“Quando Verónica voltar, o livro acaba”, o narrador nos avisa logo no primeiro capítulo. A Vida Privada das Árvores, segundo livro do chileno Alejandro Zambra, não perde tempo com aquilo que não julga necessário. Bastante justo, então, ele já estipular os limites: quando a esposa de Julián, o personagem principal, voltar pra casa, o livro vai acabar.
Com o andar da história a gente percebe que a coisa pode não funcionar exatamente assim, mas A Vida Privada das Árvores permanece fiel à honestidade e brevidade, o que é um tanto surpreendente. Zambra conta a história de como Julián e Verónica se conheceram, o relacionamento anterior de Julián, como se aproximou de Daniela — sua enteada, pra quem ele cria as histórias sobre árvores que dão título ao livro —, e por aí vai. A Vida Privada das Árvores se interessa não sobre onde as histórias começam, mas pra onde elas vão, e elas vão relativamente rápido.
É impressionante, pra falar a verdade. A Vida Privada das Árvores apresenta Julián, um escritor que terminou seu primeiro livro usando, como metáfora, um bonsai (uma referência ao primeiro livro de Zambra, Bonsai); e de seu relacionamento com Verónica, sua esposa, e Daniela, sua enteada. Julián espera Verónica voltar da aula de desenho certa noite, e é essa espera que A Vida Privada… vai retratar. Enquanto Julián conta histórias para Daniela na cabeceira da cama imagina onde está Verónica, reflete como se aproximou de Daniela, e imagina pra onde seu relacionamento com aquelas duas mulheres estaria indo. E A Vida Privada das Árvores brilha justamente assim: sendo tão específico nos sentimentos do seu personagem, contando tantas histórias, com tão poucas palavras. Quando você mal percebe, Julián se decide na espera de Verónica.
E daí o narrador erra.