Her Story é um jogo que valoriza a atenção de seu jogador. Não sua persistência ou insistência, não a habilidade. Não é fácil prosseguir, após um tempo, não porque você não é habilidoso o suficiente, mas porque você não prestou atenção suficiente.
O jogo é um filho de Serial, um dos melhores podcasts da internet. Ao contrário de sua influência, porém, Her Story não é um caso real, e o jogador não é um espectador. Embora muito da jogabilidade seja assistir vídeos (o chamado Full Motion Video), Her Story o coloca como um investigador, uma pessoa querendo saber a verdade sobre o assassinato de um homem. Para isso, você possui alguns clipes de vídeo da viúva, interrogada sete vezes pela polícia.
A interface de Her Story emula um computador com uma base de dados que consiste, basicamente, em um mecanismo de busca para centenas de clipes de vídeos. O sistema tem suas limitações, ele exibe até cinco vídeos, de mais de duzentos, e toda a vez que você procura por alguma palavra que gera mais de cinco resultados, está sempre limitado a acessar apenas os primeiros resultados. Mais que enfrentar essas limitações e descobrir métodos de burlá-las, o jogador deve utiliza-las ao seu favor, e trabalhar em torno delas.
Você não precisa ser inteligente para jogar Her Story, você precisa prestar atenção. Quando você parece ter chegado ao final de uma linha de raciocínio, não hesite em olhar um clipe de novo, e perceber algum detalhe que antes lhe pareceu bobo ou desimportante. Her Story pode não ter uma história incrível, mas é muito bem pensado para que o jogador estabeleça um padrão narrativo a partir da forma não linear que você acessar os clipes. E a qualidade de sua história, ao final das contas, não enfraquece muito o jogo. Assim como Garota Exemplar, que rendeu um excelente suspense de David Fincher, Her Story também é um “livro de aeroporto”, desses que você compra, se diverte enquanto engole tudo de uma vez, mas deixa para trás assim que termina, porque sua história é muito bem intrincada, mas não necessariamente boa.
Aqui, o mistério da morte de um trabalhador de uma vidraçaria é mantido apenas pelo depoimento da viúva. Durante sete entrevistas, você deve guiar seu raciocínio pelos fatos que a mulher conta — desde como foi seu dia até alguma coisa que ela deixou passar numa conversa anterior. A partir daí, o jogador deve desvendar seu próprio caminho.
O mais fascinante de Her Story, porém, é entender justamente que dificilmente dois jogadores irão costurar a narrativa da mesma forma, e valorizar isso. Por vezes soando falso, as vezes realmente emocionante (diferente da Polygon, nosso jogo do ano também se baseia simplesmente em uma voz), Her Story é sempre frustrante, mas também sempre recompensador e surpreendente. Ao final de uma narrativa que você mesmo decide desvendar, o mais triste é que não haverá mais nada para descobrir.