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As cinco melhores coisas de 2022

Oi! Eu, eh… estou de volta!

Esse último ano não foi muito movimentado por aqui, e eu peço desculpas. Eu posso me explicar e prometer que 2023 vai ser diferente (e eu realmente espero que seja!), mas eu não quero fazer promessas que eu não possa cumprir.

O fato é que 2022 foi demais. E não que foi bom demais da conta, e sim que coisas demais aconteceram. Com a vacinação continuando, a “vida normal” parecia bater com força na porta de casa. Em um dos poucos posts que eu escrevi para o Pão nesse último ano eu comentei como isso se refletia nas histórias da maioria das séries que vi nos últimos meses. Outras coisas aconteceram também: eu me apaixonei, e deu tudo errado; eu me mudei, e deu tudo errado, até que do nada, de repente, deu tudo certo; eu virei tio, e se tem alguma coisa que era certa, era que ser tio é, na verdade, muito bom.

Enfim, foi tanta coisa que escrever para o Pão, algo que genuinamente me ajudou muito em anos muito difíceis, acabou ficando em segundo plano. Eu também tive uma dieta cultural bem mais rala nesse último ano — foram poucos os filmes, séries, jogos e músicas novas que eu me deparei esse ano. E os que ficaram comigo, os que realmente me tocaram, o fizeram por motivos estritamente pessoais.

Então, pra diferenciar um pouco das outras retrospectivas aqui do Pão, eu não estou chamando esse top 5 de “as melhores coisas do ano”, mas meus “favoritos do ano”. Acho que é muito mais honesto com a experiência que foi a minha dieta cultural nesse último ano: um apinhado daquilo que me chamou a atenção e que me ajudou num ano difícil e que, por isso, arranjaram um jeito de entrar no meu corpo e na minha alma, e eu vou levar eles comigo para sempre.

O filme favorito: Aftersun

Pra mim, Aftersun é uma conquista colossal. Em seu filme de estreia, a diretora Charlotte Wells consegue encontrar e transpôr para o cinema a experiência da memória.

Começa com detalhes aleatórios, como o som de um ônibus, o farfalhar da cortina com a brisa, a textura dos ladrilhos de uma piscina, até que esses detalhes se unem em momentos que vêm e vão na nossa mente como as ondas do mar, nos mergulhando (às vezes de forma violenta) em seus sentimentos.

Um filme “emocionalmente autobiográfico” sobre as últimas férias que filha e pai passam juntos, Aftersun começa no que parece aqueles filmes sobre nada, mas a forma como Wells encena esses momentos e os encaixa, costurados com uma trilha-sonora e atuações fantásticas, molda um filme de memória onde essas assombram e nos afogam — até nos puxa, com todo o sufoco e todo o alívio, para o agora.

(Aftersun está em cartaz nos cinemas, e estreará na MUBI em 6 de janeiro).

E também:

  • Drive My Car : um filme imenso (mesmo, de três horas) sobre os efeitos do luto e da arte em relação ao tempo, o incrível filme de Ryusuke Hamagushi me conquistou ao desarmar o meu metabolismo — lentamente conquistando o meu olhar, minha mente, e então meu coração (na MUBI).
  • Memoria : em um primeiro momento, o novo filme do diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul parece querer registrar o mundano: a tentativa de uma pessoa de se fazer entender, de expressar para outra pessoa uma sensação ou um pensamento. Até que Memória, então, captura o impossível: o momento em que uma outra pessoa, no outro lado da mesa, ou da linha telefônica, entende aquilo que sentimos, e compartilha do mesmo sentimento. Quando nossa existência transcende o nosso corpo (na MUBI).
  • _ Marte Um: _ simplesmente o meu filme brasileiro favorito desde A História da Eternidade, e por motivos completamente diferentes. Poucos filmes, aqui ou lá fora, capturam a sensação que é viver especificamente no dia de hoje como Marte Um conseguiu. Um retrato imenso de pessoas que não conseguem parar de sonhar, e todos os mundos imaginários que ficam em nossas cabeças. Ainda bem que o cinema existe, e alguns deles saem para as telas (nos cinemas).
  • _ Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo: _ longo, estufado, um tanto clichê e, mesmo assim, uma das coisas mais fenomenais que eu já assisti. Um amigo meu comparou com Matrix e, honestamente? Acho que a comparação é completamente válida. Tá aí um filme que, ao mesmo tempo, é diferente de tudo que o blockbuster americano está fazendo hoje em dia, e conversa com as ânsias e referências que o público dialoga. A história da dona de uma lavanderia que, ao errar uma prestação de contas, acaba se envolvendo em uma vasta conspiração com o multiverso é fenomenal: amplo o suficiente para incluir piadas anais e pequenas declarações de amor na mesma cena. Nenhum filme me fez chorar de tristeza, de alegria e de alívio com tanta velocidade quanto esse. (para alugar).

A série favorita: Estação Onze

Eu escrevi no início do ano sobre como Estação Onze, a minissérie da HBO Max sobre uma atriz mirim que sobrevive à uma pandemia ainda mais mortal que a nossa, torna o mundo grande de novo. De lá para cá, Estação Onze ficou no topo das minhas séries favoritas esse ano, e nenhuma outra chegou perto de tomar seu lugar.

O motivo é simples: Estação Onze é difícil de se reduzir. Quando eu recomendo essa série, faltam palavras para descrever o porquê alguém deveria assistir ela. É estranha e divertida, triste e imensa. Sua estrutura permite que ela vá para os lados mais desconexos possíveis de sua trama, mas ao invés de torná-la rasa, essa abordagem transforma Estação Onze em um panorama de como a humanidade sobrevive, mesmo no meio do medo e da incerteza. Ela expande tanto que nos lembra de como o mundo é grande e diferente, e que a gente só sabe um pouquinho, só experimenta um tanto dele. Ao invés de tornar isso inquietante, Estação Onze transforma essa realização em uma benção.

(Estação Onze está disponível na HBO Max).

E também:

  • _ Barry _ (terceira temporada): ninguém está bem na terceira temporada de Barry, e eu vi os novos episódios da dramédia sobre um assassino na HBO nesse mesmo estado de espírito. Isso não torna Barry em algo particularmente divertido de se assistir (embora seja muito, muito engraçada), mas poucas séries na TV hoje tem a coragem de entrar na mente de seus personagens com tanta força quanto essa. Assistir Barry foi quase que um exorcismo (na HBO).
  • _ Better Call Saul _ (sexta temporada): terminar BCS esse ano foi uma sensação agridoce. Já faziam algumas temporadas que eu passei a considerar esse spin-off superior a Breaking Bad, seu progenitor. Mas essa última temporada, impecável, também parece uma despedida de um jeito de se fazer séries que não se faz mais na era do streaming. Nenhum outro drama na TV hoje se importou tanto com a progressão semanal, e com a possibilidade desse formato de explorar o íntimo do seu personagem como Better Call Saul. Seu episódio final é um delírio (na Netflix).
  • Pantanal : o grande fenômeno da TV esse ano. Não foi o fim de BCS ou o humor absurdista de O Ensaio, ou a estreia fortíssima de Ruptura. Nada na TV manteve a atenção como Pantanal, a primeira novela da Globo em muito tempo a abraçar os pontos fortes do formato e finalmente inovar ao tentar solucionar seus pontos fracos. Com um valor de produção altíssimo (eu não duvido que tenha sido a novela mais cara já feita) e um elenco de peso (Marcos Palmeira e Dira Paes nos grandes papeis da TV brasileira desde Avenida Brasil), nada me fez sentir parte de algo maior em 2022 do que acompanhar Pantanal com o resto da população brasileira. Como todo o bom programa de TV, nos faz sentir uma parte de algo maior, de uma experiência realmente comunal que atravessa os limites da georgrafia. Desde Twin Peaks: O Retorno eu não percebo um fenômeno desse acontecendo na TV (no Globoplay)
  • _ Ruptura _ (primeira temporada): a grande estreia na TV esse ano, com certeza. Ruptura tem estilo e tem força de sobra, e uma trama quase Lostiana que pode botar tudo a perder a qualquer momento. Mas é justamente isso que torna ela irresistível: a série está numa corda bamba entre a genialidade e a bobagem, e como ela equilibra sua premissa com tanta precisão sobre esses extremos, com um elenco fantástico e uma estética fortíssima, é brilhante. Já é a melhor série da Apple (na Apple TV+).

O jogo favorito: TUNIC

Foi bem no início de TUNIC que eu me apaixonei por ele, e que eu sabia que nada que eu jogasse esse ano ia conseguir superar aqueles primeiros momentos. E foi justamente TUNIC que o superou, pouco a pouco, conforme revelava suas verdadeiras garras.

TUNIC é um jogo de aventura de ação à Legend of Zelda, com alguns requintes de Dark Souls. É o equilíbrio entre essas duas referências, em que uma preza por uma jogabilidade direta, enquanto outra gosta de esconder suas mecânicas em camadas e camadas de habilidade, que faz TUNIC ser tão especial. Eu não sou um bom jogador, o que torna os jogos do estilo Souls intransponíveis pra mim. Mas ao pegar as melhores mecânicas de Zelda, com sua estrutura de relógio suíço em que cada elemento de jogo responde a outro elemento, que TUNIC torna seus momentos mais complicados em verdadeiros quebra-cabeças de habilidades. E o manual… ah, o manual. TUNIC fica ainda mais especial

(TUNIC está disponível para Mac, PlayStation, Switch, Xbox e Windows).

E também:

  • Elden Ring : o extremo oposto de TUNIC, o novo jogo da From Software é imperdoável, e honestamente eu não me aprofundei muito nele. Diferente de outros Souls, porém, eu não precisei. O mundo aberto de Elden Ring dá respiro o suficiente para jogadores como eu explorarem sua narrativa através da arquitetura, e experimentar um pouco do mundo magistral do jogo à sua própria maneira. Me fez me questionar se eu não deveria dar uma segunda chance aos jogos anteriores (para PlayStation, Xbox e Windows).
  • OlliOlli World : um mundo de skate e charme, OlliOlli World entende como poucos jogos aquilo que todo jogo deveria entender: qualquer jogabilidade só é tão boa quanto a execução de seus verbos. E se tem algo que foi bom de fazer esse ano foi de tornar tudo o que eu via pela frente em uma possibilidade de fazer uma manobra boba de skate. Talvez o mais próximo que eu já cheguei da liberdade que um skatista deve sentir (para Mac, PlayStation, Switch, Xbox e Windows).
  • Return to Monkey Island : o retorno de Guybrush Threepwood e seu criador, Ron Gilbert, à Ilha do Macaco não poderia ser melhor. Return consegue ser a continuação perfeita, que revela a maravilha do original sem parecer uma cópia, e comenta suas influências com maturidade e distância. Return to Monkey Island é engraçado como os originais, mas também é ciente do que mudou nesses anos todos entre um jogo e outro, seja em mecânica ou em humor, em sensibilidade histórica ou maturidade do seu autor. Me faz querer voltar à infância e jogar Monkey Island e King’s Quest madrugada adentro de novo, mas também me faz pensar em como esse tempo passou (para Mac, PlayStation, Switch, Xbox e Windows).
  • Wordle : provavelmente o jogo do ano, Wordle foi o mais próximo que chegamos ao nível de loucura causada por Pokémon Go em 2016. Um verdadeiro fenômeno que nos deixou um pouquinho mais próximos um do outro. Que seja tão simples e tão viciante é só uma prova da sua genialidade (para navegadores, com versão em português).

A música favorita: Different Today

2022 foi o ano em que várias das minhas bandas favoritas na juventude voltaram com álbuns novos. Arcade Fire, Belle & Sebastian, Son Lux…

Mas foi Cool It Down, o primeiro disco do Yeah Yeah Yeahs em quase uma década, que se transformou num favorito instantâneo. Logo na faixa de início, Spitting at the Edge of the World, eu me lembrei do porquê eu amar essa banda, e dos momentos que suas músicas embalaram no passado. As músicas dos YYY são amplas, criando uma espécie de horizonte sonoro em que a voz da vocalista Karen O pode ir de um ponto ao outro, de gritos a sussuros.

Cool It Down é um álbum de uma banda punk por natureza alguns anos depois da maturidade chegar. A intensidade das letras e a força do som ainda estão ali, mas servem pra intuitos diferentes. Essa realização me bateu quando eu ouvi Different Today pela primeira vez. O que me faz amar o Yeah Yeah Yeahs está ali: a voz delicada mas intensa, a guitarra forte e as batidas marcantes. É o som que eu amo ouvir dessa banda, mas que embalam uma canção muito menos violenta do que nos álbuns anteriores: Karen O canta sobre como o tempo passou, como o sentimento mudou, e como o mundo continuou a girar. Em It’s Blitz!, o Yeah Yeah Yeahs soava como o desespero de um último respiro no meio de um sentimento intenso. Em Cool It Down, esses mesmos sentimentos intensos estão em outros lugares, e é Different Today que os encontra.

(Different Today é uma música do disco Cool it Down, ouça).

E também:

  • _ BREAK MY SOUL _ (Beyoncé): eu posso não ser um fã de RENAISSANCE, o disco que Beyoncé lançou esse ano, mas até eu sei reconhecer o hitzão de BREAK MY SOUL. Das músicas que me fazem querer ir em festa de novo e viver algo inesquecível ao som contagiante que a cantora encontra aqui (ouça).
  • _ Mother I Sober _ (Kendrick Lamar): Mr. Morale & The Big Steppers é longo, confuso, vai pra lugares meio incertos, mas é a obra de um gênio, e Lamar não tem medo de se expôr nela, principalmente na penúltima faixa. Começando a música declarando quem ele é, e terminando se libertando da culpa através da honestidade, talvez seja a música que melhor expresse toda a confusão que a precede. Mr. Morale é um grande álbum, mas é Mother I Sober que o decodifica da mente de Kendrick Lamar para o mundo.
  • _ This is a Life _ (Son Lux, ft. David Byrne & Mitski): a junção de Son Luz e David Byrne parece tão lógica, e mesmo assim precisou que Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo existisse para que esses dois artistas se juntassem, em uma música que, como o filme para o qual ela foi composta, tenta capturar toda a existência humana. Como as melhores músicas de Byrne, ela consegue ao observar os pequenos detalhes da vida — a forma como a gente acorda toda a manhã, e vai dormir toda a noite, e na forma que em alguns dias a gente acorda de noite, e só consegue dormir de manhã também (ouça)
  • Unconditional I (Lookout Kid) (Arcade Fire): de todas as músicas de WE, Unconditional I é a música que mais parece um clássico do Arcade Fire (e talvez seja, visto que a banda parece ter finalizado nesse disco músicas em que eles trabalhavam há anos). É uma música feita para ser experienciada no típico palco da banda: ao vivo, em uma multidão gritando em plenos pulmões os sentimentos mundanos que só o Arcade Fire sabe transformar em momentos grandiosos (ouça).

It’s Your Friends Who Break Your Heart

O artigo da Jennifer Senior para o The Atlantic tem um título fatalista, mas é a observação mais bonita sobre a natureza do relacionamento criado e mantido pelas amizades que moldamos durante a vida (e, claro, como é especialmente doloroso quando elas acabam em sussuros, e não em explosões).

2022 foi um ano complicado para mim, em termos de relacionamentos, e nos últimos meses eu passei boas horas lendo sobre justamente eles. Sobre a natureza dos afetos, dos amores, das decepções amorosas, de como o ser humano é incapaz de se sentir completo. Mas nenhum texto é como It’s Your Friends Who Break Your Heart. Embora Senior se dedique principalmente ao paradoxo da amizade (é o tipo de relacionamento que temos mais à nossa disposição, mas o que menos nos dedicamos em manter), ele também tem a melhor descrição que eu já encontrei para o que é ter um amigo: perceber nele que somos a melhor versão de nós mesmos. Tá aí um texto que me fez rever toda a minha vida, e em perceber que amizades, e não romances, são os principais relacionamentos da minha vida (The Atlantic).

E também:

  • ENCERRAMENTO MASSA: a gente já sabia que isso tava para acontecer, mas esse foi o ano em que a Jout Jout finalmente encerrou o seu canal. Em seu último vídeo, a Julia e o Caio se reúnem para explicar o que aconteceu nesse tempo sem novos vídeos, e o porquê não faz mais sentido (para eles) em manterem o projeto hoje em dia. É um tanto triste assistir se você é fã e recebe uma comprovação do fim de uma ideia tão bacana, mas a Jout Jout sai de cena (pelo menos nesse canal) com aquilo que fez JoutJout Prazer ser tão delicioso: é honesto e espontâneo, e vai fazer uma falta imensa numa internet cada vez mais performática.
  • In The Scenes Behind Plain Sight: da mente brilhante de Ian Chillag, o criador do meu podcast favorito, In The Scenes… é um arraso, com recaps e bastidores de uma série que nunca existiu. É um arraso de podcast, mantendo a criatividade imensa dos outros projetos de Chillag com o charme de ouvir semana a semana uma retrospectiva do que parece ser uma série que deveria ser deliciosa de assistir por si mesma. Genial na ideia e na execução.
  • Line Goes Up – The Problem With NFTs: lembra como NFTs foram algo no início de 2022? Meio incrível de pensar que foi nesse ano que uma galera delirou nuns GIFs que eles diziam serem únicos. É esse fenômeno (e a criptoeconomia como um todo) que o canal Folding Ideas esmiuça em detalhes, e os coloca em um panorama do nosso relacionamento atual com a tecnologia que é iluminador de assistir.
  • How We Feel: esse app dos criadores do Pinterest foi o meu achado do ano. Ele oferece um mapa de sentimentos bons e ruins para você escolher durante o dia, e você registra aquilo que você está sentindo com o passar do tempo. Você pode adicionar fotos, ou notas (escritas ou de áudio), colocar pequenos lembretes de onde você estava, com quem e o que fazia naquele momento em que sentiu determinado sentimento. How We Feel se tornou meu app de diário, e me ensinou a criar um verdadeiro vocabulário emocional. A gente sente muito mais do que alegria ou tristeza com o passar do dia, e saber as nuances daquilo que eu sinto em momentos, sejam mundanos ou especiais, tem me ajudado muito a me sentir mais seguro dentro da minha própria mente. Tá aí uma sensação que eu quero levar para a minha vida.

É isso por enquanto, pessoal. Feliz ano novo, a gente se vê no futuro!

“No Man’s Sky” chega ao Nintendo Switch

No Man’s Sky é um absurdo. É um jogo infinito — você literalmente pode viajar por bilhões de planetas em uma galáxia gigantesca. E ele finalmente chegou ao Nintendo Switch, então eu finalmente posso viajar com a minha nave enquanto estou no ônibus indo visitar meus pais nos fins de semana.

O lançamento no Switch vem acompanhado da atualização 4.0, chamada de “Waypoint”, que adiciona uma caralhada de recursos. O mais bacana deles é o novo modo relax, que permite que você explore a galáxia sem precisar se preocupar muito com os seus sistemas de sobrevivência (nos modos anteriores do jogo, sobreviver nos ambientes diversos dessa galáxia era um dos maiores desafios) ou combatendo sentinelas.

No Man’s Sky é conhecido por ser uma história de sucesso nos jogos. Depois de um lançamento desastroso em 2016, o time de desenvolvimento da Hello Games passou os meses seguintes trazendo novos recursos e aprimorando os sistemas do jogo até satisfazer as promessas dadas pelo criador, Sean Murray. Desde então, NMS recebe atualizações regulares gigantescas, adicionando muito mais do que havia sido prometido anteriormente. Tudo isso de graça. É algo tão bacana de experienciar que essa é a terceira vez que eu compro NMS — depois de tê-lo adquirido no meu antigo PS4 e no meu PC.

Para quem assina o Xbox Game Pass, é possível jogar No Man’s Sky através do serviço, incluindo no Cloud Gaming.

O fim da história

Tilda Swinton e Idris Elba em “Três Mil Anos de Saudade”ALT

Eu ando pensando em fins. Todo o tipo de fim: o fim de um projeto no trabalho, de um relacionamento, de um ciclo, de uma vida… Eu tenho pensado muito na minha avó, e como o fim da vida dela fez muita coisa desaparecer junto com ela. Eu penso no fim de um relacionamento que tive, e o que se faz com todo aquele carinho que você aprendeu a dar. Eu penso no fim do ciclo de lavagem, e que agora eu preciso estender a roupa.

“Fins” são inerentes da forma como contamos histórias. E histórias são a forma como a gente aprende a dar sentido ao mundo — dos mitos de criação dos povos antigos, às teorias da física quântica, elas nos são contadas como histórias. Nós usamos essas histórias, e a arte como um todo, para enxergarmos as Grandes Questões da Humanidade, e registrá-los em algo que possa existir fora da nossa cabeça — um pedaço de papel, um punhado de barro, uma fita de vídeo.

Histórias começam e terminam, e por muito tempo eu vi a minha vida como uma história. Eu não estava consciente do que acontecia quando ela começou, mas eu vivo no meio dela até que ela chegue ao fim. Só que eu cheguei em um momento da minha vida que eu imaginava que era como ela terminaria. Muitos dos meus objetivos já foram concluídos — eu tenho uma casa, um bom trabalho, eu estudei aquilo que me interessava e me cerquei de pessoas que eu amo. E agora?

Eu tive essa realização em uma sessão de terapia, e alguns dias depois eu assisti ao magnífico Três Mil Anos de Saudade, um filme do diretor George Miller (o mesmo de Mad Max: Estrada da Fúria). Nele, a protagonista encontra um impasse semelhante. Alithea se sente contente com sua vida: ela trabalha com algo que ama, ela teve uma história de amor, ela vive uma vida pacata e sem muitos dramas. Ela é, também, uma “narratologista”, alguém que estuda histórias para compreender como o ser humano registra sua compreensão do universo através do tempo. Em uma conferência, ela descobre uma garrafa e, dentro dela, um gênio.

O grande impasse entre Alithea e o Gênio é que ele precisa realizar três desejos para ela, para então voltar para algo equivalente ao paraíso de sua espécie; mas Alithea está contente com sua vida, e não tem o que desejar. Ela, assim como eu, tem essa sensação de que sua vida está “pronta”, então ela parece só continuar existindo.

Em Três Mil Anos de Saudade, o Gênio decide contar histórias para Alithea, na tentativa de que elas despertem algum desejo. O que acaba acontecendo. O primeiro desejo de Alithea é de viver uma história de amor.

Idria Elba e Tilda Swinton contracenando em “Três Mil Anos de Saudade”.ALT

Eu me inspirei muito em Três Mil Anos de Saudade para encontrar o que fazer agora que eu sinto que minha história, pelo menos aquela que eu parecia estar contando pelos primeiros trinta anos da minha vida, chegou ao fim. Afinal, essa é uma história de uma mulher que busca inspiração nas histórias de outras pessoas para continuar a sua própria.

Mas existe um problema fundamental nessa ideia. A vida não é uma história. Eu vi a minha vida inteira como uma história, mas história (e arte, como um todo) é só uma forma que a humanidade encontrou em tornar a vida um pouquinho mais compreensível. A arte é como um buraco da fechadura, que usamos para enxergar os grandes mistérios da nossa existência. Nós nunca podemos enxergar tudo o que tem do outro lado, o máximo que podemos fazer é saber que ele está lá, e tentar decifrar um pouquinho daquilo que conseguimos perceber que existe.

Essa ideia torna a vida muito mais misteriosa e muito mais incerta. Mas ela, estranhamente, me acalma. Existe tanta coisa que eu não sei, e que eu provavelmente nunca vou saber, que tudo aquilo que eu consigo compreender e experimentar acaba ganhando toda a minha atenção naquele momento. Papo de louco, eu sei, mas eu cheguei nessa realização como eu cheguei em todas as realizações dos últimos anos: jogando Zelda.

“The Legend of Zelda: Breath of the Wild”ALT

Breath of the Wild termina. Você derrota Ganon, Zelda desperta, e vocês salvam Hyrule. Os créditos rolam, e o jogo termina. Ou melhor, a história dele termina. Quando você volta a controlar Link, o protagonista, você tem todo o jogo ao seu dispôr de novo. Todo o vasto reino que você explorou até ali, todos os personagens que você encontrou e as cidades que você conheceu. Elas não possuem mais uma “utilidade narrativa” — você já concluiu as missões que esses personagens solicitavam, as cidades já foram o cenário de suas aventuras.

E, mesmo assim, eu volto para esse jogo de novo e de novo. Não para procurar alguma missão que eu deixei para trás, mas tem algo na fisicalidade dos verbos do jogo que me trazem de volta: a experiência de escalar um rochedo e encontrar, lá em cima, a vista para um lago no entardecer; cruzar com um personagem bem no momento em que a chuva começa, e vocês se abrigam perto de algumas ruínas juntos. As coisas continuam acontecendo em Breath of the Wild sem motivo nenhum, e eu gosto de estar lá para presenciá-las quando elas acontecem.

Tudo acontece o tempo inteiro, e muito pouco de tudo isso tem algum sentido ou alguma “necessidade narrativa” nas nossas vidas. A gente tenta dar algum sentido, é claro: criamos esses rituais, como aniversários, casamentos, festas de quinze anos e de formatura, funerais. Mas, se você parar para observar bem, a gente cria esses eventos para permitir que coisas aconteçam. Eu celebro meu aniversário todos os anos não porque eu vejo um sentido em envelhecer, mas porque é um jeito prático de rever todos os meus amigos.

E, honestamente, é muito mais fácil e um tantinho mais bonito admitir isso. Essa percepção acabou me liberando das histórias que contava para mim mesmo, e me permitiu apreciar que as coisas acontecem o tempo todo, quer eu esteja lá para percebê-las ou não. Por via das dúvidas, eu gosto de estar. Eu gosto de ouvir a risada de um amigo quando algo estranho acontece na nossa frente. Eu gosto de sentir aquele arrepio que o frio inesperado me causa quando eu abro a minha casa de manhã.

Eu acabei fazendo como Alithea em Três Mil Anos de Saudade, e usando as histórias que eu gosto para tentar entender a minha vida. E, então, eu comecei a entender melhor o porquê de eu gostar de filmes como Certas Mulheres, em que muito pouco acontece; ou de jogos como Animal Crossing, que não possuem objetivos. A vida é um pouco mais gostosa, um pouco mais misteriosa, e um pouco mais bonita se eu tenho tempo para perceber os detalhes das coisas acontecendo, e não se me perguntando se algo está acontecendo.

Há uns meses, no inverno, eu tinha um companheiro que fazia o café da manhã para mim. Ele não é mais meu companheiro, eu não tomo mais café da manhã com ele. Por um bom tempo nos últimos meses, eu sofri com a ideia de que esse momento em específico da minha vida tinha chegado ao fim. Se minha vida fosse uma história, aquele teria sido um capítulo que eu não poderia reescrever ou ler de novo.

Mas agora eu sei que a vida não é uma história. É um apinhado de coisas acontecendo ao mesmo tempo, o tempo todo, e eu preciso estar prestando atenção nelas para perceber aquilo que eu quero. Eu não tomo mais café com aquela pessoa, mas eu lembro de como os meus dedos gelados iam aquecendo devagarinho com a xícara quente. É o que eu lembro quando eu faço o meu próprio café toda a manhã. Algo aconteceu, e algo continua acontecendo enquanto eu estou vivo. Eu só vou poder traduzir isso como uma história para outras pessoas. Mas, dentro de mim, ainda existe tudo o que eu senti.

A nova temporada de Everything is Alive começou

Meu podcast favorito, Everything is Alive, está de volta com um episódio tremendo em que Ian Chillag entrevista Azlo, um carro de aluguel que está tentando voltar para casa. O que é “casa” para quem está sempre viajando? É uma das explorações fantásticas que esse podcast pequenuxo consegue tirar das observações mais simples do dia-a-dia.

Você pode ouvir Everything is Alive em qualquer plataforma de podcasts, como o Spotify, o Pocket Casts ou o Apple Podcasts. Você também pode ouvir ele no site oficial.

Uma lista de séries pra você dar uma chance na HBO Max

Então, você tá assistindo A Casa do Dragão. Você assinou, ou está aproveitando aquele período de teste da HBO Max, e vai assistir o prequel de Game of Thrones. Eu espero que você se divirta muito! Parece uma série muito boa, e os dragões são mais reais do que na série original. Eu particularmente gosto do escopo menor de A Casa do Dragão, é como uma mistura de Succession com O Senhor dos Aneis.

Esse post não é pra falar de A Casa do Dragão, me desculpem por isso. Eu não tenho muito o que falar de uma série desse tamanho. Mas eu passei muito mais tempo do que eu me orgulho admitir explorando o catálogo da HBO com o passar dos anos, e tem muita série boa por ali. Se você quer aproveitar esse período que você vai assinar o serviço pra acompanhar os dragões, aproveita também pra experimentar uma penca de séries boas que tem por lá.

Eu ajudo nisso. Vou recomendar uma penca de séries curtinhas, que você vai conseguir assistir nesses dois meses. Não tem nada de Succession, The Wire, Família Soprano ou Sex and the City aqui. Essas você já deve ter assistido ou ouvido falar.

Betty

  • O que é? Uma dramédia sobre um grupo de garotas skatistas na cidade de Nova York, fazendo amizades e descobrindo o início de suas próprias vidas enquanto elas voam pela cidade.
  • Quantas temporadas? Duas temporadas, doze episódios de 30 minutos.
  • Pra quem é essa série? Honestamente, todo o mundo. Betty é uma série mágica, que me conquistou do nada. Eu nunca achei que ia me interessar sobre uma série de skatistas, e Betty não só me emocionou com as jornadas dessas garotas como me fez entender a beleza desse esporte.
  • Pra assistir quando? Betty é uma série bem leve e aparentemente despretensiosa. Assista quando estiver a fim de algo sem Grandes Questões da Humanidade. Elas estão lá — mas, como na nossa vida, elas não chamam tanto a atenção no dia-a-dia.
  • Leia mais: eu escrevi sobre a primeira e a segundatemporada da série por aqui.

Diz que me ama

  • O que é? Drama de relacionamento que gira em torno de um punhado de casais em diferentes fases da vida, todos eles têm a mesma terapeuta.
  • Quantas temporadas? Uma temporada com dez episódios de uma hora.
  • Pra quem é essa série? Quem gosta de coisas bem cruas. Diz que me ama não se esconde no drama nem no sexo (a série causou um burburinho por rumores de suas cenas de sexo não serem encenadas, o que não é verdade… só são muito bem filmadas). A série mostra, sem muitos escrúpulos, como relacionamentos assumem diferentes formas. Umas são mais bonitas que as outras.
  • Pra assistir quando? Sexta de noite, abre um vinho e chama sua companhia. Mesmo encontrando lugares bem pesados na vida desses personagens, Diz que me ama é muito humanista na forma que enxerga eles. Bom pra ver acompanhado de alguém que você sabe que te ama.

Enlightened

  • O que é? Laura Dern é uma mulher que volta de um retiro espiritual depois de um ataque de raiva e tenta reconstruir sua vida.
  • Quantas temporadas? Duas temporadas, dezoito episódios de 30 minutos.
  • Pra quem é essa série? Quem tá perdido em alguma decisão da vida e quer se sentir menos sozinho nesse momento. Elightened correu para Fleabag voar, se você gostou de uma vai adorar a outra.
  • Pra assistir quando? Mesmo sendo uma comédia, Elightened sabe ser pesada. Eu recomendo pra sábados chuvosos.

Looking

  • O que é? Patrick, Dom e Augustin são três homens gays em São Francisco procurando por algo em suas vidas. O que é? Me diga se você conseguir uma resposta.
  • Quantas temporadas? Duas temporadas, dezoito episódios de trinta minutos, mais um filme que serve como series finale.
  • Pra quem é essa série? Você aí incerto com sua vida agora que você parece que tem ela resolvida mas ainda assim parece que falta algo. Exato, o título do filme é sobre exatamente isso que você tá assistindo.
  • Pra assistir quando? Meio da semana, durante a janta. A série não é pesada então não vai te deixar deprê (mesmo que o episódio final seja muito, muito intenso).
  • Leia mais: escrevi sobre a série na época que o filme foi lançado, também escrevi sobre uma epifania que o mesmo filme me causou anos depois.

O Ensaio

  • O que é? Uma comédia documental em que Nathan Fielder ajuda pessoas a lidarem com circunstâncias complicadas fazendo-as ensaiar todos os cenários possíveis. Quando eu digo todos, é todos mesmo.
  • Quantas temporadas? Uma temporada com seis episódios de uma hora. A série foi renovada para uma segunda temporada.
  • Pra quem é essa série? Pessoas que gostam de um humor absurdo. Não vou dizer que O Ensaio é pra todo mundo. É uma grande série, mas se você não curte o tipo de humor que ela provoca, você vai sair irritado. Dê uma chance para o primeiro episódio, que é mais direto. Se você curtir, se prepare para uma jornada.
  • Pra assistir quando? Essa é difícil, porque O Ensaio sabe ficar intenso da metade pro final. Eu diria que uma sexta-feira à noite também?

The Comeback

  • O que é? Lisa Kudrow é uma atriz de uma comédia dos anos 90 que está caindo no esquecimento e quer planejar seu retorno triunfal.
  • Quantas temporadas? Duas temporadas, vinte e um episódios de 30 minutos.
  • Pra quem é essa série? Quem gosta do humor ácido da primeira temporada de The Office, mas com mais coração. A série também é filmada como um documentário/reality, então você tem que curtir essa estética.
  • Pra assistir quando? Nossa, qualquer dia útil da semana. Se você gosta desse tipo de comédia, assistir ela depois do trabalho ajuda a dissipar aquela frustração.

The White Lotus

  • O que é? Um suspense com bastante comédia que se passa em um hotel de alta categoria no Havaí.
  • Quantas temporadas? Uma temporada de seis episódios com uma hora de duração. A série foi renovada para uma segunda temporada.
  • Pra quem é essa série? Pra quem gostou de Enlightened. A série é do mesmo criador, o genial Mike White, e só extrapola as qualidades da sua série anterior. O humor é de gelar a espinha, o conflito de classes é latente, e o suspense dá uma boa dose de vontade de maratonar ela.
  • Pra assistir quando? Domingo, antes do próximo episódio de A Casa do Dragão.

The Leftovers

  • O que é? Drama existencial pesadíssimo em que 2% da população mundial desaparece, e as pessoas que ficam precisam continuar suas vidas.
  • Quantas temporadas? Três temporadas, vinte e oito episódios de uma hora.
  • Pra quem é essa série? Eu. Essa série é feita sob medida pra mim. E pra você também se você gosta de se deparar com questões sobre a condição absurda da existência humana, desassociar da sua realidade e ter aquela reação galaxy-brain pra vida. Também, se você gosta de grandes atuações e uma linda história de amor no meio do fim do mundo.
  • Pra assistir quando? Domingos de noite. O dia acabou, a semana vai começar. Assista um episódio por semana. Ela é pesada e você não vai conseguir maratonar.
  • Leia mais: ah, eu escrevi sobre essa série… quando a segunda temporada acabou, quando a terceira acabou, na lista de fim de ano de 2017, no listão da década e durante a pandemia.

“Nobody Shares Anymore”

Mike Rugnetta é um dos dinossauros da internet. Ele está há tanto tempo nela, e já observou tantas das transformações da internet, que ele é quase uma parte da história da própria internet. Ele ajudou a criar o formato de “vídeo-ensaio” com o Idea Channel e, depois de alguns anos sem aparecer muito no YouTube, ele voltou com alguns vídeos bem despretenciosos sobre temas que o interessam. Algo como um vlog, mas mais bem escrito.

Em “Nobody Shares Anymore”, ele observa como as redes sociais pararam de enfatizar as palavras como compartilhar em suas páginas iniciais, e como os seus usuários também pararam de “compartilhar”, e dá uma série de motivos para esse movimento de como redes sociais se transformaram em mídias sociais.

Que ele continue observando e documentando essas transformações na internet por muito tempo.

Ninguém está bem

Bill Harder em “Barry”, da HBO.

As cenas de assassinato na série Barry são longas — a tensão cresce lentamente, junto com o desespero das vítimas, que percebem estar na mira de um predador e que dificilmente sairão dela vivos. Mas não é por isso que a terceira temporada da série é tão difícil de assistir.

Barry é uma comédia, com um humor que se alastra, como um temporal, sobre a imagem. As vezes você nem percebe como uma piada está sendo construída bem na sua frente, até que ela explode com suas consequências, trazendo um pouco mais de pavor para a vida de seus personagens. Esse pavor é um verdadeiro vapor emocional sobre eles: Barry e Sally nunca estiveram tão infelizes em seu relacionamento, nunca esconderam tanto um do outro, e nunca estiveram tão próximos. Mesmo assim, uma insatisfação intangível, um desespero de que tudo está caindo fora do combinado ao mesmo tempo que nada parece estar acontecendo, corrói a alma dos dois.

E Barry parece não ser a única série que, em 2022, decidiu observar esse vazio de sentimentos corrosivos. Ruptura, a nova série da Apple TV+, usa esse vazio explicitamente. Nela, um grupo de funcionários de uma empresa misteriosa aceitam passar por um procedimento cirúrgico que divide suas memórias: quando estão no trabalho, eles não lembram de nada da sua vida fora da empresa; quando eles saem de lá, eles não lembram de nada. Seja no escritório ou fora dele, os personagens de Ruptura estão sempre com um sentimento em comum de que algo está faltando — algo indescritível, mas bastante perceptível. Algo, algum sentimento, uma sensação ou uma memória, que estava ali e não está mais.

Tanto a terceira temporada de Barry quanto Ruptura parecem fazer parte de uma segunda onda de arte criada na pandemia da Covid-19. Se na primeira nós vimos obras sobre como é viver em isolamento ou procurar criar alguma conexão em meio a esse isolamento (como a magnífica segunda temporada de Betty e a misteriosa Calls), agora nós vemos obras observando os efeitos desse isolamento e da tragédia.

Não é pouca coisa. Nesses dois últimos anos vimos muito do que idealizamos como sociedade ruir. Falando especificamente do Brasil, fomos impedidos de nos proteger, de enterrar nossos mortos e de nos enlutarmos. Tivemos nossas vacinas negadas por meses, e então tratadas como privilégio. No mundo, vimos a indiferença generalizada aos milhões de mortos, as tentativas de fuga dos bilionários para o espaço, a destruição crescente dos recursos naturais do nosso planeta. Tudo isso — tudo isso — enquanto tentávamos nos adaptar: pessoas precisam trabalhar por menos para comprar comida cada vez mais cara; o sucateamento acelerado da infraestrutura social, causada pelos primeiros dois anos de pandemia, agora cobra seu valor desprovendo aqueles que dependem dela. Aqueles que sobreviveram à pandemia, ao frio e à fome que ela tornou ainda maior.

Então… o que foi perdido? O que é esse vazio que a gente percebe agora, que a gente sabe que sempre esteve, de alguma forma, com a gente. Mas que agora, em que o mundo parece simplesmente continuar girando, é incapaz de ignorar.

Tanto Barry quanto Ruptura observam pessoas percebendo esse vazio absurdo em suas almas, sem necessariamente dar uma resposta de como fugir dela. Existem pistas: algumas pessoas ao redor de nossos protagonistas encontram um balanço entre esse desconforto e a vida que decide continuar. Eles procuram comunidades — amigos perdidos no tempo, familiares antes distantes. Nosso protagonistas não conseguem. Eles não conseguem ignorar esse vazio, e esse vazio só fica maior. Nada parece preencher ele.

Esse sentimento não é novo, nem na vida nem na arte. O vazio existencial trazido pela percepção de que o Homem, a Terra e nem mesmo o Sol são o centro do universo paira sobre nosso íntimo há séculos. A dor de saber que todo esse sofrimento, e também toda a nossa felicidade e nosso amor, são apenas vírgulas na história da poeira cósmica que nos formou e na qual vamos nos transformar depois que morrermos. Nós sabemos, nós enfrentamos essa frieza da existência todos os dias. Mas por que agora, nesse exato momento, parece que todo o mundo está enfrentando ela?

Eu acho que a melhor descrição do que é estar vivo nesse momento vem durante End of Empire, a faixa central de WE, o novo disco do Arcade Fire. A música — um épico de nove minutos sobre um futuro em que o mar tomou o oeste da América e a guerra dizimou o leste — traduz tanto o que torna a música da banda tão especial, mas também a dicotomia do que estamos vivendo hoje.

De um lado, End of Empire descreve o que é viver nos escombros da civilização. É grandiloquente, mas também é honesto. Todos nós temos medo de vivermos a vida errada e então morrer. Temos medo de sentir, lá no fim, que a felicidade não foi suficiente, que o sofrimento não valeu a pena, que o medo foi grande demais.

Mas todas as melhores músicas do Arcade Fire manejam o inacreditável: pegar esses sentimentos íntimos e profundos e torná-los em algo grande o suficiente para poder gritá-los, como um hino, um grito de guerra. Quando a música encontra seu clímax, em “E o oxigênio está acabando, cante uma canção que costumávamos conhecer”, o tom sombrio do início da música dá espaço para o entusiasmo. A música termina com “Temos uma vida, e metade dela se foi”. O tipo de realização simples, mas universal, que as músicas da banda costumam concluir. São específicas o suficiente para serem universais demais.

Mas o que WE consegue como uma ficção científica, Barry com uma comédia e Ruptura com um suspense é fazer esse vazio se encaixar na sua fábrica emocional. O humor ainda existe em meio ao sofrimento de um assassino; os mistérios do dia a dia ainda assolam os empregados com as memórias apagadas; uma família ainda sobrevive nos escombros do fim do mundo, e encontram vestígios do carinho e do amor que existiu das pessoas que viveram nesse lugar antes de todo aquele sofrimento.

Eu não sei se existe uma cura para esse vazio. Provavelmente não. Acho que nós, como uma geração, vamos ficar com uma cicatriz do tamanho de um rombo em nossas almas, por termos vivido e sobrevivido a eventos terríveis, mesmo que de longe. Eu demorei para perceber o quanto as notícias terríveis, a injustiça sistemática e a solidão e o isolamento acabaram consumindo o meu bom humor e meu carinho, coisas que eu sempre achei que eram minhas melhores qualidades. Ali onde eles estavam ficou esse vazio.

Se tem uma coisa que essas histórias me fizeram perceber, porém, é que não sou apenas eu sentindo esse vazio. Ele sempre existiu, sempre vai existir, e a gente já aprendeu a conviver com ele uma vez. A humanidade evoluiu tanto e aprendeu tanto para saber que a história não gira em torno de si. Isso nos torna pequenos e insignificantes como poeira estelar vagando pela imensidão do vazio do universo. Se tem uma coisa que podemos fazer, juntos, é criar algo que faça sentido para nós nesse mero momento que temos de vida no meio desse vazio. Não é perfeito, mas a vida não seria interessante se fosse perfeita. Sortudos que somos.

Sobre linguagens

Eu perdi meu melhor amigo nesses últimos meses. Amizade é uma das coisas mais especiais da minha vida. Elas são as únicas relações que não se tornam mais escassas com o tempo. Nós continuamos disponíveis e suscetíveis às amizades por toda a vida. Nós escolhemos nos dedicar aos afetos e nossas famílias, mas sempre podemos fazer e perder amigos com o passar de todo esse tempo.

Eu sou uma pessoa feita pelos meus amigos. Eu sou um pouquinho de cada um deles, e eu deixo com cada um deles um pedacinho diferente de mim. Quando eu percebi que eu e meu melhor amigo estávamos nos afastando, meu coração se despedaçou como nunca antes, como eu nunca achei possível. Eu vi a vergonha nos olhos dele enquanto ele os desviava para me contar o que seria a pedra que estávamos colocando entre nós, e eu percebi que ele não queria que lutássemos contra ela como lutamos contra as outras. Esse era o fim.

Eu achei que eu ia chorar quando chegasse em casa naquela noite, mas eu não consegui. Ao invés disso, parece que tudo endureceu por dentro. Eu perdi meu amigo, a pessoa que por grande parte da minha vida foi a pessoa mais importante pra mim. Ele registrou o meu tempo como eu registrei ele. Quando a gente se via, eu sabia que ele entendia exatamente o que eu estava pensando enquanto ele me olhava, eu nem precisava dizer nada. Ele só sabia. Quando a gente tava junto, eu sentia que ele me via como a pessoa que eu queria me ver, aquele misto de orgulho e honra, e ele sabia que eu sentia o mesmo. Orgulho da pessoa incrível e fascinante que ele era, e honra de ser seu amigo e acompanhá-lo nesse tempo que estamos juntos no planeta. Quando acabou, eu perdi as palavras. Eu não sabia mais o que dizer nem o que escrever.

Amor é linguagem, é quase um idioma. A gente cria um sistema complexo de comunicação com outra pessoa — um misto de palavras, de gestos, de referências ocultas, de momentos só vividos entre os dois lados desse amor. E essa linguagem não deixa de existir quando as pessoas se afastam. Ela fica ali, esse conjunto de memórias e piadas e dores e palavras e tons que só duas pessoas entendem, e que você não vai poder usar com mais ninguém. Se você tiver sorte, como eu tenho, vai ter outras linguagens para usar com seus outros amigos, e essa vai só fazer companhia, as vezes vai voltar à mente e você vai lembrar de algum detalhe.

Nada substitui uma pessoa que foi especial para você. Acho que nem é saudável. Eu tentei, substituindo por casinhos de romance, que logo depois de conhecer já somem da nossa vista. Essas são sortudas. Você não cria nenhuma linguagem com essas pessoas. Você tem as suas, elas têm as delas. Mas ninguém conversava no mesmo tom que o meu melhor amigo. Ninguém me via como ele. Acho que ninguém vai ver.

Eu sempre escrevo pra alguém. É o meu modo de escrever. Eu imagino como eu contaria para a pessoa sobre aquilo que eu estou escrevendo. Geralmente, por todos esses anos escrevendo aqui, eu imaginava o Pão como um acervo de ideias e dicas e conversas que eu estava tendo com o meu melhor amigo. Eu não conversava sobre as coisas que eu escrevia aqui — geralmente nossos assuntos são outros —, mas eu imaginava que, se eu conversasse com ele sobre, ia ser dessa maneira. Isso me ajudava a me abrir, a buscar aqueles sentimentos e pensamentos que eu costumo ter quando estava com meu amigo.

Eu perdi isso. Eu genuinamente perdi o jeito de escrever. Eu não tenho mais as palavras que eu tinha, eu não tenho mais o tom nem aquela pontinha de inspiração que vinha as vezes. Eu não acho que ela vai voltar. Talvez algo diferente apareça. Um novo jeito de escrever, um novo jeito de me inspirar. Eu espero que sim. Eu não quero que esse lugar vire o registro de uma amizade do passado. Eu quero que ele seja um lugar que capture o meu presente e me lembre, no futuro, de tudo o que eu já amei e já senti.

Mas acho que isso demanda algum tempo. E eu preciso de um pouco de paciência.

Earth Clock

O Earth Clock é um relógio formado por imagens da superfície do planeta Terra que parecem com números (e com o sinal de dois pontos, é impressionante quantos lugares no mundo parecem com dois pontos vistos do céu).

O site é desenvolvido pelo estúdio de projetos experimentais da web CW&T. Você também pode baixar esse experimento como um protetor de tela para o macOS.

The HTML Review

The HTML Review é uma seleção anual de literatura feita para existir na web. Eu adorei a ideia desse projeto.

Na web a gente usa o hipertexto para nos comunicarmos. O hipertexto é único da web, a gente não pode fazer ele no mundo real, porque suas interligações (os links) são próprios da descentralização digital na qual a web foi fundada.

Mesmo assim, muito do que a gente lê na internet usa muito pouco dos recursos mais únicos do hipertexto. Essa última década a web pareceu regredir ainda mais nesse sentido. Ao invés de experimentarmos mais, estamos cada vez menos explorando as possibilidades do hipertexto como formato, reduzindo-o à representações reais do texto convencional: sites de revista parecem revistas, sites de jornal se comportam como jornais de papel. Instagram sequer aceita links nos seus posts.

O The HTML Review é um movimento contra isso. O próprio site é algo visualmente único da web, e os textos que ele destaca, como “GUESS WORDS” só poderiam fazer sentido num navegador.

Eu já favoritei esse site e salvei ele na minha barra de favoritos. Eu mal posso esperar pela próxima edição, no ano que vem.

Hoje é o “Dia de olhar para o céu”

Eu não sei aí onde vocês moram, mas aqui o céu estava lindo hoje. Pelo visto tinha um motivo, hoje é o Dia Nacional de Olhar Para O Céu em alguns países do mundo.

Eu descobri essa “data” e o detalhe da pintura acima nesse post da Biblioteca de Belas Artes de Harvard. O quadro é de autoria de John Constable, conhecido por seus estudos sobre o céu, que ele acreditava ser “o padrão para a escala, e o principal fator para o sentimento”.

Existe esperança para o mundo

O vídeo mais recente do (excelente) canal Kurzgesagt é sobre como as últimas duas décadas apontam para tendências que vão nos fazer evitar os eventos mais devastadores da mudança climática — se nós continuarmos insistindo e batalhando ainda mais para evitar a falta de esperança e a apatia.

É um vídeo excelente. Eu comecei assistindo ele meio cético pelos argumentos dados, mas o vídeo é muito mais sobre a necessidade de ter esperança e não deixar a tragédia tomar conta da nossa mente. Se não tivermos esperança, não vai haver pelo que lutar.

Home Sweet Homepage

Home Sweet Homepage é um gibi digital escrito e desenhado por Amy Wilbowo sobre como foi crescer online na época em que a gente fazia “homepages” no GeoCities ou no Trypod. É uma graça, e me fez lembrar de quando eu criei MSN Space pra falar sobre Spore (o site, que virou um blog um tempo depois, ainda existe).

Se você preferir (ou precisar), a autora oferece uma versão em texto aqui.

Minha dieta cultural nas últimas semanas

Eu ando sumido por aqui. Não só aqui, na verdade. Eu não ando escrevendo. Isso tem sido um problema que eu tô levando pra terapia já faz uns meses. Pode ser um punhado de coisas — eu suspeito que seja o conjunto dessas coisas, com uma confusão amorosa, o calor (que me tira a inspiração) e a reforma do meu apartamento.

Então eu resolvi dar um jeito nisso. Eu posso não ter muito o que escrever por aqui mais (pelo menos eu acho que não), mas eu posso oferecer uma pequena atualização do que eu ando assistindo e lendo e jogando. Algo bem breve. Talvez esse pequeno exercício me inspire a escrever mais. Eu tô torcendo pra que isso funcione.

Se você assinava A Baguete há uns anos atrás, já conhece o formato desse post. Depois dessa pequena introdução, vem uma lista com filmes, séries, jogos, livros e (as vezes) músicas que eu gostei nas últimas semanas. De vez em quando eu coloco alguns links interessantes que eu achei também. Vamos começar.


Pela primeira vez em muitos anos eu não fiz aquela “corrida do Oscar” que eu costumava fazer em janeiro e fevereiro. Eu não procurei a maioria dos filmes indicados para assistir. Eu decidi me comportar como um ser humano normal e assisti os filmes que mais me interessavam, e eu não me arrependo muito de ter feito isso? Eu já tinha assistido Ataque dos Cães na Netflix no ano passado e Mães Paralelas nos cinemas (e agora está na Netflix também).

Fora esses, eu queria muito ver Licorice Pizza, que estreou nos cinemas brasileiros em fevereiro e é um arraso — tem toda aquela energia que os filmes do Paul Thomas Anderson têm, repleto de vida e de movimento. Mas os destaques pra mim foram os dois filmes estrangeiros que conseguiram algumas indicações aqui e ali: o magnífico Drive My Car (nos cinemas, e a partir de hoje na MUBI) e o estonteante A Pior Pessoa do Mundo, que tá nos cinemas e eu não posso recomendar um filme mais do que esse.

Minha verdadeira paixão nesse início de ano, porém, foi com Sempre em Frente, o novo filme do diretor Mike Mills (eu escrevi sobre o filme anterior dele, Mulheres do Século 20), um filme bem pequeno sobre um homem cuidando do sobrinho enquanto entrevista crianças e jovens para seu programa de rádio. É belíssimo, e tem a minha sequência favorita do ano por enquanto — ele lendo o livro Star Child da Claire A. Nivola enquanto as memórias que os dois fizeram juntos vão sumindo lentamente. É maravilhoso.

Além dos filmes, eu sigo firme e forte na minha maratona de Plantão Médico na HBO Max (eu escrevi ano passado sobre como essa série ainda é impressionante de assistir). Também na HBO, minha série favorita do ano até aqui é a Estação Onze. Talvez eu tenha que rever ela. Ela fazia meus sentimentos parecerem grandes e pequenos ao mesmo tempo.

Eu ando assistindo muita coisa na Apple TV+, o que é um saco porque é chato de recomendar um serviço tão específico assim. Mas tá cada vez mais difícil contornar essa situação. A Apple TV+ tá com algumas das séries mais interessantes no ar atualmente: eu continuo amando assistir Central Park por lá, mas o verdadeiro arraso é Ruptura, sobre os funcionários de uma empresa que passaram por um processo médico que faz as memórias da vida pessoal e do trabalho se separarem, criando essencialmente duas pessoas no mesmo corpo. Quando eles estão na empresa, eles não lembram nada da vida pessoal deles fora dali; quando eles saem do turno de trabalho, eles não lembram nada do que aconteceu lá dentro. É brilhante.

Em termos de jogos, eu me arrisquei um monte em Elden Ring, que é um arraso de construção de mundo e de jogabilidade. Não é meu estilo de jogo (eu já sou ruim em jogos fáceis, imagina num assim), mas eu amo como a jogabilidade profunda que os jogos da FromSoftware oferecem é tão enriquecido com o mundo aberto.

Eu ando jogando mesmo é o Paper Mario original no catálogo do Nintendo 64 no Switch. Eu amo esse jogo e, mesmo que os visuais tenham envelhecido muito (o Paper Mario: The Origami King de 2019 é de uma beleza estonteante), a história ainda é uma das minhas favoritas dos jogos. Todos os personagens são muito carismáticos, e o humor é uma delícia. Mais jogos deviam ser bem humorados.

Meu maior destaque em jogos, porém, vai pra Tunic (Xbox, Game Pass e Windows/Mac), que provavelmente vai ser o meu jogo favorito do ano. Ele é tipo Zelda, tipo Dark Souls, mas é completamente único também. Um jogo de ação-aventura que explora o legado do próprio gênero enquanto contorce suas regras de jogabilidade pra criar algo único. Você só vai lembrar de jogos como A Link to the Past enquanto joga Tunic pra perceber como esse jogo faz você sentir que está se deparando com outra obra-prima. Não tem elogio melhor que esse.

The Lightning I, II

Eu amo esse momento. Mensagens estranhas começam a aparecer na internet. Algumas pessoas ao redor do mundo encontram cartões postais com pistas de locais, de dias e de horas. As pessoas se reúnem nos fóruns dos fã-sites do Arcade Fire e começam a especular. É como se estivesse no ar — vem música nova por aí.

E veio. Depois de aparecimentos estranhos nas caixas de correio dos fãs, de partituras espalhadas por Nova Orleans e Montreal, o Arcade Fire finalmente divulgou sua primeira música inédita em cinco anos, desde o lançamento de Everything Now: The Lightning i, ii. E é o Arcade Fire que eu gosto.

Definido como um hino aos que ficaram em quarto lugar, The Lightning é o tipo de música que tornou o Arcade Fire em uma das maiores bandas norte-americanas hoje: fazendo grandes declarações sobre nossos sentimentos mais íntimos e pequenos, criando uma sensação de comunidade com seus ouvintes. Em The Lightning, é aquele sentimento de falha — de que a gente espera por aquele momento em que tudo vai acontecer, e as vezes as coisas não dão certo. “Some will win, some will lose when the lightning comes”. Eu não sabia que eu precisava de companhia nesse sentimento de medo e incerteza e fracasso. Mas como a saudade e o luto, o Arcade Fire tornaram essa angústia em algo que a gente pode cantar bem alto até que ele fique um pouco menor. A minha banda favorita tá de volta.

A banda anunciou seu novo álbum junto com o lançamento da música. WE, o sexto disco do Arcade Fire, vai ser lançado em 6 de maio. O título do álbum vem do título do romance distópico russo “Nós”, de Yevgeny Zamyatin.

The Lightning I, II já está disponível no Spotify e no Apple Music, onde vocë pode salvar WE na sua biblioteca para ouvir assim que for lançado.

Bidoof vai te ajudar a se concentrar

Bidoof é o meu Pokémon favorito. Ele é inspirado no meu animal favorito, o castor. Ele é ao mesmo tempo um pokémon inútil e um dos mais úteis. Isso porque, embora ele não seja muito útil para batalhar (o principal objetivo de um pokémon nos jogos), ele é muito útil para te ajudar a navegar pelo mundo. Bidoof pode mover obstáculos e cortar caminhos. Quando eu jogo Pokémon Diamond/Pearl, Bidoof é a minha primeira captura, e o único pokémon que fica na minha equipe do início ao fim do jogo. Bidoof é um bom companheiro.

Nesse último ano, a The Pokémon Company andou apreciando o Bidoof. Em parte por causa do lançamento de Pokémon Brillant Diamond & Shinning Pearl, o remake dos jogos que introduziram Bidoof ao mundo, e de Pokémon Legends: Arceus, que se passa na mesma região onde ele é encontrado. Também porque Bidoof acabou encontrando uma leva de fãs ultimamente justamente pelo seu charme e companheirismo. Teve animação especial, tributos nos jogos e tudo o mais. Bidoof é amado.

A homenagem mais recente ao melhor dos pokémons é Bidoofwave, um vídeo de 9 horas de música relaxante para estudar ou se concentrar (por algum motivo, TPC não quer que eu incorpore o vídeo aqui). É um sonzinho bem bacana, que muda lentamente conforme a duração do vídeo (o vídeo em si é só um clipe de uns cinco segundos se repetindo constantemente), e eu tô curtindo ouvir enquanto faço umas coisas maçantes no trabalho. Bidoof é um ajudante.

Além do vídeo no YouTube, a Pokémon Company também colocou a trilha-sonora da minha vida em um disco no Spotify.

As melhores correntes de reblog do Tumblr

O Tumblr está fazendo quinze anos nesse mês de fevereiro. Para celebrar, a equipe decidiu homenagear as melhores correntes de reblog que aconteceram na plataforma nesse tempo através de reblogs (claro) no blog best-of-reblogs. É surreal de tão bom.

Se você não participou do Tumblr nos tempos áureos de 2010—2015, pode não saber o que é uma cadeia de reblogs, e deixa eu te explicar: é a melhor coisa que uma rede social já conseguiu criar. No tumblr, cada post pode ser “reblogado”. Se você postou algo que eu gostei, eu posso reblogar no meu próprio blog e adicionar alguma contribuição. Algumas vezes, os reblogs acontecem por dias ou meses e as vezes até anos, criando uma cadeia de reblogs de colaboração, geralmente muito bem humoradas e as vezes muitíssimo informativas.

O best-of-reblogs compila algumas das melhores cadeias de reblogs. Tem essa, em que os membros do site levam o aviso de uma placa às últimas consequências; ou essa que eu só posso classificar como “copypasta”, de tão absurda. Tem também essa excelente classificação de tipos de comida usando sua forma.

Mas o meu favorito no best-of-reblogs é a dos números ímpares, e a destruição completa da minha sanidade conforme eu fui lendo. Eu vou me dar ao trabalho de reproduzir ela aqui na íntegra, porque eu não quero enlouquecer sozinho.

https://best-of-reblogs.tumblr.com/post/676628163982458880/lily-orchard-thedeathangel2112

O tratamento mal-sucedido de um caso de "bloqueio do escritor"

Esse é o artigo acadêmico The Unsuccessful Self-Treatment of a Case of “Writer’s Block” na íntegra:

Uma página sem conteúdo, apenas o título

É uma piada acima de tudo, mas como foi um artigo publicado ele pode ser citado por outros artigos acadêmicos, e aparentemente ele já foi citado mais de cem vezes.

O próprio artigo da Wikipédia sobre ele não se aguenta de fazer umas piadinhas.

(Via Kottke).

Mother e EarthBound (finalmente) chegam ao Switch Online

Eu não tenho ideia do porquê demorou tanto tempo para a Nintendo adicionar EarthBound, um dos melhores jogos do SNES, no Switch Online — o serviço de assinatura em que eles disponibilizam alguns jogos clássicos do NES, SNES e Nintendo 64. Mas a espera acabou: tanto EarthBound quanto o jogo anterior da série, Mother, que nunca saiu do Japão na época do NES, chegaram ao Switch Online ontem de noite.

Foi a melhor das várias boas surpresas que foram anunciadas no Nintendo Direct de ontem. Portal e Portal 2! No Man’s Sky! Eu nem sabia o quanto eu queria um novo Wii Sports pro Switch até assistir o trailer de Switch Sports! Eu vou jogar vôlei online e não quero saber a opinião de ninguém sobre o assunto.

EarthBound é um dos poucos RPGs que eu gostei de jogar. Seu misto de RPG com aventura da Sessão da Tarde é algo que me atraiu e que até hoje não vi nenhum outro jogo tentar fazer igual. E embora seja um fracasso comercial reconhecido da Nintendo, ainda é um dos seus jogos mais ousados e únicos.

Eu ainda não joguei Mother, que só foi lançado fora do Japão através do Virtual Console do Wii U como EarthBound Beginnings, décadas depois do seu lançamento original, mas é por onde eu vou começar minha jornada dessa vez. Eu suspeito muito que eles estejam preparando alguma forma de lançar Mother 3, a continuação para GameBoy Advance que também nunca saiu do Japão, mas tem uma legião de fãs fervorosa no mundo todo.

Também achei um charme que a Nintendo publicou um vídeo apresentando o jogo para as pessoas que só conhecem Ness através do Super Smash Bros. (meu main, inclusive):

If Not Now, When

Eu acompanho e gosto muito do trabalho de Mike Rugnetta desde que descobri seu projeto Idea Channel, que buscava conexões improváveis entre os temas mais variados, de arte ao comportamento humano à física e reações biológicas. É o tipo de projeto de uma geração que, cresceu explorando a internet e descobrindo e exercitando esse tipo de pensamento — que conecta e constrói, como quando a gente se perde enquanto explora a Wikipédia.

Rugnetta tem vários projetos na internet e eu sabia de suas instalações, mas é a primeira vez que eu vejo uma gravação de uma delas. If Not Now, When é uma instalação feita por ele, Madeline Best e Brian Rogers que consiste na sobreposição de luzes, projeções e sons em um espaço público. O resultado parece um daqueles momentos de sonho, em que as coisas que parecem desconectadas se unem dentro e fora da sua mente. Fora, elas convergem em uma coisa só, como se fosse algo vivo. Dentro, elas se unem em um sentimento forte, de presenciar algo belo.

Eu amo esse efeito dessas obras de arte públicas, que a gente as vezes encontra enquanto anda na rua. É um bom jeito de lembrar de tudo ao redor de nós e tudo o que isso pode nos fazer sentir.

O que está acontecendo por aqui

Me desculpem pela falta de movimentação por aqui nesses últimos meses. Como eu comentei no post de fim de ano, eu ando meio atucanado com a reforma do meu apartamento e outros acontecimentos do lado de cá do computador, e o tempo está curto.

E eu não digo só pra aparecer aqui e escrever algo, mas para tudo o que geralmente me leva a escrever nesse blog em primeiro lugar. Eu não tô conseguindo ler meu RSS direito nas últimas semanas, nem ficar de olho em links legais no Twitter pra postar aqui. Pessoalmente, eu ando com pouco tempo até para visitar Léte, minha ilha no Animal Crossing, algo que eu achava inimaginável há alguns meses. Sem conseguir ler, navegar e conversar com os outros, eu fico com poucas ideias para escrever sobre coisas legais por aqui, o que acaba deixando o blog sem muita movimentação, e por isso eu peço desculpas.

Eu não vou dar uma data para quando eu talvez consiga voltar para o Pão. Ele funciona melhor sem cronogramas nem promessas, como eu já aprendi nos últimos anos. Por isso, eu peço só um pouquinho de paciência. A reforma do meu apartamento ainda deve demorar umas três semanas pelas minhas contas, então ao que tudo indica eu talvez volte a ter tempo pra respirar ali por fevereiro, e eu espero voltar pra cá assim que possível. Muito obrigado pela paciência, eu mal posso esperar pra comentar como eu sou apaixonado pelo Wordle.

Uma foto do Cometa Leonard

Um cometa cruzando o céu preto estrelado, com sua cauda branca deixando um rastro no céu

Essa é uma foto (composta por outras doze fotos) do “cometa de natal”, Leonard, capturada pelo astrônomo amador Andrew McCarthy (via Instagram):

“Apesar de estar bem baixo no céu a sudoeste, consegui tirar cerca de 12 minutos de fotos em close-up, o que me deu uma ótima visão da incrível estrutura e cor ao redor do núcleo. Eu não conseguia ver a olho nu, mas com binóculos dava para ver muito claramente. Você pode fotografá-lo com a câmera de um celular se souber onde procurar!”

McCarthy apareceu no blog em abril do ano passado com essa foto do Sol.

Boas vindas ao ano novo, pessoal!