aqui.
O motivo principal de eu não ter escrito nesses últimos meses por aqui é bem simples, e algo que eu estava gestando na minha cabeça por todo o ano passado: eu acho que o jeito que eu absorvo e respondo à cultura — sejam os filmes, os livros, as músicas ou os links que postei aqui nesses últimos sete anos — mudou consideravelmente de um tempo pra cá, e o que eu fazia antes no PCM, essas resenhas de coisas que eu gostei, não fazem muito mais sentido pra mim. Basicamente, é isso. E eu achei que, como o que eu fazia no PCM não era mais relevante pra mim como escritor, então meu tempo como escritor no PCM devia acabar.
É aí que eu tava enganado. O PCM é um blog, e a única regra que eu estipulei para esse blog com o passar dos anos é não escrever sobre coisas que eu não gosto. A forma como eu respondi à essa regra é que não faz mais sentido pra mim, e não faz mais sentido pra forma como a gente absorve cultura hoje em dia. Quando o PCM começou, e tinha mais gente envolvida aqui, nosso sonho era ser um espaço onde a gente podia indicar o melhor do melhor da cultura para nossos amigos. Tinha muita coisa por aí, e a gente podia indicar o que tinha de melhor pra assistir no momento. Isso não faz sentido quanto tem tanta coisa por aí, e você provavelmente já decidiu o filme que você quer ver no fim de semana ou o próximo livro que você vai ler ou o podcast que você está ouvindo agora enquanto lê esse post.
Se esses dois últimos parágrafos parecem mais confusos do que eles deviam ser, me desculpem! Isso é o que eu quero exorcisar nesse post e, a partir de hoje, evitar por aqui. Pra facilitar, deixa eu dar alguns exemplos.
No último ano eu escrevi posts sobre Chernobyl, Succession e Bacurau no início das conversas sobre elas. Esses são os posts que o PCM foi criado para serem publicados: para dar motivos para você assistir à essas séries e ao filme. Olhando agora, esses são os textos mais desinteressantes que apareceram no último ano por aqui também. Os que eu tenho mais orgulho são o oposto: quando o Raul nos explicou o que faz Apocalypse World especial pra ele, ou como eu enfrentei uma perda jogando Pokémon.
É como se uma peça cultural fosse como uma chuva. O que eu fazia antes no PCM era tentar preparar você pra como ela vai ser. Agora, eu quero observar como ela deixou as coisas depois que passou. Não é que resenhas e críticas não tenham mais significado na época da internet. Elas existiam muito antes do PCM e vão continuar existindo até muito depois, se o fim do mundo não acontecer amanhã. É só que elas não fazem muito mais sentido pra mim como escritor, e pra continuar escrevendo por aqui, eu preciso encontrar algo que faça sentido.
E isso me traz pro segundo ponto (e muito, muito menor, pode confiar). Eu vou deixar de lado todas as outras pequenas regras e cobranças que criei pra mim quanto ao PCM com o passar do último ano. E digo aqui detalhes mais estilísticos, como tamanho ou linguagem dos textos, e vou abraçar uma abordagem mais pessoal, mais blog mesmo, pro que eu escrevo aqui. A ideia de que o PCM é um blog colaborativo continua, e se você quiser escrever algo aqui dá uma avisada, mas ele sempre foi um espaço onde eu podia escrever ou amadurecer ideias que eu tinha no momento, e eu quero deixar elas existirem mais aqui, sem precisar ficar matutando muito tempo antes de elas perderem qualquer relevância na minha cabeça. Basicamente, isso significa que talvez alguns textos sejam menores, ou sejam mais sujestivos do que grandes explicações sobre o que faz um episódio especial. Talvez seja uma dica que eu queira dar na manhã de terça-feira sobre algo que li na segunda de noite, e um texto gigante sobre os sete motivos que você deveria ler também não seja lá o melhor jeito.
A partir de agora o PCM vai ser mais um registro pessoal, é isso que eu quero dizer. Vai ser menos desse bando de palavras que eu acabei apagando e reescrevendo durante esse texto longo. As coisas estão complicadas demais lá fora, e esse lugarzinho na internet que sempre foi bom não precisa ficar complicado também.
Vejo vocês logo mais, sábado tem a newsletter.