Se a primeira temporada de The Leftovers parecia demais com a última temporada de Lost, a produção anterior de Damon Lindelof, esse ano a série da HBO supera comparações e vai além. Em sua segunda temporada, The Leftovers se transformou em um dos melhores shows da TV — não com um grito, mas com um suspiro.
Na primeira temporada da série, que dividiu a audiência entre fãs e haters, sem meio-termo, The Leftovers extrapolava na tristeza de uma família após “a partida”, um evento inexplicável em que dois porcento da população mundial desapareceu em pleno ar. The Leftovers era extremamente triste, com mistérios um tanto mirabolantes demais, mas uma excelente investigação sobre a depressão.
Não me entenda mal: eu sou um dos grandes defensores da primeira temporada de The Leftovers, embora ainda enxergue seus problemas. Sua estrutura narrativa, focando-se em diversas pessoas através dos EUA, nem sempre escolhia os melhores pontos de vista nem os melhores dramas particulares. As vezes, também, a série parecia carregar muito na tristeza e na auto-importância que dava a si mesma. Mas acertava em nunca menosprezar o sentimento de seus personagens, e conseguia transpôr para a tela o que se passava na mente deles visualmente, sem a necessidade de diálogos expositivos.
The Leftovers manteve suas qualidades nesse ano, e foi além. Mudando de tom completamente, simplificando sua estrutura e escolhendo melhor os dramas no qual se focar, a série de Lindelof encontrou o ritmo certo, e quase perfeito. Observe, por exemplo, como acerta muito mais com uma nova vinheta (e compare-a com a da primeira temporada):
É uma mudança drástica no tom da série de modo geral, mas não muda o comportamento de seus personagens — isso é deixado para a narrativa. The Leftovers se passa alguns meses após os eventos do último episódio da primeira temporada, quatro anos após a “Súbita Partida”. Kevin, Nora e Jill se mudam para uma nova cidade, no interior do Texas. The Leftovers ainda se preocupa com os questionamentos existenciais de antes, mas agora dá espaço não só para o drama e a agonia dos seus personagens. Há também um pouco de esperança, e até mesmo alegria.
Por mais estranho que possa parecer, The Leftovers é um show sobre o pós-pós-11 de setembro. A questão não é mais sobre como os EUA devem retomar suas vidas após uma tragédia, mas sim o que acontece depois disso. A estranheza da normalidade tentando bater à sua porta, e você não ser mais o mesmo que antes, e não conseguir voltar a ser aquilo nunca mais.
The Leftovers entra para um panteão de séries como Six Feet Under, Enlightened, United States of Tara e The Wire, séries que usavam anedotas para tratar de dramas humanos de maneira indireta — e alcançar, assim, uma jornada quase espiritual, emblemática, sobre o que somos. The Leftovers deixou de ser um drama com um mistério a ser desvendado e amadurecer para um drama em que o mistério pouco importa. Ele provavelmente continuará sendo a incógnita que sempre será, já que é justamente a busca pelas respostas que faz a vida daqueles personagens girar.