Aparecida Blues

Aparecida Blues não tenta, em nenhum momento, esconder o que é e, ao mesmo tempo, não entrega, logo de primeira, a dedução óbvia de sua natureza confusa: estamos lendo uma história de amor. Amor, solidão e morte.

Alaor está morto. Todos estão. Isso, entretanto, não impede que ele vague à noite por aí, tocando seu trompete, encontrando estranhos em encruzilhadas e guiando seu carro ladeira abaixo rumo à… morte?

Aparecida Blues é uma história de narrativa não linear que fala sobre encontros. A princípio, é quase impossível não lembrar das palavras de Mário Quintana em 5005618912, quando fala do homem ao bar: “aquele homem ali no balcão, caninha após caninha, nem desconfia que se acha conosco desde o início das eras. Pensa que está somente afogando os problemas dele… Ele está bebendo a milenar inquietação do mundo“. Inquietação esta, traduzida por nosso nobre narrador como apaixonar-se.

Aos poucos, dentro de uma estrutura de repetições, como em um acorde, vamos entendendo melhor quais são as relações entre os elementos invisíveis da trama – como essa inquietação amorosa -, criando as situações fora do visto e do dito, que parecem apontar para um lado enquanto a história acontece do outro. Afinal de contas, como nos é bem avisado, há mais silêncio do que sons no som, e há várias maneiras de se contar uma história.

Talvez esse seja o maior trunfo de Aparecida Blues: não precisar explicar-se diante do leitor. Assim como Alaor encontra um meio de tocar para um surdo, de se fazer ouvir com seu silêncio, ela simplesmente se apresenta e, junto à introdução, pede que tenham calma ao tentar desvendar sua dinâmica confusa. A pressa e a sensação de ter sacado a história podem fazer com que você perca as partes mais simples e comoventes.

A hq está disponível para ser lida gratuitamente, basta clicar neste link melancólico sentado no canto do bar, logo ali.

Aqui.