Existe um grande problema em O Homem de Aço, o filme de 2013 dirigido por Zack Snyder e produzido por Christopher Nolan. Ele tenta encontrar, na fórmula que tornou O Cavaleiro das Trevas um sucesso, uma revitalização para um herói que viu dias melhores. Mas não funciona. A humanização que Batman recebeu nas mãos de Nolan não cabe ao Super-Homem, ele não é o conflituoso e solitário homem que vive no meio de morcegos, embora David S. Goyer (o roteirista) insistentemente trace paralelos entre o isolamento de um e de outro. Em uma determinada cena do filme, toda essa problemática é exibida: no meio de uma batalha que dura mais de sessenta minutos (o Super-Homem de O Homem de Aço não evita a megadestruição, ele contribui para ela), um dos inimigos lança um caminhão contra o Super. E ele sai voando para escapar da mira. Ele salva a si mesmo. Ele deixa o caminhão destruir um prédio cheio de pessoas para salvar a si mesmo e, depois, salvar apenas aqueles que lhe interessam. Esse não é o Super-Homem que todos conhecemos.
Não é o Super-Homem de Grandes Astros: Superman, a obra definitiva do maior herói de todos os tempos.
Grant Morrisson e Frank Quitely (com a parceria do colorista Jamie Grant) fazem de Grandes Astros: Superman uma homenagem ao herói, sua história e sua imagem para os super-heróis nos mais de oitenta anos. Os doze volumes (hoje disponíveis em um tomo pela Panini) são claramente uma visão mitológica do Super-Homem, em que seus poderes são mais poderosos e suas virtudes, mais virtuosas. Até mesmo a forma do herói é mais engrandecida com o traço de Quitely, que o torna não em um homem corpulento, mas no monumento que ele é e representa.
Os doze volumes traçam paralelos com os doze trabalhos de Hércules, também uma das claras inspirações de Morrisson para o trabalho. Em Grandes Astros, Super-Homem é o semideus que todos sempre desejaram e imaginaram: altruísta até mesmo em seus momentos finais. Há relações entre Kent e Jesus Cristo, também, mas Morrisson não é o primeiro a traçar o paralelo e aqui não parece ser também uma sugestão central, apenas uma das ponderações que o roteirista e o desenhista usam para citar as diversas fases do herói (boas e ruins) durante todas essas décadas.
Em cerca de 320 páginas, Morrisson e Quitely tratam de exibir o ideal do Super-Homem com um tema final: o que o Super faria se soubesse que está morrendo? Fazendo uma espécie de “lista de afazeres”, o último filho de Krypton percorre as centenas de páginas em uma volta às origens. Ele precisa contar sua identidade secreta para Lois, salvar Metrópolis de Sansão e Romeu e, claro, enfrentar seu arqui-inimigo Lex Luthor. No volume 10 (o melhor de todos, na minha sincera opinião), ele até cria um universo simulando uma realidade em que o Super-Homem não existiria. O resultado é uma deliciosa homenagem aos criadores do herói, em uma das sequências mais bem pensadas por Morrisson.
Com um trabalho gráfico belíssimo e uma história que, se analisada como uma soma de suas partes possa tender ao exagero, mas analisada com um todo reflete tudo aquilo que o Super-Homem representa para os quadrinhos e para a cultura pop, Grandes Astros: Superman exibe que nem todos os super-heróis precisam dessa tão falada “humanização” que a Marvel e a DC parecem apavoradas para meter goela abaixo. É um suspiro de fantasia e paixão pelo ideal do super-herói de que ele, afinal, é um super. É algo além. É algo melhor que todos nós.
Esse é o Super-Homem em que todos queremos acreditar.