Uma noite de verão em A House in California

O som de grilos em uma noite. Parece que vai chover depois. Uma criança fala para a avó que está muito escuro. Ela não consegue dormir.

Assim começa A House In California.

Criado por Jack Elliott antes de fundar a Cardboard Computer, A House In California é um jogo de aventura de apontar-e-clicar em que você é um garoto na bendita casa em Califórnia. A casa é de seus avós, e há uns vaga-lumes por lá. Tem a lua, também.

Como todo o bom apontar-e-clicar, A House In California possui cenários em que o personagem possui algumas opções para explorar. O primeiro é o da casa, que tem a lâmpada, os vagalumes e a lua. Nesses ambientes você possui algumas opções de ação diferentes. Clique em “Ver” e depois na casa, por exemplo. Você pode clicar em “lembrar” e clicar nos vagalumes. “Esquecer” a lua, “Pegar” a lâmpada, e assim por diante. Você escolhe a ação. O jogo responde com uma frase, as vezes uma lembrança, as vezes um sonho, as vezes um enigma. A partir daí, a jornada vai ficando cada vez mais mágica, e o jogo se revela em frente ao jogador.

A House in California se revela lentamente ao redor do seu jogador e do personagem que esse controla. Você vai para ambientes distintos e decide esquecê-los, ou lembrá-los, e o jogo se transforma num conto de ninar, ou num sonho ou, ainda, na lembrança de um sonho. Tudo depende de como você vai decidir explorar (e, pricipalmente, sentir) os ambientes e os objetos ao seu redor.

Se você já jogou algum dos atos de Kentucky Route Zero, ou até mesmo algum de seus interlúdios, deve ter reparado nas semelhanças. Elliott emprega alguns recursos bastante semelhantes, como o de objetos que mudam de significado quando você os “percebe” de outra forma no jogo, ou como um ambiente muda a narrativa basicamente sendo descoberto depois, dependendo do caminho que você escolhe seguir. Mas, mais que isso, A House In California exibe a sensação que é jogar Kentucky Route Zero por excelência: a de se sentir preso em um sonho que é, na verdade, uma lembrança, e não conseguir distinguir o que aconteceu de verdade e o que é apenas um truque de seu cérebro.

Como nos melhores momentos de KR0, A House In California vai um pouco além. É aí que o jogo começa a te confundir. Não pela história confusa (ela é, na verdade, bem simples). Mas ao construir uma jornada tão pessoal e tão simples, o jogo começa a nos confundir em o quê faz parte da experiência do personagem e o que é a nossa própria experiência. O quanto das lembranças que estamos buscando são, na verdade, lembranças nossas.

E é aí que A House In California chega: em você.