Mother e EarthBound (finalmente) chegam ao Switch Online

Eu não tenho ideia do porquê demorou tanto tempo para a Nintendo adicionar EarthBound, um dos melhores jogos do SNES, no Switch Online — o serviço de assinatura em que eles disponibilizam alguns jogos clássicos do NES, SNES e Nintendo 64. Mas a espera acabou: tanto EarthBound quanto o jogo anterior da série, Mother, que nunca saiu do Japão na época do NES, chegaram ao Switch Online ontem de noite.

Foi a melhor das várias boas surpresas que foram anunciadas no Nintendo Direct de ontem. Portal e Portal 2! No Man’s Sky! Eu nem sabia o quanto eu queria um novo Wii Sports pro Switch até assistir o trailer de Switch Sports! Eu vou jogar vôlei online e não quero saber a opinião de ninguém sobre o assunto.

EarthBound é um dos poucos RPGs que eu gostei de jogar. Seu misto de RPG com aventura da Sessão da Tarde é algo que me atraiu e que até hoje não vi nenhum outro jogo tentar fazer igual. E embora seja um fracasso comercial reconhecido da Nintendo, ainda é um dos seus jogos mais ousados e únicos.

Eu ainda não joguei Mother, que só foi lançado fora do Japão através do Virtual Console do Wii U como EarthBound Beginnings, décadas depois do seu lançamento original, mas é por onde eu vou começar minha jornada dessa vez. Eu suspeito muito que eles estejam preparando alguma forma de lançar Mother 3, a continuação para GameBoy Advance que também nunca saiu do Japão, mas tem uma legião de fãs fervorosa no mundo todo.

Também achei um charme que a Nintendo publicou um vídeo apresentando o jogo para as pessoas que só conhecem Ness através do Super Smash Bros. (meu main, inclusive):

If Not Now, When

Eu acompanho e gosto muito do trabalho de Mike Rugnetta desde que descobri seu projeto Idea Channel, que buscava conexões improváveis entre os temas mais variados, de arte ao comportamento humano à física e reações biológicas. É o tipo de projeto de uma geração que, cresceu explorando a internet e descobrindo e exercitando esse tipo de pensamento — que conecta e constrói, como quando a gente se perde enquanto explora a Wikipédia.

Rugnetta tem vários projetos na internet e eu sabia de suas instalações, mas é a primeira vez que eu vejo uma gravação de uma delas. If Not Now, When é uma instalação feita por ele, Madeline Best e Brian Rogers que consiste na sobreposição de luzes, projeções e sons em um espaço público. O resultado parece um daqueles momentos de sonho, em que as coisas que parecem desconectadas se unem dentro e fora da sua mente. Fora, elas convergem em uma coisa só, como se fosse algo vivo. Dentro, elas se unem em um sentimento forte, de presenciar algo belo.

Eu amo esse efeito dessas obras de arte públicas, que a gente as vezes encontra enquanto anda na rua. É um bom jeito de lembrar de tudo ao redor de nós e tudo o que isso pode nos fazer sentir.

O que está acontecendo por aqui

Me desculpem pela falta de movimentação por aqui nesses últimos meses. Como eu comentei no post de fim de ano, eu ando meio atucanado com a reforma do meu apartamento e outros acontecimentos do lado de cá do computador, e o tempo está curto.

E eu não digo só pra aparecer aqui e escrever algo, mas para tudo o que geralmente me leva a escrever nesse blog em primeiro lugar. Eu não tô conseguindo ler meu RSS direito nas últimas semanas, nem ficar de olho em links legais no Twitter pra postar aqui. Pessoalmente, eu ando com pouco tempo até para visitar Léte, minha ilha no Animal Crossing, algo que eu achava inimaginável há alguns meses. Sem conseguir ler, navegar e conversar com os outros, eu fico com poucas ideias para escrever sobre coisas legais por aqui, o que acaba deixando o blog sem muita movimentação, e por isso eu peço desculpas.

Eu não vou dar uma data para quando eu talvez consiga voltar para o Pão. Ele funciona melhor sem cronogramas nem promessas, como eu já aprendi nos últimos anos. Por isso, eu peço só um pouquinho de paciência. A reforma do meu apartamento ainda deve demorar umas três semanas pelas minhas contas, então ao que tudo indica eu talvez volte a ter tempo pra respirar ali por fevereiro, e eu espero voltar pra cá assim que possível. Muito obrigado pela paciência, eu mal posso esperar pra comentar como eu sou apaixonado pelo Wordle.

Uma foto do Cometa Leonard

Um cometa cruzando o céu preto estrelado, com sua cauda branca deixando um rastro no céu

Essa é uma foto (composta por outras doze fotos) do “cometa de natal”, Leonard, capturada pelo astrônomo amador Andrew McCarthy (via Instagram):

“Apesar de estar bem baixo no céu a sudoeste, consegui tirar cerca de 12 minutos de fotos em close-up, o que me deu uma ótima visão da incrível estrutura e cor ao redor do núcleo. Eu não conseguia ver a olho nu, mas com binóculos dava para ver muito claramente. Você pode fotografá-lo com a câmera de um celular se souber onde procurar!”

McCarthy apareceu no blog em abril do ano passado com essa foto do Sol.

Boas vindas ao ano novo, pessoal!

Everything is Alive entrevista Sal, a meia

Uma coisa interessante aconteceu hoje. Eu tava voltando da minha corrida, enquanto eu ouvia os meus podcasts da semana, quando o episódio de hoje de Everything is Alive começou. Eu tava tirando minhas meias quando Sal, uma meia, começou a contar sobre Rebecca, sua parceira.

Essa temporada de Everything is Alive tá sendo mais ou menos, mas Sal talvez seja o meu episódio favorito do podcast até aqui. A empolgação de Sal contando sobre Rebecca é daqueles momentos de genialidade que compõe o podcast em seus melhores momentos: breves lampejos da beleza do nosso dia-a-dia sendo relembrados em perspectivas completamente diferentes da nossa. É uma reapreciação de se estar vivo.

O episódio também tem uma entrevista com Sebastian Connelli, o homem que ilustra esse artigo sobre usar sandálias e meias, e sua esposa, que publicou a foto no site — algo que eu não fazia ideia de que era polêmico, até porque eu amo usar crocs e meias.

Aí estão dois casais conversando sobre meias. Quem diria que seria tão bonito.

Relendo “A Visita Cruel do Tempo”

Tem um sentimento que eu gosto muito, e que eu percebi que eu tô sentindo de novo depois de muito tempo, que é o de ouvir uma música que eu amo e me lembrar de todos os momentos que ela tocou no momento perfeito, ou todos os momentos perfeitos que eu queria que essa música estivesse tocando.

Quando eu era mais jovem eu achava que isso era uma loucura da minha cabeça, que por algum motivo minhas memórias tinham um jeito de “molhar” o presente na primeira oportunidade possível. Nos últimos anos, em que eu me distanciei da música e de muitos sentimentos, eu nem lembrava que isso podia acontecer.

Essa semana eu tava revirando uma das caixas no meu quarto (eu acabei de me mudar, e ainda não posso colocar as coisas no lugar) quando encontrei A Visita Cruel do Tempo. Eu nem lembrava que ele é o meu livro favorito, e que eu escrevi sobre ele aqui há muitos anos. Eu comecei a reler ele, e eu lembrei exatamente desse sentimento que eu descrevi acima, porque ele é um livro cheio deles, e eu nunca tinha percebido isso antes.

Não vou resenhar A Visita Cruel do Tempo aqui, até porque eu nem sei mais como fazer isso. É um livro sobre uma mulher, Sasha, e um homem que, por alguns anos, foi o chefe dela, Bennie. Mas o livro dificilmente fala dos dois diretamente, fora os dois primeiros capítulos. A Visita Cruel do Tempo conta a história dos amigos, dos mentores, dos filhos, de pessoas que cruzaram com eles nas ruas. Os capítulos são todos muito diferentes entre si, mudando de pontos de vista e de modo narrativo. Mas, de alguma forma, todos eles se interligam. São momentos na vida de um punhado de pessoas, e como eles reverberam — como eles são lembrados ou esquecidos com o tempo, mas como eles continuam existindo, de alguma forma, aqui e ali.

Esse sentimento me pegou de jeito no terceiro capítulo do livro, “Safari”, que é contado no ponto de vista de vários personagens ao redor de um produtor musical chamado Lou: pelos seus filhos, Charlie e Rolph; e sua amante, Mindy. Parece uma história bem comum sobre a vez em que o pai das crianças levou eles para o Quênia para ver leões. Até que chega numa cena de dança.

Nela, a autora Jennifer Egan emprega um recurso que eu amo, e que lendo eu percebi que é o mesmo recurso que Mike Mills empregou em Mulheres do Século 20: usando o presente pra falar do futuro que os personagens não viveram, mas a gente tá tendo a oportunidade de ouvir como se fosse uma lembrança:

Conforme os dois vão se movendo juntos, Rolph sente a vergonha desaparecer como por milagre, como se estivesse virando adulto bem ali na pista, tornando-se um menino que dança com meninas feito a irmã. Charlie também sente a mesma coisa. Na verdade, essa lembrança é aquela que irá revisitar vezes em conta, pelo resto da vida, muito depois de Rolph ter se matado com um tiro na cabeça na casa do pai aos 28 anos de idade: seu irmão ainda menino, com os cabelos colados à cabeça, os olhos brilhando, aprendendo timidamente a dançar. Mas a mulher que se lembrará disso não será Charlie; depois que Rolph morrer, ela recomeçará a usar seu nome de verdade — Charlene —, desassociando-se para sempre da menina que dançou com o irmão na África. Charlene vai cortar os cabelos curtos e estudar direito. Quando tiver um filho, vai querer batizá-lo de Rolph, mas seus pais ainda estarão traumatizados demais. Ela então chamará o filho assim na intimidade, apenas em pensamento, e anos depois estará em pé com a mãe junto a um grupo de pais torcedores ao lado de uma quadra esportiva vendo-o jogar e olhar para o céu com uma expressão sonhadora em seu rosto de menino.

Esse é um em uma série de parágrafos que revelam o destino dos personagens do capítulo. Quase todos eles recebem um parágrafo assim. O que me impressiona nele é como ele resume uma vida inteira em um parágrafo, mas não reduz a vida da personagem nele. Existe muita coisa que a gente não sabe que Charlie vai viver até adotar seu nome de Charlene, mas a gente sabe como aquele momento que ela tá vivendo naquele instante — aprendendo e ensinando seu irmão caçula a dançar — vai acompanhar ela.

Eu me emocionei muito lendo A Visita Cruel do Tempo, porque é cheio de momentos assim, em que as pessoas percebem que estão vivendo um momento definitivo. Não “decisivo”, necessariamente, mas um desses momentos eternos, que vão ser lembrados até serem esquecidos para poderem ser lembrados de uma nova forma, de novo.

Eu nem sabia que eu ainda gostava de ler tanto assim até esse final de semana, quando peguei esse livro e tive que me segurar pra não devorar ele de uma só vez. Reencontrar ele foi como salvar minha vida. Eu sinto que ele já fez isso antes, mas eu tinha esquecido até que ele me lembrou.