Minha dieta cultural em 2018

Faz um tempinho já que eu andei pensando no porquê eu andar tão desinteressado por ver filmes e séries com a mesma frequência que eu andava assistindo. Eu cheguei na conclusão que é porque eu andava assistindo demais. Também fiquei preocupado quando o meu Kindle começou a ficar meses parado (a bateria dele morreu já algumas vezes, um verdadeiro crime) ou porque as minhas mixes do Spotify começaram a ter sempre os mesmos artistas.

Quando eu entrei na faculdade eu fiquei tão fascinado com quanta coisa existia pra assistir e que eu não fazia ideia o quão fácil era assistir hoje. Resultado da faculdade, eu acho. Eu assisti muita coisa — muita coisa boa, aliás, que eu não arrependo de ter dedicado tanto tempo pesquisando, descobrindo, e assistindo. Alguns filmes mudaram a minha visão sobre o que eu gosto de assistir, e algumas séries simplesmente tiraram o meu chão pra sempre.

Ultimamente eu andei pensando no quanto do que foi assistido realmente importava pra mim, e o resultado era muito pouco. Não que todo filme ou série que tu assista tenha que mudar a tua vida (alguns eu só assisto porque meu colega me recomenda porque ele me odeia), mas é um tempo que eu me dedico emocionalmente e geralmente eu ando saindo mais cansado do que de costume, mas olha o raciocínio da minha mente – essa semana eu tava tirando o atraso em um filme do Éric Rohmer que tava prestes a sair do MUBI, mas enquanto eu assistia ele eu ficava cansado só de pensar que duas séries que eu tava acompanhando na Netflix tinham voltado e eu nem tinha começado a nova temporada delas, então eu tinha que fazer a madrugada valer.

Daí eu percebi que eu andava me dedicando tanto a assistir tudo o que eu podia porque é possível assistir, e não porque eu quero absorver algo dali. Ao mesmo tempo eu tava fazendo um péssimo trabalho em explorar as outras coisas que eu gosto. Meu rádio no Spotify nunca foi tão parado quanto nesse último ano. Também no início do ano passado eu comprei um Kindle. É provavelmente a melhor compra que eu já fiz na minha vida. Junto com o Kindle eu devo ter comprado um contrato com o demônio também que me fez amar tudo o que era livro que aparecia nas promoções de 5, 6 reais que a Amazon faz de vez em quando. É muita coisa boa. Eu comprei uma coleção de novelas do Dostoiévski que eu ainda nem abri pra ver se o índice funciona (importante!). Tem o novo livro da Jennifer Egan, também, que tá ali parado pra eu ler. Eu sei que eu vou ler eles, mas quando eu me dedico a ver uns dois filmes por dia e me manter atualizado em seja lá quantas séries eu consigo encaixar numa madrugada, como que faz pra ler?

São coisas bem diferentes, também, e que eu tava deixando pra trás. Eu me dedico emocionalmente a livros, também, mas não por algumas horas como um filme — eu fico lendo eles por meses, e eles sofrem o diabo comigo (mas apenas por amor), mas fazia tempo que eu não tinha esse tipo de envolvimento. Eu tava com saudade.

Então nessa última semana eu tô experimentando uma coisa diferente, e que eu tô curtindo um bocado por enquanto. Ao invés de assistir um filme logo que eu acordo, um filme antes de dormir e alguns episódios de uma série enquanto eu não durmo (!), eu me organizei pro seguinte — em um modo bem Rory Gilmore de ser: antes de trabalhar, eu tomo meu café lendo um livro. É ótimo, porque eu me aqueço pra trabalhar e não fico lendo artigos na internet (a minha fila no Instapaper andava gigante). Eu tô lendo uma coleção de contos do Raymond Carver agora, que meu professor de roteiro recomendou em 2014. É excelente, e eu tava com uma saudade tremenda de ler.

Uma lida de manhã, então eu trabalho de tarde. Quando eu termino de trabalhar, eu vou visitar Hyrule um pouquinho (eu espero escrever um pouco sobre como o mundo de Breath of the Wild virou tipo um segundo lar pra mim). Daí geralmente tenho que fazer umas coisas em casa, brincar com a Vivi, jantar. Então, antes de deitar eu vejo o que o MUBI trouxe. Se é algo que me interessa assistir (ontem de noite eu vi um filme de um diretor polonês que o MUBI tava fazendo retrospectiva e descobri que sou fanzasso). Se não é algo que me interessa, eu ou vejo algo na minha lista do Netflix, que só cresce, ou escolho algo no HD, que só enche. Ou um filme ou uma série, aquilo que eu mais curtir no momento — as vezes eu só quero rever uns episódios de Gilmore Girls pra dormir tranquilo com a vida, dicas saudáveis aqui.

Nem todo dia é assim, mas pra mim é importante ter uma rotina. Terça-feira eu vou no cinema de tarde, então eu costumo não ver um filme de noite, mas leio no ônibus de ida e de volta (dá umas três horas de leitura no total e eu não durmo — importante porque eu perco o sono muito fácil se eu durmo durante o dia). Sábado é dia de trabalho normal, mas domingo eu geralmente vario também: eu procuro jogar mais (eu tô com uma pilha de jogo pra experimentar ultimamente) e estudar algo que eu ache interessante. Esse domingo eu li sobre a importância da câmera em Super Mario 64. Baita lida.

Um resultado que eu (acho) que tem a ver com essa variação que eu tô fazendo ultimamente: eu ando com mais vontade, e mais inspirado, a escrever. Ainda bem, tava fazendo falta. Eu espero fazer um resuminho do que eu vi/joguei/li/ouvi nos finais de semana, ou no final do mês. Ainda não sei, veremos.