James Gray torna A Imigrante em um dos fundamentos da América.

James Gray é um diretor fenomenal. É um dos únicos diretores em atividade hoje em dia no cinema americano que consegue criar aquela sensação de estar assistindo o filme de uma vida — um sentimento que parece vindo diretamente da Era de Ouro de Hollywood, com aqueles grandes e intensos dramas que acompanhavam seus personagens de perto enquanto criavam uma parábola sobre a situação americana.

E, sem tirar nem pôr, é isso o que ele faz no excelente A Imigrante.

Lançado em 2014, depois de um bocado de dor de cabeça e de uma briga ferrenha entre o diretor e o produtor, A Imigrante é um intenso drama sobre Ewa, uma imigrante polonesa que chega aos Estados Unidos buscando oportunidades melhores de vida, como milhares de outras pessoas fizeram no início do século passado. Ewa precisa deixar a irmã Magda, que está doente, em quarentena em um sombrio hospital na Ilha Ellis, uma ilha simbólica para os EUA como o grande portal para o país.

A Imigrante é, como todo o grande filme, lindo. O desenho de produção é soberbo, e cada cenário e cada figurino vibra com vida. É nos detalhes que os anos 1920 ganham vida. Os confetes pregados nas roupas das apresentações. O sentimento de purgatório que assola a Ilha Ellis, o fetichismo das grandes roupas. Mas A Imigrante é grande mesmo em sua história. Ele é repleto de história, em cada uma das esquinas da cinzenta e implacável Nova York dos anos 1920. Ewa conhece Bruno, um homem que oferece a ela o emprego como dançarina em um vaudeville como pagamento para tirar Magda do hospital. Ewa eventualmente descobre que as intenções de Bruno são outras, e precisa fugir não só dele como do implacável sistema americano — que revela que o sonho de liberdade é repleto de poréns.

Ao dar o nome de A Imigrante ao seu filme, Gray soa definitivo. E o filme é. As excelentes atuações da Marion Cottilard (vencedora do Oscar por sua atuação em Piaf: Um Hino Ao Amor) e de Joaquin Phoenix (do excelente Ela) trazem uma delicadeza nos costumes da época, mas Gray tem seu maior sucesso em tornar A Imigrante, esse filme de uma época tão demarcada, em algo urgente.

Gray diz que A Imigrante é inspirado nas histórias da sua própria avó, uma imigrante polonesa que chegou nos EUA pela mesma época. E A Imigrante parece muito uma ode à essa memória, mas não consegue evitar em parecer mais do que isso: é a fundação da família americana. Não só de descendentes poloneses, mas a história de Ewa ecoa a de milhões de pessoas que ajudaram a fundar os Estados Unidos. James Gray quer garantir que essa história continue sendo importante, continue sendo ouvida. E A Imigrante parece ser, sim, o seu filme definitivo.