10.000 km foi a melhor surpresa que eu tive esse ano

Eu não sabia nada de 10.000 km quando ele entrou na biblioteca do MUBI no meio desse mês. Não conhecia os atores, o diretor, nada. Mas o MUBI me indicou ele com força: a história de um casal que, por um ano, precisará viver com a distância do título entre eles. Eu juro que já ouvi várias histórias parecidas de relacionamento a distância uma das minhas favoritas, aliás, comenta exatamente a natureza desses relacionamentos) mas, ei. Que tal dar uma chance, né?

Ainda bem que eu dei. A história segue um casal que, ao que parece, está junto há bastante tempo. Ela, Aléx, é uma fotógrafa; ele, Sergi, é um professor substituto. Conhecemos eles enquanto estão tentando fazer um filho no pequeno mas aconchegante apartamento deles em Barcelona. Aléx recebe um email, informando que ela ganhou uma bolsa para viver por um ano, com tudo pago, em Los Angeles para executar um projeto. Eles conversam sobre as possibilidades, e decidem seguir com o relacionamento a distância.

Quando essa primeira cena acabou que eu percebi o quão habilidoso é o filme. Ao ver Aléx chegar em seu pequeno apartamento nos EUA, e ambos perceberem que a coisa é mais difícil do que eles haviam imaginado, o filme já havia me aproximado tanto de ambos que fica cada vez mais complicado vê-los ter de lidar com a distância.

E é justamente dessa distância que 10.000 km se refere o tempo todo. Ela não é só literal. Muito do que ambos os personagens acabam se referindo quando conversam sobre o seu relacionamento é sobre como a distância parece intransponível. Não é só um atlântico de diferença, vale dizer. Muito do espaço que se cria entre os dois se dá justamente pelas memórias que um nutre do outro, que se aventuram no meio dos dois, de seus cotidianos. O espaço entre duas pessoas em um relacionamento é sempre o melhor tema de um filme romântico (no supracitado Ela, por exemplo, o espaço entre Theodore e Samantha é justamente o que os une e que os condena) e 10.000 km usa ele tanto em texto, na distância física entre seus personagens, e no subtexto, quando explora o que os leva a acabarem se provando sempre, buscando entender até onde o seu amor aguentará.

10.000 km me aproximou tanto de seus personagens e de toda essa situação (não é preciso ter um oceano separando você daquela pessoa que tu ama pra perceber o quanto vocês estão distantes, enfim) no que eu acho que é a melhor surpresa que eu tive com um filme esse ano. Eu jurei que ia enjoar dos planos feitos com ligações via Skype, ou com um mostrando pro outro algo no Street View, mas Carlos Márquez-Marcet, o diretor, é muitíssimo habilidoso em entregar sempre o suficiente e de conseguir tirar dos dois excelentes atores o sentimento de seus personagens só na respiração.

O final simplesmente me trai, muito porque ele é preguiçoso no que ele tinha construído até ali. Mas o final é só a maior prova do quanto 10.000 km consegue te deixar íntimo de Aléx e Sergi, e o quanto você gostou de passar esse tempo junto com eles. Vai ver é porque nós, ao menos, podemos nos dar o luxo de nos sentirmos próximos de alguém.