Não tem alma, mas A Criada é um dos melhores filmes do ano.

“Caramba”, eu pensava direto. “Eu não acredito”. Eu fiquei assim pelo que, um terço do filme? A Criada me deixava de queixo caído direto.

Considerando que o filme não esconde violência e sexo com nenhum pudor (inclusive gosta de misturar os dois), é incrível que não sejam as imagens que me embasbacaram em A Criada, e sim a história. Quando eu cheguei na metade, e o filme já tinha me surpreendido me mostrando até onde ele estava disposto a me levar, ele simplesmente salta pra uma outra coisa — e me leva junto.

Filmes assim geralmente não me agradam muito. O que eu gosto de ver no cinema (e, basicamente, em qualquer história) são os personagens. Eu gosto de acompanhar esses personagens, de viver aquela jornada com eles. A Criada tá muito mais interessado na tragetória em si, e não se importa muito com os personagens. É um elenco grande, e que pouco a pouco vão sendo deixados de lado enquanto a história segue em frente.

Mas que história. A Criada se passa na Coréia nos anos 1930. Lá, um vigarista contrata uma ladra para ser a criada de uma jovem e misteriosa herdeira de uma farta herança com os planos de fazer a herdeira se apaixonar pelo homem e, assim, roubarem a herança dela. Os planos começam a dar errado quando a mulher se apaixona pela sua nova criada. E aí o escambau.

A Criada perde a “alma”, digamos assim, porque não me faz me preocupar muito com o futuro das pessoas que o filme acompanha. Ele se preocupa muito mais, e me fez me interessar muito mais, onde aquela intricada história ia desembocar. Os irmãos Coen, diretores de filmes como Fargo: Uma Comédia de Erros e Onde Os Fracos Não Têm Vez, conseguem dosar muito o seu cuidado com os personagens e as suas histórias, que geralmente desembocam em tramas onde os erros das pessoas se transformam em verdadeiros castigos. Chan-wook Park só consegue alcançar isso com a personagem principal (a criada do título), mas quando sua história é tão maravilhosa e deslumbrante quanto esse filme aqui, tá tudo bem. Em um filme lindo, em que o diretor nos pega pela mão corre, pula e se diverte tanto na montanha-russa de sensações que um filme desses proporciona, meu único porém é que eu não queria que ele acabasse.