True Detective

Imagino que, se você gosta de acompanhar séries americanas e assistiu American Horror Story, Fringe, FlashForward, Supernatural e tantas outras, deve se perguntar, por vezes, o que aconteceu com os mistérios nas séries. Como exemplo mais recente, American Horror Story tentou criar uma grande expectativa sobre a identidade da Suprema, a bruxa que tomaria o lugar da antiga líder do clã, tomando para si todos seus poderes e energia vital. Parece bom, mas acontece que, preocupados mais com a quantidade de elementos na série – bruxas, caçadores, fantasmas, criaturas mitológicas, voodoo, subtramas de problemas adolescentes ou casos amorosos para os quais ninguém liga, insira aqui algo que eu tenha esquecido -, a história acaba ficando em segundo plano. Então acontece o que sempre acontece em séries que tentam causar um impacto muito grande: matam e ressuscitam personagens a torto e a direito.

Já se tornou rotina, dessa forma, termos séries nas quais a narrativa é complicada, corrida e com cara de coração de mãe de roteirista: sempre cabe mais algum plot-twist de última hora. Para nossa sorte, entretanto, esse não é o caso de True Detective.

Martin Hart e Rust Cohle são dois detetives que tentam descobrir o que há e quem está por trás do assassinato de Dora Lange, uma jovem prostituta encontrada em um campo, em meio a uma coroação bizarra. Martin divide seu tempo entre o trabalho, sua família e sua amante, enquanto Rust lida com a perda de sua filha, seu problema com drogas e filosofia, tagarelice-seletiva, niilismo e desejo de morte. Os elementos vão sendo adicionados pouco a pouco, enquanto a história é contada pelos dois protagonistas, que são convidados a falar sobre o assassinato sete anos depois do caso ter sido aberto. Aparentemente, algo está acontecendo de novo.

Nada em True Detective é entregue facilmente, mas tudo é muitíssimo bem explicado pelos dois detetives, criando uma história contínua, sem saltos, interrupções ou remendos. Entretanto, ao responderem as perguntas dos policiais, que filmam os depoimentos, Martin e Rust começam a desconfiar de suas intenções. O interrogatório sobre o assassinato e sua natureza macabra vai, aos poucos, tornando-se uma investigação sobre um dos detetives.

Não é errado dizer que estamos enfrentando uma maré de histórias mal contadas. Não porque não existam histórias bem contadas, mas aquelas parecem estar mais em evidência. Mas será que, em uma era de The BigBang Theory, Awkward e Game of Thrones, temos lugar para uma boa história?

True Detective promete trazer de volta o bom e velho mistério de deixar de queixo caído. Com uma ótima estética e uma história bem dosada, usando seus elementos sem se tornar refém deles, a série acaba de entrar para os meus favoritos, ao lado de Black Mirror.