Esse é um péssimo texto sobre o melhor livro que eu já li na minha vida.
Então, o post hoje talvez seja curto demais. Difícil eu te confirmar, mas acho que vai ser.
A dica de hoje é um livro. Na verdade, é uma peça. Então, a dica é dupla.
Esperando Godot. Você já leu? Se já leu, deve entender. Não tem muito o que ser dito, né? Na verdade, tem muito o que ser dito, mas é difícil. Deixa eu ver por onde começar.
Bem. Tenho que começar por aqui: Esperando Godot é uma obra-prima. Não tem outro jeito de falar. É estranho, porque tu termina o livro e simplesmente sente que essas últimas horas lendo ele (ele é bem curtinho) te fazem ter certeza de que, sim. Você estava com uma obra-prima nas mãos.
O que te faz sentir isso? Bem, aí que é difícil de explicar. Esperando Godot é diferente de tudo que você vai ler, mas também não é isso que mostra o seu poder. É algo que está ali dentro, escondido, pronto pra te pegar.
Tá difícil. Deixa eu tentar de novo.
Esperando Godot é uma peça escrita por Samuel Beckett e encenada pela primeira vez em 1953. Na peça, nós acompanhamos Vladimir e Estragon, duas pessoas que estão, bem, esperando Godot. A peça é basicamente isso. É muito mais, também. Esperando Godot é o principal trabalho do chamado “teatro do absurdo”.
Bem. Definir o absurdo é, basicamente, definir Esperando Godot. O absurdo é, em termos leigos, o nome que a gente dá a duas forças intrinsicamente humanas: a de uma busca incessante de buscar o valor e o sentido dos acontecimentos da vida; e a nossa incrível incapacidade de nunca encontrar. Agora, tente imaginar o que é sentir isso nas quase duzentas páginas de Godot. É, é exatamente assim que eu me senti.
Eu poderia passar parágrafos e parágrafos aqui tentando te explicar todos os sentimentos, interpretações e dinâmicas que eu explorei ao ler Esperando Godot. Tudo seria completamente desnecessário, porque só de eu imaginar em escrever isso, tudo perde a força. O que eu posso, seguramente, te recomendar é que a leitura de Esperando Godot pode não mudar sua vida, mas certamente vai te acordar. Nem que seja naquele tempo da leitura.
O que eu posso te dizer com certeza é que, nessas quase duzentas páginas, Esperando Godot me quebrou. Ele não é confuso, ele não é difícil, ele não é previsível, ele não é fácil. Esperando Godot ignora completamente qualquer classificação que eu queira dar pra ele. É, como o absurdo no qual foi escrito, uma verdadeira força. Ele me destruiu em vários pedaços, os escondeu e me fez procurar. É a experiência mais única que eu tive. Eu jamais vou esquecer. Ainda bem que Godot não chegou, porque eu quero ficar esperando ele por muito tempo.