Voltando pro paraíso de Burnout Paradise

Antes de levar o nome da franquia Need for Speed de volta ao topo dos jogos de corrida nessa geração com dois jogos excelentes (suas visões dos clássicos Hot Pursuit e Most Wanted), a Criterion já era um estúdio amado pela indústria. Seus títulos demoravam um tempo não muito curto, mas também não muito longo, e Black e a série Burnout sempre impressionaram por sua qualidade.

Mas foi em 2008 que todos viram o que a Criterion podia fazer: com o lançamento de Burnout Paradise,

Considerada hoje a versão definitiva da franquia (até porque a Criterion não se manifesta em fazer um novo jogo da série, embora mostre bastante respeito com os fãs), Burnout Paradise apresentou elementos que seriam levados aos jogos do Need for Speed pelo estúdio três anos depois, e mesmo assim sem a mesma essência genial do seu já clássico.

O gênero de corrida, seja ele no estilo arcade ou no estilo simulador, sempre fora sujeito a uma jogabilidade bastante restrita a convenções estabelecidas há muito tempo, lá no primeiro Gran Turismo e no The Need for Speed original. São princípios simples e que funcionam até hoje, é claro, mas com a chegada do Xbox 360 e do Playstation 3, apontavam um desgaste claro: o poderio gráfico fazia com que a jogabilidade excluísse a impressão de velocidade e adrenalina do gênero porque, afinal, ela foi pensada para uma época que essa impressão acompanhava um analógico pesado no PS1.

Imagem do jogo Burnout Paradise Essa, minha gente, é a linda Paradise.

O que fazer então? A Criterion sabia que mudar tudo completamente não era o canal. Gêneros possuem diretrizes a serem seguidas para o bem e para o mal, mas ela também sabe que há como inserir um frescor, um sopro de novidade em tudo. Pra isso, claro, ela reformulou tudo e levou a ideia de passar a impressão de velocidade às últimas consequências. Em Burnout Paradise, não há nada que desacelere o jogador. Não há controle, não há timer, não há sequer menu ou painel de configurações que o desacelere desde o primeiro instante. Paradise já começa voando baixo, e você precisa correr atrás.

Com o seu lançamento em 2008, Paradise impressionou pela sua imensidão de cenário (até hoje Paradise City é uma cidade invejável em mundos abertos por aí, de tão bem planejada e acessível). A RenderWare, engine gráfica desenvolvida pelo estúdio e que chegaria ao seu final em 2009 após seu uso em The Sims 3, era a responsável não só pela cidade mas também pelas empolgantes corridas repletas de partículas que se dilaceravam nos carros de Burnout. Quando o road rage está em níveis altos e você se atreve a olhar um pouco mais pra frente do que geralmente deve, pode ver uma pegação de pau tremenda destruindo completamente todo o trânsito.

Por falar em road rage, esse é um dos modos de corrida do jogo, que podemos chamar de clássico no Burnout. Nele, você precisa destruir (dar os famosos takedowns) os carros adversários em um determinado intervalo de tempo. Mas a ausência de menu traz uma nova dinâmica para essa estrutura de jogo de corrida e leva a máxima de que em cada esquina há um novo desafio. A cada esquina, literalmente, ao pressionar o botão do acelerador e da marcha-ré, você inicia um dos desafios do jogo (e são centenas, zeradas e dificultadas a cada subida de nível). Além do clássico road rage, há o marked man, em que você precisa chegar ao ponto final do trajeto (outra esquina, normalmente bastante longe) enquanto uma frota de carros pesados tenta dar takedowns em ti; o race, um modo de corrida rápida (onde os takedowns estão liberados pra aumentar o nível de boost); por último, o stunt run é a corrida de performance, em que dar loopings, extrapolar drifts e destruir os vários outdoors do jogo somam pontos em um intervalo de tempo.

É isso. Não há menus para selecionar a corrida e coisa e tal. Você é largado no meio dessa cidade gigante e, na primeira esquina que vê, já pode meter o pé pra correr. No melhor estilo arcade, Burnout Paradise não exagera em comandos dificílimos. Eles são precisos ao ponto necessário e práticos em cada botão. A versão para PC, belíssima, é bastante aperfeiçoada nesse sentido, embora o Kinect ofereça uma simulação de direção que possa interessar os jogadores mais novos.

Burnout Paradise reergeu um dos gêneros primordiais dos jogos nos anos noventa para uma nova geração de jogadores. As atrizes de segunda categoria do Need for Speed Underground foram demitidas, a historinha boba e enche-linguiça também. Você chegou na cidade de Paradise e quer correr, e Burnout te entrega exatamente isso. Pegou o caminho errado? Paradise não tranca seus limites, então trate de encontrar um retorno. Diferente dos outros jogos de corrida que vieram antes e depois dele, a Burnout Paradise parece que nunca para de desacelerar na diversão que consegue proporcionar.