Eu queria que todos estivéssemos prontos.
No que você acredita? Essa parece ser a pergunta que The Leftovers continua perguntando, de novo e de novo, durante suas três temporadas. E, de novo e de novo, continua te dando mais para acreditar, e mais para duvidar.
Acreditar e duvidar no quê, exatamente? Bem, aí já é totalmente da sua conta. Seja em um deus, em um propósito ou em uma explicação. Naquilo que você quer, ou não quer, acreditar. The Leftovers foi, desde o seu início, uma série sobre pessoas que ou querem acreditar em algo, ou em comprovar mentiras; sempre foi sobre pessoas que tiveram suas verdades roubadas delas mesmas em um acontecimento horrível, e a jornada delas em tentar encontrar uma verdade que os complete de novo.
O que aconteceu, então, no dia 14 de outubro de 2011, quando dois porcento da população mundial simplesmente desapareceu? No que você acredita? The Leftovers estará longe de te dar uma resposta pro mistério que iniciou a série, mas não vai te deixar na mão se precisar de uma possibilidade. Em sua última temporada, ele se propõe a não responder nada — mas ao menos nos dá o conforto nesse caos.
Kevin, Nora, Matt, Laurie e John estão todos se preparando para esse caos quando a terceira temporada começa. Às vésperas do sétimo aniversário d’A Partida, o mundo parece ter enlouquecido ainda mais, e agora acredita que estão próximos do fim: ameaças nucleares, o suposto “retorno” dos que partiram, um grande cometa ou — pior de tudo —, nada. Ninguém sabe exatamente o que vai acontecer no sétimo aniversário, mas todos têm a certeza de que vai acontecer algo. Na premiere da temporada, todos estão felizes, juntos. É quase como um final per se.
SOS
A última temporada de The Leftovers é menor, com oito episódios, e todos servem como finales. Embora cada episódio seja focado em um personagem específico (muito como a segunda temporada e os melhores episódios da primeira foram), o arco de todos sempre anda para frente. O segredo é que estamos sempre ouvindo histórias, agora, inclusive daqueles que não vemos mais. Para cada um, um de cada vez, The Leftovers traz algum conforto. E então acaba.
É o fim do mundo que assola todos os episódios da série. O fim está próximo, literalmente, pra todos. É o que acontece, a série acredita, quando suas verdades e seus significados são tirados de você: caos. Um caos incontrolável, que rumará ou para o fim, ou em busca de um novo conforto. Quando um mundo acaba — como acabou n’A Partida, sete anos atrás —, alguns entregam-se ao fim e outros buscam um novo. A jornada dos personagens de The Leftovers é tortuosa, mas não é trágica — ainda bem que a série, logo no seu segundo ano, abraçou o cômico para aliviar o seu pesado drama existencial. O mundo está sempre acabando, de novo e de novo, e estamos sempre descobrindo um novo.
E no que você acredita, no final das contas? Esses novos mundos servem pra algo, ou estamos fadados a repetir nossos ciclos destrutivos, de novo e de novo? Você acredita nas explicações que nos dão para as coisas estarem assim? Você se permite acreditar em algo? Embora se passe entre apocalipses, The Leftovers ressoa o nosso próprio mundo. Se a vida é mantida por atos aleatórios e incontroláveis, como os nossos maiores medos acreditam, então estamos fadados a essa incerteza total e destrutiva. Mas nós ao menos temos nossas histórias.
São as histórias, The Leftovers acredita, no final das contas, que salvam um mundo, ou criam um novo. Quando Grace conta o que aconteceu com seus filhos; quando Laurie escuta a história de Jill ao telefone, prestes a pular no mar; quando Nora olha diretamente para Kevin, e conta o que aconteceu. Nossas vidas estão nas histórias que contamos, e as vezes tudo o que nos resta é acreditar nelas. Lutar contra a falta de sentido do mundo é importante, porque nos torna um indivíduo. Mas quando contamos histórias, e ouvimos histórias, nós construímos um mundo entre nós, juntos. The Leftovers, no final das contas, nunca esteve preocupado com como acabamos com nossos mundos — mas como salvamos aqueles que amamos com os nossos pequenos paraísos. Nós temos esse infinito, mortal e frio, ao redor de nós. Mas nós temos um ao outro e, ainda bem, nós estamos aqui.