“No Man’s Sky” chega ao Nintendo Switch

No Man’s Sky é um absurdo. É um jogo infinito — você literalmente pode viajar por bilhões de planetas em uma galáxia gigantesca. E ele finalmente chegou ao Nintendo Switch, então eu finalmente posso viajar com a minha nave enquanto estou no ônibus indo visitar meus pais nos fins de semana.

O lançamento no Switch vem acompanhado da atualização 4.0, chamada de “Waypoint”, que adiciona uma caralhada de recursos. O mais bacana deles é o novo modo relax, que permite que você explore a galáxia sem precisar se preocupar muito com os seus sistemas de sobrevivência (nos modos anteriores do jogo, sobreviver nos ambientes diversos dessa galáxia era um dos maiores desafios) ou combatendo sentinelas.

No Man’s Sky é conhecido por ser uma história de sucesso nos jogos. Depois de um lançamento desastroso em 2016, o time de desenvolvimento da Hello Games passou os meses seguintes trazendo novos recursos e aprimorando os sistemas do jogo até satisfazer as promessas dadas pelo criador, Sean Murray. Desde então, NMS recebe atualizações regulares gigantescas, adicionando muito mais do que havia sido prometido anteriormente. Tudo isso de graça. É algo tão bacana de experienciar que essa é a terceira vez que eu compro NMS — depois de tê-lo adquirido no meu antigo PS4 e no meu PC.

Para quem assina o Xbox Game Pass, é possível jogar No Man’s Sky através do serviço, incluindo no Cloud Gaming.

O fim da história

Tilda Swinton e Idris Elba em “Três Mil Anos de Saudade”ALT

Eu ando pensando em fins. Todo o tipo de fim: o fim de um projeto no trabalho, de um relacionamento, de um ciclo, de uma vida… Eu tenho pensado muito na minha avó, e como o fim da vida dela fez muita coisa desaparecer junto com ela. Eu penso no fim de um relacionamento que tive, e o que se faz com todo aquele carinho que você aprendeu a dar. Eu penso no fim do ciclo de lavagem, e que agora eu preciso estender a roupa.

“Fins” são inerentes da forma como contamos histórias. E histórias são a forma como a gente aprende a dar sentido ao mundo — dos mitos de criação dos povos antigos, às teorias da física quântica, elas nos são contadas como histórias. Nós usamos essas histórias, e a arte como um todo, para enxergarmos as Grandes Questões da Humanidade, e registrá-los em algo que possa existir fora da nossa cabeça — um pedaço de papel, um punhado de barro, uma fita de vídeo.

Histórias começam e terminam, e por muito tempo eu vi a minha vida como uma história. Eu não estava consciente do que acontecia quando ela começou, mas eu vivo no meio dela até que ela chegue ao fim. Só que eu cheguei em um momento da minha vida que eu imaginava que era como ela terminaria. Muitos dos meus objetivos já foram concluídos — eu tenho uma casa, um bom trabalho, eu estudei aquilo que me interessava e me cerquei de pessoas que eu amo. E agora?

Eu tive essa realização em uma sessão de terapia, e alguns dias depois eu assisti ao magnífico Três Mil Anos de Saudade, um filme do diretor George Miller (o mesmo de Mad Max: Estrada da Fúria). Nele, a protagonista encontra um impasse semelhante. Alithea se sente contente com sua vida: ela trabalha com algo que ama, ela teve uma história de amor, ela vive uma vida pacata e sem muitos dramas. Ela é, também, uma “narratologista”, alguém que estuda histórias para compreender como o ser humano registra sua compreensão do universo através do tempo. Em uma conferência, ela descobre uma garrafa e, dentro dela, um gênio.

O grande impasse entre Alithea e o Gênio é que ele precisa realizar três desejos para ela, para então voltar para algo equivalente ao paraíso de sua espécie; mas Alithea está contente com sua vida, e não tem o que desejar. Ela, assim como eu, tem essa sensação de que sua vida está “pronta”, então ela parece só continuar existindo.

Em Três Mil Anos de Saudade, o Gênio decide contar histórias para Alithea, na tentativa de que elas despertem algum desejo. O que acaba acontecendo. O primeiro desejo de Alithea é de viver uma história de amor.

Idria Elba e Tilda Swinton contracenando em “Três Mil Anos de Saudade”.ALT

Eu me inspirei muito em Três Mil Anos de Saudade para encontrar o que fazer agora que eu sinto que minha história, pelo menos aquela que eu parecia estar contando pelos primeiros trinta anos da minha vida, chegou ao fim. Afinal, essa é uma história de uma mulher que busca inspiração nas histórias de outras pessoas para continuar a sua própria.

Mas existe um problema fundamental nessa ideia. A vida não é uma história. Eu vi a minha vida inteira como uma história, mas história (e arte, como um todo) é só uma forma que a humanidade encontrou em tornar a vida um pouquinho mais compreensível. A arte é como um buraco da fechadura, que usamos para enxergar os grandes mistérios da nossa existência. Nós nunca podemos enxergar tudo o que tem do outro lado, o máximo que podemos fazer é saber que ele está lá, e tentar decifrar um pouquinho daquilo que conseguimos perceber que existe.

Essa ideia torna a vida muito mais misteriosa e muito mais incerta. Mas ela, estranhamente, me acalma. Existe tanta coisa que eu não sei, e que eu provavelmente nunca vou saber, que tudo aquilo que eu consigo compreender e experimentar acaba ganhando toda a minha atenção naquele momento. Papo de louco, eu sei, mas eu cheguei nessa realização como eu cheguei em todas as realizações dos últimos anos: jogando Zelda.

“The Legend of Zelda: Breath of the Wild”ALT

Breath of the Wild termina. Você derrota Ganon, Zelda desperta, e vocês salvam Hyrule. Os créditos rolam, e o jogo termina. Ou melhor, a história dele termina. Quando você volta a controlar Link, o protagonista, você tem todo o jogo ao seu dispôr de novo. Todo o vasto reino que você explorou até ali, todos os personagens que você encontrou e as cidades que você conheceu. Elas não possuem mais uma “utilidade narrativa” — você já concluiu as missões que esses personagens solicitavam, as cidades já foram o cenário de suas aventuras.

E, mesmo assim, eu volto para esse jogo de novo e de novo. Não para procurar alguma missão que eu deixei para trás, mas tem algo na fisicalidade dos verbos do jogo que me trazem de volta: a experiência de escalar um rochedo e encontrar, lá em cima, a vista para um lago no entardecer; cruzar com um personagem bem no momento em que a chuva começa, e vocês se abrigam perto de algumas ruínas juntos. As coisas continuam acontecendo em Breath of the Wild sem motivo nenhum, e eu gosto de estar lá para presenciá-las quando elas acontecem.

Tudo acontece o tempo inteiro, e muito pouco de tudo isso tem algum sentido ou alguma “necessidade narrativa” nas nossas vidas. A gente tenta dar algum sentido, é claro: criamos esses rituais, como aniversários, casamentos, festas de quinze anos e de formatura, funerais. Mas, se você parar para observar bem, a gente cria esses eventos para permitir que coisas aconteçam. Eu celebro meu aniversário todos os anos não porque eu vejo um sentido em envelhecer, mas porque é um jeito prático de rever todos os meus amigos.

E, honestamente, é muito mais fácil e um tantinho mais bonito admitir isso. Essa percepção acabou me liberando das histórias que contava para mim mesmo, e me permitiu apreciar que as coisas acontecem o tempo todo, quer eu esteja lá para percebê-las ou não. Por via das dúvidas, eu gosto de estar. Eu gosto de ouvir a risada de um amigo quando algo estranho acontece na nossa frente. Eu gosto de sentir aquele arrepio que o frio inesperado me causa quando eu abro a minha casa de manhã.

Eu acabei fazendo como Alithea em Três Mil Anos de Saudade, e usando as histórias que eu gosto para tentar entender a minha vida. E, então, eu comecei a entender melhor o porquê de eu gostar de filmes como Certas Mulheres, em que muito pouco acontece; ou de jogos como Animal Crossing, que não possuem objetivos. A vida é um pouco mais gostosa, um pouco mais misteriosa, e um pouco mais bonita se eu tenho tempo para perceber os detalhes das coisas acontecendo, e não se me perguntando se algo está acontecendo.

Há uns meses, no inverno, eu tinha um companheiro que fazia o café da manhã para mim. Ele não é mais meu companheiro, eu não tomo mais café da manhã com ele. Por um bom tempo nos últimos meses, eu sofri com a ideia de que esse momento em específico da minha vida tinha chegado ao fim. Se minha vida fosse uma história, aquele teria sido um capítulo que eu não poderia reescrever ou ler de novo.

Mas agora eu sei que a vida não é uma história. É um apinhado de coisas acontecendo ao mesmo tempo, o tempo todo, e eu preciso estar prestando atenção nelas para perceber aquilo que eu quero. Eu não tomo mais café com aquela pessoa, mas eu lembro de como os meus dedos gelados iam aquecendo devagarinho com a xícara quente. É o que eu lembro quando eu faço o meu próprio café toda a manhã. Algo aconteceu, e algo continua acontecendo enquanto eu estou vivo. Eu só vou poder traduzir isso como uma história para outras pessoas. Mas, dentro de mim, ainda existe tudo o que eu senti.

A nova temporada de Everything is Alive começou

Meu podcast favorito, Everything is Alive, está de volta com um episódio tremendo em que Ian Chillag entrevista Azlo, um carro de aluguel que está tentando voltar para casa. O que é “casa” para quem está sempre viajando? É uma das explorações fantásticas que esse podcast pequenuxo consegue tirar das observações mais simples do dia-a-dia.

Você pode ouvir Everything is Alive em qualquer plataforma de podcasts, como o Spotify, o Pocket Casts ou o Apple Podcasts. Você também pode ouvir ele no site oficial.

Uma lista de séries pra você dar uma chance na HBO Max

Então, você tá assistindo A Casa do Dragão. Você assinou, ou está aproveitando aquele período de teste da HBO Max, e vai assistir o prequel de Game of Thrones. Eu espero que você se divirta muito! Parece uma série muito boa, e os dragões são mais reais do que na série original. Eu particularmente gosto do escopo menor de A Casa do Dragão, é como uma mistura de Succession com O Senhor dos Aneis.

Esse post não é pra falar de A Casa do Dragão, me desculpem por isso. Eu não tenho muito o que falar de uma série desse tamanho. Mas eu passei muito mais tempo do que eu me orgulho admitir explorando o catálogo da HBO com o passar dos anos, e tem muita série boa por ali. Se você quer aproveitar esse período que você vai assinar o serviço pra acompanhar os dragões, aproveita também pra experimentar uma penca de séries boas que tem por lá.

Eu ajudo nisso. Vou recomendar uma penca de séries curtinhas, que você vai conseguir assistir nesses dois meses. Não tem nada de Succession, The Wire, Família Soprano ou Sex and the City aqui. Essas você já deve ter assistido ou ouvido falar.

Betty

  • O que é? Uma dramédia sobre um grupo de garotas skatistas na cidade de Nova York, fazendo amizades e descobrindo o início de suas próprias vidas enquanto elas voam pela cidade.
  • Quantas temporadas? Duas temporadas, doze episódios de 30 minutos.
  • Pra quem é essa série? Honestamente, todo o mundo. Betty é uma série mágica, que me conquistou do nada. Eu nunca achei que ia me interessar sobre uma série de skatistas, e Betty não só me emocionou com as jornadas dessas garotas como me fez entender a beleza desse esporte.
  • Pra assistir quando? Betty é uma série bem leve e aparentemente despretensiosa. Assista quando estiver a fim de algo sem Grandes Questões da Humanidade. Elas estão lá — mas, como na nossa vida, elas não chamam tanto a atenção no dia-a-dia.
  • Leia mais: eu escrevi sobre a primeira e a segundatemporada da série por aqui.

Diz que me ama

  • O que é? Drama de relacionamento que gira em torno de um punhado de casais em diferentes fases da vida, todos eles têm a mesma terapeuta.
  • Quantas temporadas? Uma temporada com dez episódios de uma hora.
  • Pra quem é essa série? Quem gosta de coisas bem cruas. Diz que me ama não se esconde no drama nem no sexo (a série causou um burburinho por rumores de suas cenas de sexo não serem encenadas, o que não é verdade… só são muito bem filmadas). A série mostra, sem muitos escrúpulos, como relacionamentos assumem diferentes formas. Umas são mais bonitas que as outras.
  • Pra assistir quando? Sexta de noite, abre um vinho e chama sua companhia. Mesmo encontrando lugares bem pesados na vida desses personagens, Diz que me ama é muito humanista na forma que enxerga eles. Bom pra ver acompanhado de alguém que você sabe que te ama.

Enlightened

  • O que é? Laura Dern é uma mulher que volta de um retiro espiritual depois de um ataque de raiva e tenta reconstruir sua vida.
  • Quantas temporadas? Duas temporadas, dezoito episódios de 30 minutos.
  • Pra quem é essa série? Quem tá perdido em alguma decisão da vida e quer se sentir menos sozinho nesse momento. Elightened correu para Fleabag voar, se você gostou de uma vai adorar a outra.
  • Pra assistir quando? Mesmo sendo uma comédia, Elightened sabe ser pesada. Eu recomendo pra sábados chuvosos.

Looking

  • O que é? Patrick, Dom e Augustin são três homens gays em São Francisco procurando por algo em suas vidas. O que é? Me diga se você conseguir uma resposta.
  • Quantas temporadas? Duas temporadas, dezoito episódios de trinta minutos, mais um filme que serve como series finale.
  • Pra quem é essa série? Você aí incerto com sua vida agora que você parece que tem ela resolvida mas ainda assim parece que falta algo. Exato, o título do filme é sobre exatamente isso que você tá assistindo.
  • Pra assistir quando? Meio da semana, durante a janta. A série não é pesada então não vai te deixar deprê (mesmo que o episódio final seja muito, muito intenso).
  • Leia mais: escrevi sobre a série na época que o filme foi lançado, também escrevi sobre uma epifania que o mesmo filme me causou anos depois.

O Ensaio

  • O que é? Uma comédia documental em que Nathan Fielder ajuda pessoas a lidarem com circunstâncias complicadas fazendo-as ensaiar todos os cenários possíveis. Quando eu digo todos, é todos mesmo.
  • Quantas temporadas? Uma temporada com seis episódios de uma hora. A série foi renovada para uma segunda temporada.
  • Pra quem é essa série? Pessoas que gostam de um humor absurdo. Não vou dizer que O Ensaio é pra todo mundo. É uma grande série, mas se você não curte o tipo de humor que ela provoca, você vai sair irritado. Dê uma chance para o primeiro episódio, que é mais direto. Se você curtir, se prepare para uma jornada.
  • Pra assistir quando? Essa é difícil, porque O Ensaio sabe ficar intenso da metade pro final. Eu diria que uma sexta-feira à noite também?

The Comeback

  • O que é? Lisa Kudrow é uma atriz de uma comédia dos anos 90 que está caindo no esquecimento e quer planejar seu retorno triunfal.
  • Quantas temporadas? Duas temporadas, vinte e um episódios de 30 minutos.
  • Pra quem é essa série? Quem gosta do humor ácido da primeira temporada de The Office, mas com mais coração. A série também é filmada como um documentário/reality, então você tem que curtir essa estética.
  • Pra assistir quando? Nossa, qualquer dia útil da semana. Se você gosta desse tipo de comédia, assistir ela depois do trabalho ajuda a dissipar aquela frustração.

The White Lotus

  • O que é? Um suspense com bastante comédia que se passa em um hotel de alta categoria no Havaí.
  • Quantas temporadas? Uma temporada de seis episódios com uma hora de duração. A série foi renovada para uma segunda temporada.
  • Pra quem é essa série? Pra quem gostou de Enlightened. A série é do mesmo criador, o genial Mike White, e só extrapola as qualidades da sua série anterior. O humor é de gelar a espinha, o conflito de classes é latente, e o suspense dá uma boa dose de vontade de maratonar ela.
  • Pra assistir quando? Domingo, antes do próximo episódio de A Casa do Dragão.

The Leftovers

  • O que é? Drama existencial pesadíssimo em que 2% da população mundial desaparece, e as pessoas que ficam precisam continuar suas vidas.
  • Quantas temporadas? Três temporadas, vinte e oito episódios de uma hora.
  • Pra quem é essa série? Eu. Essa série é feita sob medida pra mim. E pra você também se você gosta de se deparar com questões sobre a condição absurda da existência humana, desassociar da sua realidade e ter aquela reação galaxy-brain pra vida. Também, se você gosta de grandes atuações e uma linda história de amor no meio do fim do mundo.
  • Pra assistir quando? Domingos de noite. O dia acabou, a semana vai começar. Assista um episódio por semana. Ela é pesada e você não vai conseguir maratonar.
  • Leia mais: ah, eu escrevi sobre essa série… quando a segunda temporada acabou, quando a terceira acabou, na lista de fim de ano de 2017, no listão da década e durante a pandemia.

“Nobody Shares Anymore”

Mike Rugnetta é um dos dinossauros da internet. Ele está há tanto tempo nela, e já observou tantas das transformações da internet, que ele é quase uma parte da história da própria internet. Ele ajudou a criar o formato de “vídeo-ensaio” com o Idea Channel e, depois de alguns anos sem aparecer muito no YouTube, ele voltou com alguns vídeos bem despretenciosos sobre temas que o interessam. Algo como um vlog, mas mais bem escrito.

Em “Nobody Shares Anymore”, ele observa como as redes sociais pararam de enfatizar as palavras como compartilhar em suas páginas iniciais, e como os seus usuários também pararam de “compartilhar”, e dá uma série de motivos para esse movimento de como redes sociais se transformaram em mídias sociais.

Que ele continue observando e documentando essas transformações na internet por muito tempo.