Rebeca Andrade em Tóquio

Assistindo a Rebeca Andrade em Tóquio hoje mais cedo me fez lembrar dessa performance belíssima da Daiane dos Santos em 2005, quando um problema no equipamento de som interrompe o “Brasileirinho”, e ela continua a apresentação às palmas da platéia.

Não teve falha de som em Pequim nas Olimpíadas de 2008, mas dá pra ouvir um “vai lá Daiane” que é de encher o coração:

A Daiane voou.

Construir algo em Animal Crossing cansa demais, mas é tão bom…

Eu passei o fim de semana jogando Animal Crossing. Não como eu passei os últimos meses. Eu passei horas na frente do meu Switch, na minha ilha. Agora é final de domingo, e eu tô exausto.

Por algum motivo, eu fiquei irritado com o layout da minha ilha nessa última semana, e eu decidi que era a hora de mudar as coisas. Eu sou muito apegado a Léte pra apagar meu jogo salvo e começar uma nova ilha, então eu pensei em renovar tudo o que eu podia. Animal Crossing sempre permitiu que você modificasse a vila em que você e seus vizinhos animais moram. Você tinha um catálogo de “obras públicas”, como pontes, uma fonte, um poço artesiano, um farol, postes de luz, esse tipo de coisa. Mas você estava preso ao layout original da vila: a disposição das casas, a forma do rio, etc.

Mas New Horizons está em um nível completamente diferente de personalização. Você pode criar rios e lagos, modificar a forma do terreno, criando platôs, mudar a disposição das casas e dos edifícios públicos; além de poder colocar qualquer objeto em qualquer lugar. New Horizons também oferece um sistema de construção, em que você recolhe recursos naturais, como madeira, mato, flores, e frutas, e constrói seus próprios objetos, como cadeiras e mesas e baús e casas de passarinho.

Só que fazer tudo isso dá trabalho. New Horizons não oferece um “modo deus” como SimCity e The Sims, que você pode criar paredes e modificar o terreno e posicionar objetos como quiser. Tudo é feito através do seu personagem. Você quer construir uma fonte? Você precisa ir coletar ferro batendo com sua pá em algumas rochas, e torcer para sair ferro suficiente para construí-la. Literalmente, eu passei horas nesse sábado e nesse domingo coletando materiais para construir peças de cerca para fazer alguns jardins de flores (e as flores… precisam ser plantadas uma a uma…). Além disso, não existem menus no jogo. Tudo é feito a partir de diálogo. Quer ir buscar mais recursos em uma ilha? Você precisa_ _conversar com Orville para ele te pôr no próximo voo. Quer construir uma ponte ou mover um prédio? Você precisa ir até o prédio de serviços residenciais e conversar com o Tom Nook sobre isso (e pagar, é claro).

É exaustivo, de verdade. Mas quer saber? Eu tô muitíssimo satisfeito.

Eu geralmente fico encarregado de cuidar da casa dos meus pais quando eles vão viajar. Eles moram no interior, em uma casa grande com um pátio bem grande, cheio de bichos, mas existe uma certa calma em você visualizar tudo o que precisa fazer e todos os pequenos passos que você precisa dar para fazer tudo o que precisa fazer: eu preciso limpar o galinheiro todas as manhãs. Para isso, eu preciso pegar um balde específico, e uma pá específica. Eu preciso soltar as galinhas, e ter certeza que nenhuma delas pôs um ovo num lugar escondido. O mesmo vale para os canteiros, e para a organização de onde cada cachorro dorme, e para a casa em si, que precisa ser limpa e organizada. São pequenas tarefas que montam o todo, e elas demoram. Não muito, mas cada pequena tarefa têm seu próprio tempo, e você não pode acelerar mais. Se você regar as plantas muito rápido, pode machucar elas (ou quem sabe nem mesmo oferecer água suficiente). Se não bater e botar as camas dos cachorros no sol, elas vão começar a feder, e vai ser muito mais trabalho ter que tirar o cheiro depois.

É o mesmo limpando minha casa: varrendo o chão e desengordurando a cozinha, arrumando as coisas no lugar e tirando o pó. Tudo tem seu tempo, e não tem como acelerar muito mais do que o aspirador de pó ou a vassoura me permitem.

Eu trabalho no computador, e em desenvolvimento. É quase que engraçado e triste ao mesmo tempo o quanto desenvolvedores “otimizam” seu tempo para teclar menos e desenvolver mais com o tempo ganho. Isso extrapolou o nível de produtividade, o que torna empresas de tecnologia e agências de publicidade em um mar de péssimas condições de trabalho e de burnout. É também um trabalho muito mais mental do que físico, então no fim do dia eu me sinto cansado e agitado ao mesmo tempo. Meu corpo tá cheio de energia, porque ficou sentado o dia inteiro; mas minha cabeça está exausta, e eu não quero fazer absolutamente nada depois.

Isso muda quando eu tô encarregado de cuidar da casa dos meus pais. A casa, e os bichos, precisam da minha atenção, então minha mente está pré-disposta a não ficar exausta demais, porque o meu corpo vai precisar depois. Quando as tarefas do dia acabam, corpo e mente estão cansados, mas é algo muito sincronizado em um efeito de satisfação único. Tá tudo feito, e o descanso fica ainda mais gostoso porque não tem um pingo de culpa.

É mais ou menos o que eu tô sentindo, de um jeito meio bobo. Léte ainda não está pronta, mas eu reorganizei e construí tanta coisa nos últimos dias, que eu fiquei satisfeito com minha paciência e dedicação. Eu decidi que não ia usar nenhum objeto de decoração pronto — tudo o que está na ilha precisa ser construído por mim mesmo — e tá sendo muito bacana. Tem muita espera nesse processo, já que a ilha te oferece um número limitado de recursos por dia, o Tom Nook não faz mais do que uma mudança de layout por dia, e colocar ladrilhos é tão demorado que você precisa descansar de tempos em tempos, com medo de estragar o controle do Switch.

Quando tudo tiver pronto eu vou gravar um tour virtual para vocês. Tô muito feliz e orgulhoso de como Léte tá ficando.

Alguém virou Breath of the Wild sem pisar duas vezes no mesmo lugar

Ash Parish, no Kotaku:

“It felt like cheating to just launch myself off the plateau and into the castle in a straight line, although technically it was Snake,” Pipkin said. “So I said my win state included all towers—a fully filled map.”

It took eight months and six restarts but on June 30, Pipkin finished the challenge. According to them, a lot of that time was spent waiting—either on NPCs or enemies. Since reaching shrines to obtain Spirit Orbs can potentially cause pathing troubles, Pipkin could only complete so many. As a result they were severely underleveled, making regular enemies very dangerous. An attack could either kill Link outright or knock them back, so they often waited, perched on towers or cliffs, biding time until enemy paths to reset so they could make their way forward safely. There were also more minor but equally time consuming moments when Pipkin would accidentally walk the wrong way trying to reach a quest NPC, requiring them to wait whole in-game days for their paths to reset to a more favorable position so they could complete the quest.

Incrível.

Se apaixonando pelo Nintendo 3DS, dez anos depois

Malindy Hetfeld

It made me think about Nintendo’s late president Satoru Iwata, who loved to talk about ways to make hardware a genuine pleasure to use, beyond the questions of shape, button size and so on. Consoles don’t do that anymore - they want to be serious, towering skyscrapers in your home that look like alien artifacts, not cute little toys.

Uma carta de amor bonita pro 3DS, e secretamente uma investigação da “experiência” que foi jogar um jogo num console da Nintendo sob Iwata. Do GameCube/GBA ao 3DS, passando pelo Wii e pelo DS original, tinha algo de único de jogar nesses videogames bastante diferentes. Essa experiência de brinquedo dos consoles da Nintendo tornam o ato de jogar em si memorável.

Remakes e remasters tem seu valor para preservação e acessibilidade de jogos, mas essa experiência de jogar Wind Waker no GameCube, Mario Galaxy no Wii ou Nintendogs no DS não é traduzível em HD e som surround 5.1. É a fisicalidade do hardware — dos botões espaçosos do Wavebird à tela 3D do 3DS ao menu Home do Wii — que enchem as experiências de personalidade.

O Switch tem um pouco disso nos Joy-Cons, mas o resto do hardware parece muito mais voltado à praticidade do que pra diversão. Eu sinto falta de brincar no meu Switch como eu brinco no Home do meu 3DS.

Uma breve anotação sobre fantasmas

Eu acho que o que eu mais valorizo na arte é o poder que a melhor arte tem de me fazer sentir ser parte do mundo, de algo maior, como uma experiência comunal mesmo – isso, feito por uma outra pessoa, existe entre mim e ela, e me faz lembrar que existe muita coisa ao meu redor.

É tipo uma experiência de sonho, de sair do próprio corpo e se enxergar ao redor do mundo. acho isso muito mágico e muito bonito. Mas tem algumas que fazem isso e não só me deixam ver o lugar, mas também o tempo.

Tem uma parte em Kentucky Route Zero que faz isso. me faz pensar que a gente pisa nos ossos das pessoas que viveram aqui antes da gente, e vamos ser o chão onde o futuro vai pisar.

Quando você para para olhar o mundo assim, através do tempo e não só do lugar. Eu olho para meu cobertor e lembro que minha avó costurou ele. Eu olho para a casa do meu vizinho e lembro que ele cortava a grama toda a semana, até um dia que sofreu um acidente e mudaram ele para um asilo.

Acho bonito que somos “assombrados” pelos fantasmas das pessoas que nos tocaram. Eu penso no canto do meu quarto que, não importa o quanto eu limpe, ele sempre vai mofar no final do mês de junho, quando a chuva não para de cair. Um dia eu não vou mais viver nessa casa, nem nesse quarto, mas alguém vai se irritar com esse mesmo pequeno detalhe.

Um dia vamos assombrar os lugares que a gente viveu também.