Medianeras

Na cidade de Buenos Aires, a arquitetura irregular dos prédios reflete perfeitamente aqueles que vivem ali. O crescimento acelerado e imperfeito, a falta de comunicação, a distância: novos prédios nascem a cada instante, criando e desenvolvendo uma cultura do inquilino, que nos ajuda a passar pela cidade de maneira insensível.

Os cabos de energia e comunicação tapam a visão clara do céu. Seja quem for que os colocou ali, queria que todos se sentissem conectados. Na sua imensa solidão, todos conectados.

É em Buenos Aires que encontramos Mariana e Martin, que estão aprendendo a lidar com sua solidão depois de serem deixados ou deixarem seus antigos relacionamentos. Martin culpa, entre outras coisas, as estruturas arquitetônicas por suas histerias. Trabalhando como desenvolvedor de sites, ele não é o que pode se chamar de um tipo social. Além de não ter amigos, sua única companhia, Susú, o cachorro de sua ex-namorada, parece ter herdado seu jeito anti-social, o que não facilita em nada seus relacionamentos.

Morando na mesma rua de Martin entre seus manquins, Mariana, uma arquiteta frustrada, passa seus dias criando vitrines para lojas. A vitrine, esse lugar mágico e abstrato, perdido entre a loja e a calçada, parece ser o único lugar em que ela se sente bem. É ali que, de passagem, um ou outro desavisado para e vê seu trabalho. E a vê.

Duas pessoas unidas por suas solidões, o que não é o mesmo que ser unido pelo amor, ódio, comprometimento, tédio ou outro sentimento compartilhado. Não se pode falar em solidão como um único sentimento. Cada um experimenta a sua solidão, e por isso ela não é um elo que liga todos os solitários uns aos outros: cada pessoa conhece apenas a sua própria. No entanto, ninguém nunca está completamente sozinho. Por mais que Marina goste de ir ao planetário para lembrar-se de seu lugar de indivíduo único e solitário no mundo, esquece-se que divide, não só a sala do espetáculo, mas toda sua existência com milhares de pessoas todos os dias. E é por estarem perdidos em suas ilusões de solidão que Martin e Mariana estão fadados a não se encontrarem.

Medianeras não é uma história de amor, mas uma história sobre o que acontece entre um e outro amor. É o silêncio que existe nas mudanças de faixas de um vinil. Um pequeno recorte da reconciliação entre o indivíduo que restou e o que ficou para trás e que nos convida, ao contrário da cidade, a não passarmos insensivelmente pela experiência de existir.