Nessa última década parece parece que a Internet diminuiu. Quer dizer, é impossível a Internet diminuir porque a cada dia existem mais páginas, mais sites e mais tuítes de presidentes que são incapazes de evitar falar asneira. Mas parece que ela diminuiu. Parece que acessamos menos desses sites, a gente descobre menos coisas novas. A gente conversa com nossos amigos no Facebook, a gente reclama dos nossos tios no Twitter, a gente escuta música no Spotify, e se for preguiçoso não precisa nem procurar uma música nova pra ouvir. A gente sequer precisa sair da primeira página de resultados do Google pra ter uma opinião formada esses dias.
Por um lado, essas plataformas ajudaram muitas pessoas a acessarem a Internet por darem a impressão que você está seguro indo do Facebook para o YouTube para o Twitter para o Google e voltando pro Facebook — eles oferecem tudo o que você precisa, então você não precisa sair deles. Mas por outro, a gente perdeu aquela experiência que definiu boa parte da minha geração que foi a de navegar a Internet. De explorar os confins de um assunto e descobrir coisas novas. Encontrar um blog sobre músicas e descobrir a discografia inteira de uma banda que inspirou aquela banda que você gosta. De procurar sobre um autor no Google, ir pra página da Wikipédia sobre ele e, duas horas depois, se ver conversando em um fórum onde uma bibliotecária do Rio não sabe que está tendo uma boa conversa sobre um livro de contos de sua autora favorita com uma garota de treze anos.
A impressão que a Internet ficou pequena vem muito do fim dessa especificidade. É caro, e tecnicamente chato, manter um fórum de discussão ou um blog sobre aquele assunto que você gosta, com as especificidades que aquele assunto demanda. Então você acaba migrando pra uma plataforma como o Facebook e o Tumblr, que padronizam tudo e limitam essas especificidades, e você precisa se deparar com a realidade de que você não tem a equipe de um jornal pra atualizar uma página do Facebook com a frequência que é necessário pra se manter relevante, por exemplo. E daí quem sobrevive é a Billboard, que tem conteúdo pra todo mundo, e a sua comunidade bem específica sobre a banda que você descobriu naquele blog há quase uma década desaparece.
Esses três parágrafos de desabafo são pra falar que eu, um dinossauro, sempre fico feliz quando o meu feed RSS avisa que tem um novo post no r.izze.nhas. Criado em 2009 e atualizado desde então, o r.izze.nhas é um blog de resenhas de livros escrito pela Taíze Odelli que sobreviveu essa última década fiel à especificidade que ele requer. Algumas vezes por mês (imagino que sempre quando a Taíze termina um livro), aparece uma resenha do que a Taíze andou lendo.
Eu acompanho o r.izze.nhas desde meados de 2010, e quase que inconscientemente ele acabou me ajudando a formar meu hábito de leitura (e ditar muitas compras), de descobrir aquilo que eu gosto e de escrever para entender sobre o que eu gosto ou não em algo. É também uma ótima leitura pra acompanhar aquele café antes do trabalho (tipo nós aqui no PCM).
O r.izze.nhas também é uma lembrança, pra mim, de como é bom descobrir coisas novas na Internet. Quantos blogs de pessoas apaixonadas por músicas e filmes devem existir por aí e, no meio dos seus arquivos de posts, se escondem minha nova banda favorita ou o filme que vai mudar a minha vida?
Como todo o blog, o r.izze.nhas é um documento do tempo: a Taíze comentou centenas de livros durante esses anos, e quem a acompanha também acompanha seu crescimento como leitora e escritora. Esse é um tipo de experiência que eu acho que é um dos melhores frutos da Internet, e que o r.izze.nhas nos propicia: não só excelentes dicas do que ler, mas também nos ensina a entender e considerar a voz dos outros. Porque aprendemos a ler e a entender a autora tanto quanto ela aprendeu a ler e a escrever sobre os livros.
Do lado de fora na Internet a gente ainda tem lições de empatia, e isso é sempre bom de lembrar.