Dica do fim de semana: Shirkers — O Filme Roubado

Quando Joey me apresentou a Shirkers – O Filme Roubado no outro dia, ela disse que a fazia lembrar de uma palavra em português que eu apresentei pra ela. A palavra era “saudade”, e eu disse (e eu amo que ela se lembra até mesmo de como eu descrevi, porque eu esqueci completamente) como “estar feliz pelo que foi, e triste pelo que poderia ter sido”.

Joey e eu temos um gosto parecido por filmes, então fiquei animado para assistir Shirkers, mas sinceramente não entendi por que o filme a fez lembrar de saudade. Foi até o momento em que a diretora, Sandi Tan, finalmente ouviu a trilha sonora que um amigo fez para o filme que ela escreveu e estrelou antes de ser roubado por mais de vinte anos. Isso me fez perceber que, sim, Shirkers é um filme de saudade (não sobre, mas feito com), e que dei a Joey a pior explicação possível do que era a saudade. Então fico feliz que ela tenha visto Shirkers, porque é um exemplo muito melhor do que a palavra significa.

Crianças brincando com uma filmadora “I had the idea that you find freedom by building worlds inside your head”

Como outros filmes de saudade, como Ao Caminhar Entrevi Lampejos de Beleza e Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo (e, eu acho, La Jetée de Chris Marker), Shirkers parece ser um filme diário. Feito de memórias e livre para vagar e se maravilhar, é uma exploração tanto do que o filme perdido Shirkers foi, e o que ele representa agora, tanto para o panorama do cinema de Singapura quanto para as pessoas envolvidas em sua criação única e traumática.

Na maior parte do filme, Tan parece estar procurando o que este filme significou para seus amigos, e como foi a experiência (e uma busca divertida e desoladora pelo ladrão). Mas quando ela ouve a trilha sonora de seu amigo para Shirkers - que também foi perdida, mas de uma forma mais permanente -, ela finalmente percebe o que isso significava para ela, e o que a redescoberta fez com que ela se sentisse. Aquele momento, quando ela se abre para o que sentiu ao vê-lo pela primeira vez, é pura saudade.

Saudade é um sentimento poderoso, muito porque nos faz sentir muito em um momento tão breve. Parece uma viagem no tempo em um segundo. Shirkers é quase feito disso. Não só nos faz lembrar de algo, mas também constrói o tempo entre quem somos agora e quem fomos e o que significava mudar dessa maneira. Shirkers é feito pela felicidade e liberdade que guiou essas crianças a fazerem um filme honesto e notável; e a tristeza e a raiva por isso nunca ter acontecido - existindo em outros filmes feitos em outro tempo e lugar. De um modo muito parecido, a saudade nunca termina, ela se transforma em outro sentimento. Felicidade por ter sentido e vivido alguma coisa, tristeza pelo tempo que passou e por você, porque você mudou. O próprio Shirkers, como filme, mudou, e agora significa outra coisa. Agora é um filme diferente que, como um momento de saudade, vai parecer para sempre um buraco no coração.


Você pode assistir a Shirkers: O Filme Roubado na Netflix.