Quantas pessoas bacanas você viu no cinema? Bacanas mesmo. Alguém gente-fina, que é legal e se importa em fazer algo bom — seja para si, para a família ou para um bem comum —, mas que não é um herói por isso. É só uma pessoa bacana.
Burt e Verona, o casal no centro de Por Uma Vida Melhor, são duas pessoas bacanas. Eles estão pelos trinta, são saudáveis, educados, gentis, possuem um bom emprego, não são neuróticos e estão realmente apaixonados. Eles são o extremo oposto dos demais personagens que Sam Mendes leva para o cinema em seus filmes (Beleza Americana, Estrada para Perdição, Foi Apenas um Sonho e os dois últimos 007). A maior preocupação deles? Encontrar um bom lugar para criar sua filha, que ainda não nasceu.
Por uma vida melhor é simples e eficaz. Em seus pouco menos de cem minutos, conta a história de como o casal descobre que os pais dele (os dela já morreram) estão se mudando para a Bélgica alguns meses antes do nascimento da neta, e então decidem buscar em outras cidades dos EUA e do Canadá um lugar para viver. A única imposição: que haja algum tipo de conexão, que seja perto de um amigo ou de um parente, para que eles finalmente possam plantar raízes. Verona observa, mais de uma vez, se eles não são uns ferrados. Afinal, eles vivem em uma casa pequena, perfeita para um casal, com uma janela tampada por papelão. Mas a vida adulta está batendo à porta, e eles cruzam o país para Phoenix, Houston e Montreal, visitando conhecidos no caminho para encontrar um estilo de vida que seja ideal para sua futura família.
É incrível que Por uma vida melhor seja dirigido por Mendes. Diretor de grandes dramas e com uma mão pesada para atuações fortes, seu filme é um desvio de rota. Com uma estética mais do interior, com mais cores e personagens um pouco mais satisfeitos com suas vidas, Por uma vida melhor não é mais uma das tragédias suburbanas do diretor britânico. Aqui, empregando um bem vindo teor cômico, afinando ainda mais a direção de seus atores e com um roteiro afiado e pungente, que não tem medo de ser sensível e até mesmo triste às vezes, Sam Mendes mostra um conforto que eu não vi antes na carreira.
E, talvez por isso, Por uma vida melhor seja seu melhor filme. É o filme em que tudo está mais confortável em seus lugares. Sem os personagens desesperados de Foi apenas um sonho nem as sequências de ação grandiosas (e excelentes) de 007: Operação Skyfall, Mendes finalmente dá espaço para que seus atores tomem o filme para si. É de Burt e Verona o filme — reflexos de seus autores, os excelentes David Eggers e Vendela Vida, que não são apenas grandes escritores e ensaístas, mas também excelentes pessoas (sério, eles tem uma loja pirata, com tapa olhos, pernas de pau e bússolas em frente a uma de suas editoras).
Você pode enxergar Por uma vida melhor como um filme em que pessoas sem grandes problemas encontram algo pelo qual se preocupar. Mas e quem aqui não faz isso? Sem grandes comentários, sem grandes declarações, apenas uma observação sobre família e o significado de lar, Por uma vida melhor é um dos filmes que melhor sabe o que é e onde chegar que eu vi em um bom tempo. Calmo e delicioso de assistir. Eu gostaria de ver filmes assim todos os dias.