As Virgens Suicidas

Cecilia, Mary, Lux, Therese e Bonnie estão mortas e não há nada que possa ser feito. As cinco filhas do sr. e da sra. Lisbon suicidaram-se, uma após a outra, e só nos resta ouvir o relato obcecado de um grupo de garotos apaixonados pelo enigma de suas breves vidas.

As Virgens Suicidas conta a trágica história da família Lisbon, narrada por um grupo de garotos do subúrbio que conviveu com as meninas durante alguma época de suas vidas. A tragédia – anunciada no título e no primeiro parágrafo do livro – é inevitável e é inútil cultivar qualquer tipo de afeto, torcer pelo bem, pela razão ou esperar entender a confusão de pensamentos e emoções que angustiavam as meninas Lisbon naquela vizinhança dolorosamente comum.

Cecilia foi a primeira, com treze anos, depois de uma tentativa frustrada na banheira. As pulseiras das irmãs escondiam, no dia de sua primeira festa em casa, as cicatrizes nos pulsos. Ninguém encontrou um motivo. Quando foi socorrida no quintal, com o peito perfurado pela cerca branca de madeira, foi como se tivesse cumprido sua parte em um acordo que ninguém sabia direito qual era, mas que todos sabiam que terminava assim.

As meninas já eram observadas há muito pelos meninos da escola, e já faziam parte do imaginário de todos os adolescentes da rua. A entrada no mundo das irmãs Lisbon, entretanto, era barrada pelos pais: a mãe religiosa, autoritária, que vive em negação; o pai indiferente, sem substância, mais morto que as filhas. Os garotos se encontravam sempre na casa de alguém e levavam consigo tudo que tivessem que fizesse parte do mundo das irmãs. Seus pertences, fotos, um fio de cabelo que talvez estivesse preso na mochila de alguém, amostras retiradas de sacolas de lixo. Criavam um banco de dados, falavam sobre as meninas, observavam sua casa, em uma tentativa de recriar os dias vividos por elas. Em uma tentativa de descobrir o que faziam, o que comiam, de que falavam e o mais importante, se pensavam neles tanto quanto pensavam nelas.

No fim das contas, As Virgens Suicidas tem pouco a ver com os motivos dos suicídios. A irredutibilidade da morte dispensa perguntas. Um dos garotos nos descreve a morte, imaginada por ele, como tirar as botas depois de um longo dia de trabalho, subir uma duna de areia e sentar em um chalé de frente para o mar. Uma das muitas tentativas de toda a vizinhança de tentar amenizar as coisas, negar os problemas, ignorar a vida. E quando as Lisbon decidem deixar essa vida, acabam deixando para trás um mundo sedento por respostas, e reduzem a existência ao tic-tac do relógio na parede, a poda das árvores mortas, varrer as folhas secas do pátio e ao silêncio de todas as perguntas não feitas, encerradas na boca de cada um que as conhecia. Um vazio que ninguém consegue evitar, e o bairro começa a morrer, logo após as garotas.

O livro é recomendadíssimo! Como é um romance curtinho e de escrita tranquila, pode ser lido depois de um dia de trabalho, pra dar uma relaxada. Tem uma ou duas partes arrastadas, mas nada que comprometa toda a leitura. Em 2013, a Cia das Letras lançou uma edição com nova tradução, de Daniel Pellizzari, mas o original é de 1993. Foi escrito por Jeffrey Eugenides e adaptado para o cinema por Sofia Coppola.