Peter Pan, o personagem mágico fruto do carinho que o escrito J. M. Barrie tinha pelos garotos Llewyn Davies, já tem mais de cem anos, é de domínio público e já ganha diversas revisões. O motivo? Como personagem, ele só ganha força — e profundidade — com o tempo.
Peter é um personagem trágico desde sua origem. No conto original, o menino descobre que quando pula a janela para brincar no parque ele não envelhece e, acreditando que sua mãe sempre deixará a janela aberta, fica por lá. Quando decide voltar, descobre que a janela está fechada e sua mãe tem outro bebê no colo. Peter, agora uma criança para sempre, é fadado à solidão.
Nas histórias seguintes (principalmente Peter & Wendy, que foi adaptada para o clássico filme da Disney) Peter ganha um parquinho imenso, a Terra-do-Nunca; e outras pessoas com quem brincar, as crianças Darlin, os meninos perdidos. Seus fins trágicos continuam: Peter Pan eventualmente descobre que Wendy também irá crescer, e não poderá brincar de mamãe com ele pra sempre.
A tragédia de Peter Pan também assolou o mundo real. O personagem, baseado nos meninos Llewyn Davis, é fruto de um misterioso carinho do autor pelas crianças. O mais novo dos irmãos negou qualquer suspeita de assédio sexual e deu motivos. “Barrie era a única pessoa que poderia escrever Peter Pan. Ele era um inocente”. Enquanto Pan era fadado a viver para sempre como uma criança, suas inspirações morreram rápido. George, o mais velho, morreu nas trincheiras da Primeira Guerra, com 21 anos; Michael morreu em um misterioso afogamento pouco antes de completar 21 anos; John, com 60, morreu de uma doença nos pulmões; Peter, o “verdadeiro Peter Pan” se suicidou em 1960. Nicholas, o único a morrer de causas naturais, viveu até os 77.
Quando, após a morte dos dois Llewyn Davis mais velhos, Berrie entrou em uma profunda tristeza ele escreveu: “É como se muito tempo depois de escrever P. Pan seu verdadeiro significado veio a mim. Uma tentativa desesperada de crescer e não conseguir”. É como se Peter Pan, que hoje pode ser lido muito mais como um vilão do que um herói, só ganhasse significado com o tempo. Peter Llewyn Davis diria melhor: “Essa trágica obra-prima”.