Thrillers processuais. Talvez um dos meus estilos de filme favoritos. Todos os Homens do Presidente talvez seja o melhor deles.
Existe algo nesse estilo de filme. É sobre o processo, e o processo precisa ser bem filmado. Pakula entende isso e filma o processo de investigação e revelação do caso Waltergate de maneira fluida e densa, repleta de detalhes, nomes e datas, mas sempre de forma empolgante e, em muitos momentos, tensa. A maneira como Pakula exibe uma Washington nas sombras, e a redação do Post como o único ponto de luz, que precisa iluminar uma cidade de segredos, é impecável.
Mais que ser uma grande e bela alegoria visual, Todos os Homens do Presidente é uma aula de como entregar informações ao espectador. Intricado como é, o caso Waltergate aqui é narrado com tantas minúcias e detalhes que a atenção do espectador é necessária, mas nunca forçada. Pakula parece muito mais interessado em “documentar” a descoberta dos acontecimentos pelos repórteres que há pouca intromissão para explicações, o que acaba tornando toda a dinâmica entre Hoffmann e Redford ainda mais hipnotizante. São eles que nos levam em frente e abrem caminho para as dezenas de nomes e valores que ouviremos pela frente. É nosso trabalho acompanhar.
Tem algo que me impressiona em Todos os Homens do Presidente, porém, que é a sua maturidade. Vi poucos filmes que tem esse visual e essa narrativa madura. Um filme que entende seu valor fílmico, narrativo e estético, e entrega uma obra a altura de sua importância. Embora a narrativa do filme foque muito mais na investigação de Watergate, e Pakula prefira esvaziar sub-tramas para concentrar no fluxo principal, muito do que nos faz nos aproximar e seguir estes personagens faz parte do filme de maneira visual. Como Hoffmann se comporta, como Redford fala e manuseia as centenas de notas que ele possui na sua mesa. É uma construção de personagem minuciosa, silenciosa e delicada, mas bastante eficaz e madura, por parte do diretor e de seus atores.
Essa maturidade se reflete em todo o filme. A narrativa não para para nos explicar algo, as imagens nunca param de nos surpreender e nos provocar com seu jogo de sombras e cores, a trilha-sonora cria um clima de tensão nunca intrusivo… tudo funciona a ponto de bala, de maneira impecável e, principalmente, com uma dedicação que eu pouco vejo. É uma vontade de fazer um cinema maduro, com um fluxo dinâmico, inteligente e repleto de ritmo e estilo que faz de Todos os Homens do Presidente um filme surpreendente.