Ok, esse site tirou toda a minha produtividade hoje. O random.earth é uma curadoria aleatória de imagens bonitas da Terra feitas pelos satélites do Google Earth.
Ele funciona tipo o antiguíssimo StumbleUpon: você vota numa imagem que outra pessoa recomendou, e depois o site te oferece uma imagem para recomendar.
É o tipo de experimento que une coisas que me interessam, a aleatoriedade e a cartografia, em um só link. Adoro quando descubro coisas assim.
Afastando-se um pouco do contexto pandêmico, os dois últimos programas da mostra latina do 32º Kinoforum trouxeram reflexões acerca do passado colonizado e expropriado da América Latina mas também novas formas de narrá-lo.
Latinos 3 - Alegorias e Adereços
Elegendo curtas que dialogavam com novas formas de imaginar o real, esse programa trouxe filmes que se utilizavam do híbrido entre documentário e ficção, como Caso à parte e Interferência, ambos fabulações acerca de imagens de arquivo muito bem realizados. Além disso, temos a excelente animação Tío, que se propõe a discutir tradição, violência e ruptura familiar no México.
Em se tratando de México, destaco aqui o que considero ser talvez o melhor curta-metragem da mostra latina e, por isso mesmo, merece esse espaço: A felicidade do motociclista não cabe em sua roupa, do diretor Gabriel Herrera, é, em todos os sentidos possíveis, uma bela alegoria. De forma inspiradora, temos um voice over narrando a conquista do país por um explorador colonial, enquanto vemos na tela um motociclista orgulhosamente sentado em sua moto. Utilizando imagens sem movimento de câmera, quase como retratos, o filme brinca com as conquistas do colonizador, que queria enfrentar a selva sozinha, e as coloca lado a lado com a conquista da moto. Uma metáfora elaborada e cheia de ironia, que expõe de maneira interessante o ridículo da colonização e como tal “façanha” é motivo mais de piada do que qualquer outra coisa.
A felicidade do motociclista… é um filme para ser visto e revisto, entendido talvez como uma ótima alegoria do que é esse pedaço de américa latina que temos hoje. Com referências que remetem a Godard e talvez um pouco de Roy Andersson, com o uso do humor irônicos e os quadros muito bem organizados e pensados, é um dos melhores curtas do festival em 2021.
Latinos 4 - A persistência da memória
Sabendo que seria incapaz de não me atingir de subjetiva por um programa que trata sobre memória, já esperava ficar imersa nos curtas deste programa. Contando com somente 3 filmes, todos documentais, o programa 4 trouxe como tema central as reminiscências do passado e como ele nos afeta hoje, tanto afetivamente quanto socialmente. São filmes que lidam com a imagem da memória, em arquivo ou no instante preciso.
Em A montanha lembra, da diretora Delfina Carlota Vazquez, temos uma narradora enfrentando a imagem de um vulcão em atividade. Distante, no horizonte da janela da diretora no México, aquela montanha aberta e tomada de lava é uma silhueta que guarda a cidade. Mas guarda também as lembranças da constituição originária daquele povo, suas crenças e seus rituais. A diretora utiliza-se de imagens filmadas por ela mesma de forma bastante íntima, fazendo lembrar Agnès Varda em suas andanças documentais pelo mundo. Uma reflexão acerca do que fica sedimentado na terra e se torna memória e objeto das pessoas que ocupam um lugar e o tomam para si, tendo ao lado delas a fúria do vulcão que desperta em momentos cruciais de sua história.
Reconstruir o passado na busca de não repeti-lo é o que o diretor Julio Barrera busca em Nossos homens ausentes, ao trazer as vozes das mulheres de sua família para narração ativa da história. Deixando-se conduzir pelos cômodos do que parece a ser casa que abriga sua mãe e suas tias, Julio busca fotos, objetos e os coloca em frente a cada uma delas, absorvendo sua narrativa. Uma família, segunda uma das vozes que ouvimos, condenada a não ter homens, o que é entendido como “maldição”. A sina, nesse caso, é repetida pois a velha história que conhecemos se repete com as mulheres da família de Julio: os homens as abandonaram e as deixam sozinhas com os filhos. É nesse ponto delicado que o cineasta remexe e lambe a ferida. O que parece é que Julio quer ser outra coisa para seu filho pequeno e, para isso, ele remonta o passado dessas mulheres que o criaram e faz dele motor do que impulsiona seu futuro.
Por fim, temos o que também considero como um dos melhores curtas desta mostra: Correspondência, das diretoras Dominga Sotomayor e Carla Simón. Iniciando como uma narração sobre as vidas de cada uma das diretora, com voice overs e colagens visuais, o curta é uma costura de momentos e reminiscências das duas, através de trocas de cartas. Situado no contexto pandêmico, somos convidados a rever o passado familiar das diretoras, que se veem nostálgicas e sensibilizadas nesse caos instaurado pela doença e pela morte. Em dado momento, temos até um vislumbre da imagem que certamente inspirou Dominga a reconstruí-la em seu excelente longa Tarde para morrer jovem. Uma constelação visual que abraça a memória e a faz protagonista, mostrando que a rememoração do passado e sua presença no que vivemos hoje foi uma constante nos primeiros momentos do isolamento social.
É curioso pensar o quanto pudemos absorver em uma semana intensa de filmes. Como disse no texto anterior, a cabeça fervilhando de ideias é excelente para trocas, para a mesa de bar, mas perde seu encanto na frieza do virtual. Evidentemente que nos acostumamos à ideia de que essa também é uma possibilidade de se debater e enriquecer o que vimos, mas sempre tenho a sensação de falta.
De qualquer forma, para além deste pequeno lamento, acredito que a mostra latina do 32º Kinoforum trouxe um panorama interessante e abrangente do que temos de narrativa curta hoje e, querendo ou não, mostrou o que tem se pensado nesse mundo isolado e assolado pelo luto. Ainda que amargo, acontecendo à nossa frente e se fazendo presente, da maneira que for.
Pensei diversas vezes em como fugir dos termos pandemia, covid, isolamento e assemelhados neste texto. Obviamente, já comecei falhando. Cobrir uma mostra em meio ao caos, de maneira remota, deixa sempre um gosto agridoce na boca. Ao mesmo tempo que temos essa oportunidade de assistir um sem número de produções excelentes, no conforto de nossas casas, percebo que aquele prazer específico de sair da exibição de um programa com a cabeça fervilhando se perde. E esse ano a Mostra Latina do 32º Kinoforum, que novamente me propus a cobrir, trouxe uma diversidade enorme de mundos para dentro do meu quarto.
Se em 2020 me perguntei o que significava ser latina, neste ano eu me senti mais contemplada no que assisti. Muitas mulheres assumindo direção, roteiro e protagonismo dos filmes, além de observações precisas sobre o contexto pandêmico que vivenciamos como latino-americanos. Tenho pra mim que as veias nunca estiveram tão desesperadamente abertas quanto agora e acredito que os programas que falo a seguir resumiram de alguma forma isso.
Latinos 1 - Encontros Insólitos
Abarcando filmes que tratam de relações microscópicas e eventos que reúnem não mais que 3 pessoas, esse programa trouxe questionamentos que contemplam amor romântico e suas possibilidades de futuro, como em Blanes Esquina Müller, e amor entre membros de uma mesma família e o que isso significa no espectro de uma futura morte, como em Muralha da China. No entanto, é mesmo nos encontros inesperados que acontecem as tramas de Hora Azul e Os Indomados, dois curtas cubanos exibidos neste programa.
Em Hora Azul, da diretora Zoe Miranda, Mariano e China encontram-se em um hospital. Ele, saindo da consulta em que descobre ter câncer de próstata. Ela, aguardando o corpo do marido recém falecido. Apesar de conhecerem-se de vista, ambos são estranhos um ao outro. E é nessa colisão em um cenário inóspito que vemos o início de uma relação, em que China lamenta com frieza a morte do marido e Mariano digere a notícia da doença. Ambos dialogam, em uma tarde na pequena casa de Mariano, sobre seus temores futuros, sua miséria e seu passado ainda reminiscente por todo o entorno. Uma rota diferente a ser traçada é vislumbrada na sequência final, mas não sem carregar em si o amargo do encontro.
Em Os Indomados, do diretor Damian Sainz Edwards, começamos literalmente no escuro, tateando junto ao protagonista pela mata. Gritos buscando por Damián, seu irmão, saem da boca de Orestes e tomam conta da imensidão noturna na selva, sabiamente localizada já no início do filme, através de um intertítulo, como sendo ponto comum de fuga de escravizados. Orestes busca por Damián de maneira desesperada, enquanto flashes de luz com homens entre si transando no meio da mata tomam seu olhar e do espectador. Há inúmeros desesperos e fantasmas no grito do protagonista, que vão além do passado e fogem de maneira atravancada para o futuro.
Latinos 2 - É preciso estar atento e forte
Propondo mostrar, nos 4 curtas que abrigou, a urgência do mundo que temos agora, esse programa trouxe questões sobre violência social, abandono e paternidade, como em O sonho mais longo de que me lembro e ainda homofobia, masculinidades e aceitação em Água. Dialogando ainda com uma questão urgente e contemporânea, Quem diz pátria diz morte, do diretor Sebastián Quiroz, exibe os protestos que ocorreram no Chile em 2019, em que os manifestantes puseram fogo em diversos pontos de Santiago para reclamar o aumento da passagem do metrô. Utilizando imagens de arquivo e depoimentos, o documentário traz um excelente retrato do Chile ditatorial e as consequências desse regime de terror no país atualmente.
O destaque desse programa fica por conta de Adentro, curta produzido de maneira coletiva por 6 cineastas de diferentes países da américa latina.
Tratando diretamente do mundo pandêmico e suas interpelações na vida cotidiana, cada diretor e diretora propõe um olhar sobre o que vê para além das janelas, portas e frestas de suas casas. Olham também para dentro, para suas relações familiares e seu entorno. Formas de lidar com a solidão são retratadas e reflexões sobre o existir em um mundo assolado pela doença e pela morte.
Em um dos fragmentos mais marcantes, filmado todo em preto e branco, a diretora equatoriana Gabriela Calvache, dialoga com sua filha pequena sobre o que esperar do mundo pós-pandemia. As duas conversam sobre a morte iminente, à época literalmente nas portas das casas no país, e a menina chora pela possibilidade de perder a mãe. Em outro fragmento, a costa-riquenha Alexandra Latishev, se vê tomada pelo desejo e pela libido, trazendo a questão do contato físico do outro para o centro do debate.
Uma constelação de debates sensíveis, decididamente pesados e delicados, muito bem acertada ao se propor um panorama de vozes que, em conjunto, ecoam os horrores da pandemia em países latinos. Ainda que se trate de um assunto saturado, o curta traz belas imagens e propõe olhares e discursos novos sobre o que temos vivido desde 2020 nos lados de cá do mundo.
A mostra latina do 32º Kinoforum foi efetivamente rica em qualidade este ano e, respeitando o mérito destes curtas, decidi que seria melhor termos duas partes desse panorama. Por agora, fiquemos com estes dois e logo mais retorno para falar dos outros dois programas: Alegorias e Adereços e A Persistência da Memória.
O curta-metragem sempre foi um formato permissivo à própria reinvenção e adaptável aos diferentes contextos criativos. Ao acompanhar a Mostra Internacional do 32° Curta Kinoforum, composta por 38 filmes e 8 sessões, pode-se dizer que às limitações impostas pela pandemia se mostraram um ponto de partida para a invenção de muitos dos filmes, mas não podemos esquecer que esse desejo de mudança vai muito além disso.
Existe alguma “maturação” de certos temas que as cinematografias apresentaram nos últimos anos - por mais que não se proponha exatamente a fazer um panorama da produção de curtas-metragens pelo mundo nos últimos dois anos, podemos dizer a mostra nos traz um recorte interessante e bem diverso da produção mundial de curtas nesse período, construída a partir de alguns temas-chave.
Este texto não é nenhuma cahiersducinematização (não entenda mal), não foi escrito para vender nenhum cinema como “revolucionário”, ou afirmar que as coisas serão diferentes depois de qualquer filme em particular. Acontece que, diante da cada vez mais crescente necessidade de dizer o óbvio, talvez seja interessante pensar em como alguns filmes conseguem fazê-lo com certa desenvoltura, mas sem perder a chance de avançar em certos debates.
Nessa leva de filmes, realizados entre 2020 e 2021, de alguma forma, o lugar comum do progressismo social democrata nas representações não se descola mais do pensamento neoliberal protofascista que começou a ser sistematicamente difundido pelos mercados após a crise de 2008 - de repente essa ideia tão prepotente que tínhamos, de que conseguiríamos traçar com uma linha que nos apontaria “onde foi que tudo começou a dar errado”, passa a soar tremendamente ingênua e pedante.
Um filme que nos ajuda a compreender para compreender essa noção é “Estrela Vermelha” (Yohan Manca. França, 2020), que conta a história de um homem que dedica o seu tempo ao trabalho voluntário junto ao clube de futebol de seu bairro, e que vê a sua vida ruir após perder o emprego e ter seu apelo à seguridade social negado por falta do registro de algumas horas trabalhadas. Note que aqui o vilão não é o autoritarismo explicito, e nem o infortúnio repentino do vírus, mas a mentalidade liberal progressista comum, a “social democracia keynesiana”, o welfare system - essa média desmedida e desequilibrada que se vende como “sensata” em meio à polarização, é ela quem deixa a porta da tirania aberta.
A visão do começo dos anos 2000 como uma época de avanços e esperança parece nunca ter existido em “Fantasia do Desastre” (Christoph Girardet, Matthias Müller. Alemanha, 2021), filme que explora, de forma provocante, imagens das torres gêmeas produzidas por Hollywood, muitas delas fazendo algum tipo de alusão premonitória à tragédia do 11 de setembro - são travellings que atravessam pelo meio dos dois prédios, imagens e mais imagens de aviões sobrevoando áreas próximas (certamente produzidas para ressaltar a altura dos monumentos).
A animação “A arte está no sangue” (Joanna Quinn. Reino Unido, 2021) parece nos alertar, com muito bom humor, sobre como acabamos aceitando que nossas obsessões tornem-se definidoras de quem somos, e, ao narrar em primeira pessoa as peripécias de uma família de obsessivos, a realizadora toca em diversos temas como a solidão, as disfunções familiares e o próprio processo criativo. No filme “Do.Solo.Pin” (Javad Atefeh. Estados Unidos, 2021) Shahla, uma cuidadora de idosos, precisa implorar pelo seu salário como quem pede por um favor, e recebe a resposta afirmativa e preguiçosa da patroa como uma dádiva. Além da rotina exaustiva, ela ainda precisa fazer videochamadas para provar para a patroa que realmente está trabalhando.
Em “Cicatrizes” (Alex Anna. Canadá, França, 2020) e “Irmãs” (Katarina Rešek. Eslovênia, 2020) temos histórias de personagens tentando recobrar o controle sobre o próprio corpo, que também podem ser percebidas como relatos de solidão e “isolamento social” (não esse causado pela pandemia). No primeiro, Alex luta contra o desejo de automutilação, uma forma de “materializar” a dor que sente e criar um mapa temporal em seu corpo. A sensação de solidão e o medo da não compreensão das outras pessoas acaba por colocá-la em um vórtex onde ela não sabe mais se provoca os cortes para aliviar a tristeza, ou se na verdade sente-se triste por causa de suas cicatrizes. Já no segundo, vemos três garotas que se entregam ao combate físico como resposta à violência imposta pelos garotos do bairro - como se tomassem a iniciativa de escolher a violência antes de serem surpreendidas por esta - elas lutam por si mesmas, por outras garotas, e encontram na relação com uma personagem transexual, inicialmente vista com desconfiança e estranheza, uma conexão que finalmente afaga suas ansiedades e parece oferecer algum afeto em meio a um contexto tão conflituoso.
Em “Fim do Sofrimento (Uma Proposta)” (Jacqueline Lentzou, 2020), Sofia ouve uma voz informá-la de que ela na verdade vem de Marte, e que, assim como ela, existem muitos outros marcianos na terra perdidos, alguns deles seus amigos. Marte é um lugar onde não existe tempo, nem ansiedade; ou pelo menos é isso que a voz nos diz, além de nos fazer notar essa estranha obsessão dos seres humanos em buscar em tudo um “sentido” e finalidade - ao som de Hiroshi Yoshimura.
Na animação “Escondido” (Daniel Gray, 2020), ao brincar de esconde-esconde com seu irmão, um garoto acaba passando a vida inteira dentro de um armário. Esquecido pela família, ele observa pela fresta da porta a vida do irmão acontecer. A questão do esquecimento e da memória das pessoas esquecidas também é trazida por “Eventos Para Serem Esquecidos” (Marko Tadic, 2020), animação inspirada no poema de Hans Magnus Enzensberger “Die Verschwundenen/Os Desaparecidos”.
“Não foi a terra que os engoliu, foi o ar”
“O Frango” (Neo Sora, 2020) nos mostra um passado e um presente que se confrontam na medida em que a trama se materializa. Oriente e ocidente se misturam, e a morte do frango dá lugar ao nascimento da criança. Enquanto em “Canção do Pecado” (Marrocos. 2020) o passado se parecia muito mais com o futuro do que o hoje, e uma tradicional canção de amor e ternura se transforma em “depravação” com o avanço da mentalidade fundamentalista. O radicalismo, na verdade, parece uma praga a ser combatida em muitos dos filmes da Mostra Internacional, com destaque para “Cerberus” (Kaspar Ainelo, 2021), um conto sobre a “pós-verdade”, e “Ônibus Noturno” (Joe Hsieh, Taiwan. 2020) animação em que os personagens estão o tempo todo prestes a explodirem em uma espiral interminável de violência e vingança.
Em “Grab Them” (Morgane Dziurla-Petit, Suécia. 2020) a técnica do Deepfake é utilizada para contar a história de uma mulher que carrega uma incrível semelhança com o então presidente norte-americano Donald Trump - tentando fugir dos olhares curiosos e buscando uma forma de se conectar com alguém após o divórcio recente, ela acaba encontrando simpatia em um pequeno bar da cidade, onde supremacistas e caipiras locais se reúnem para conversar sobre a teoria da conspiração em voga no momento. Apesar de aceita e livre dos olhares estranhos, ela não consegue se sentir confortável nesse ambiente.
As questões geracionais aparecem de maneira eloquente em “Forasteira” (Diretora, Espanha. 2020), na trama a menina Antônia vai passar o feriado na praia após a morte de sua avó e, ao descobrir sua semelhança física com ela, passa a exercer um estranho poder sobre o seu avô enlutado, é um filme que tensiona alguns limites interpretativos e não oferece exatamente uma conciliação. Em “Trânsito” (Brendan Canty, Irlanda. 2020) uma jornalista que escreve sobre a sexualidade feminina passa por uma situação um tanto constrangedora quando têm de levar seu avô ao hospital e o aparelho de rádio defeituoso de seu carro começa a tocar suas anotações pessoais - no fim a essa comicidade termina por oferecer essa conciliação.
No curta-metragem “Passagem” (Ann Oren. Alemanha, 2020) um artista de foley tenta recriar os sons para um filme protagonizado por um cavalo, uma bela reflexão sobre o poder das imagens (e dos sons), inspirada na obra de Eadweard Muybridge. A técnologia também aparece em “Reconhecimento Facial”, uma divertida animação sobre um fugitivo tentando burlar um poderoso sistema de câmeras de segurança em um “futuro próximo”. Mas talvez o filme mais significativo a trazer a questão seja “Quebrantos” (Koldo Almandoz, Maria Elorza. Espanha, 2020), filme que mostra, através de uma radiografia, a situação de uma mulher que tenta fugir da violência doméstica através dos “devidos dispositivos legais”, o problema é que os aparelhos utilizados no controle das distâncias das medidas protetivas (algo semelhante às tornozeleiras eletrônicas utilizadas no Brasil) são fáceis de burlar, com dezenas de vídeos ensinando à fazê-lo no youtube, de forma que as mulheres não consigam se sentir plenamente seguras, e a ilusão de proteção acabe sendo mais um empecilho - não é exatamente novidade que, ao contrário do que possa parecer, na era das discussões calorosas nas redes sociais, a tecnologia pareça ser o caminho mais curto na recriação de um passado marcado por opressões.
Em “Viagem ao Paraíso” (Linh Duong, Vietnã. 2020) , Tam encontra um antigo amor durante uma viagem turística de ônibus, ela não sabe bem se ele lembra dela, e de alguma forma revive as ansiedades de um sentimento pueril. Já em “Chega Para Lá” (Inès Girihirwe. Ruanda, 2020) uma mulher busca em algum lugar de sua vida anterior uma fuga para o relacionamento abusivo que está vivendo.
Você pode assistir aos filmes mencionados no texto, e alguns outros da Mostra Internacional através da plataforma Innsaei clicando aqui, eles seguem disponíveis por lá até o dia 29/08. Você também pode assistir à uma seleção especial dos filmes exibidos no 32° Festival Internacional de Curtas de São Paulo que estará disponível até novembro no SpcinePlay.
Em sua 32ª edição, o Kinoforum exibe na Mostra Competitiva Brasil um filme que já há vários meses tem marcado os cantos por onde passa, “República” de Grace Passô, nos ganha pela genialidade de sua proposta simples e pungente quando bota o dedo na ferida absurda de ser brasileiro nestes últimos anos - ou nestas últimas décadas. Pode se dizer que começamos pelo final, mas também pode se argumentar que não há regras de ordem, nem começo, nem fim, quando se fala de um festival tão diverso e vasto quando o Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo. Neste ano, estão presentes na Competitiva Brasileira 13 filmes com diferentes propostas, diferentes estéticas, diferentes intenções. E algum despropósito no meio, como não poderia faltar.
Procurar uma linha de união nesta seleção que se propõe, como o próprio nome já sugere, trazer um panorama brasileiro, é deixar-se submergir e ser levado, enquanto corre das armadilhas de dobrar os filmes a nosso olhar. Qual o ponto de encontro entre “Acesso”, de Julia Leite, e “Olhos Livres”, de Fábio Rogério? Talvez, a resposta venha justamente do desencontro, da possibilidade de atrito. A construção finamente elaborada da montagem de Acesso conduz e nos prende em sua originalidade, é uma linguagem fílmica se desembolando e abrindo e dialogando com seu tempo histórico em sintonia. As imagens de arquivo, as viagens feitas pelo google street view, as janelas em constante variação. Em paralelo a estas visualidades múltiplas, está o ponto de maior intensidade do filme, a condução que se dá não por uma narração, mas por uma contação. Ao invés do olhar de fora que analisa e narra, temos o privilégio de um encontro sensível em que cada uma conta sua própria história, de resistência, de pertencimento, de rupturas e de comunidade. Ah sim, e do outro lado, Olhos Livres, como uma homenagem que fala mais sobre seu homenageado do que uma biografia não autorizada e que ecoa um velho mantra: “é da merda que nasce a epopeia”. Será mesmo? Acredito que em 2021 podemos reconhecer os méritos de algumas conquistas na história do nosso cinema sem fechar os olhos para a constância esmagadora do endeusamento de homens usualmente cis, héteros, brancos e burgueses.
Em 2021 vemos Huri em “Colmeia”, de Maurício Chades, contando sua história como ela quer e quando ela quer, num longo plano de seu rosto que dura quase o filme inteiro. É uma entrevista subversiva a partir do momento em que ela rompe com a esperada mansidão do entrevistado e conduz ela mesma a narrativa. Ver sua força na tela quase nos ajuda a respirar, ouvir os sons do lago e vento e sua voz tudo em harmonia é como ser fisgada. E fisgada mesmo, a ponto de não perceber a ebulição sendo construída até que é tarde demais. Huri desde o começo se senta em frente ao lago Paranoá, mas este lago nunca foi apenas paisagem de fundo, se enreda com a própria vida de Huri, recebe seu presente oferenda, e responde, com calma, com força. É estranho como a placidez de um lago pode ecoar na serenidade do fogo queimando em constância.
Ainda na mesma sessão, “Céu de Agosto” de Jasmin Tenucci é um filme peculiar, traça paralelos entre uma enfermeira em São Paulo e queimadas na Amazônia, mas não é nem isso o que mais chama a atenção. É por um ar de estranhamento que nunca nos abandona inteiramente, pelos elementos quase fantásticos quase de gênero. É também por sua protagonista, cheia de seus mistérios e passado e futuro, de rosto cansado e olhos argutos. Mas como não ter os olhos cansados, o corpo dela, grávida, ainda assim continua a ser um convite para que alguém sempre tenha um comentário, uma dica, um questionamento. Menino ou menina, onde está o pai? “Não tem, graças a Deus” ela responde, e a resposta atravessa a tela. No final inesperado, o que mais choca é como aquilo que poderia ser considerado um elemento fantástico, na verdade é o eco de um dia real em São Paulo.
“4 Bilhões de Infinitos” de Marco Antônio Pereira
E por fantasia, chegamos ao universo de “4 Bilhões de Infinitos” de Marco Antônio Pereira. Um dos filmes mais potentes presentes na mostra esse ano, essa história mineira consegue unir fantasia, imaginário, cotidiano, identidade e infância. Consegue inclusive transpor qualquer barreira geográfica, a identificação com as crianças protagonistas, Adalberto e Ana Júlia, é imediata. Do portal flamejante à ameaça de chuva, vemos o mundo principalmente através dos olhos de Adalberto, na verdade, grudamos nele. De um lado as montanhas infinitas, do outro as casinhas simples. Não se sabe o que vem a seguir, o filme não se entrega em nenhum momento, suas curvas são imprevisíveis, cada cena pintando uma nova parte do quadro cotidiano dessa família de mãe e filhos que à tarde sozinhos conversam à luz de velas, unidas contra o que o mundo pode querer tomar delas, planejando um futuro cheio de possibilidades. E ainda, a graça genial dessas duas crianças falando sobre Cinema: “igual a nós, a gente ri e chora juntos”. E isto, depois de “roubar” o cinema. É preciso ver, porque é preciso sentir. O lençol branco ao final, os galhos, o vento, parecem perguntar, mas o que é cinema mesmo? Uma tela em branco, uma vida a ser escrita.
“O Babado da Toinha”, de Sérgio Bloch
Identidade, pertencimento, existência, afeto… paralelos possíveis a conectar alguns dos filmes na mostra esse ano. Menciono em especial “Ela Que Mora no Andar de Cima”, de Amarildo Martins e “O Babado da Toinha”, de Sérgio Bloch. Imageticamente não se aprecem em nada, um documental e o outro ficção, um na Bahia outro no Sul, uma Toinha, a outra Luzia. Diferenças há que sobra, mas isto apenas evidencia a força justamente da pluralidade, não é a escolha de uma ou outra forma, é a coexistência de mil possibilidades e ainda mais. Luzia se encanta com uma paixão em ares de primeiro amor, sonho e ansiedade que a faz desafiar a si própria e se reinventar. Toinha conta sua história numa trama costurada com fios de dendê e sua receita mágica, é reinvenção todo dia, com força e energia evidenciadas pela câmera que a acompanha de estalo e em cores vívidas, porque “é difícil de fazer, mas vale a pena”. Com licença, mas Toinha faz todos os babados, e o babado da Toinha também é o babado do Cinema.
Dentre as concatenações possíveis, a ficção, o documentário, aquilo que não é nem um nem outro em específico, mas experiência na tela, estão os 13 filmes deste ano. Vários caminhos são abertos, descobertos, achados. Mas ainda resta a sensação de que falta algo, algo que exploda, algo que ecoe na mente insistentemente, mas é claro, não é tão justo falar do que falta. Exceto, pela clara falta de diversidade na direção dos filmes daquela que é uma das principais mostras do festival: 13 filmes, 3 diretoras.
Começa hoje o 31° Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, e você pode assistir aos filmes selecionados pela curadoria de forma gratuita entre os dias 19 e 29 de agosto pela Innsaei (www.innsaei.tv). Assim como em 2020, todas as atividades do festival acontecerão de maneira online.
Os festivais costumam a ser um ponto de encontros e trocas entre realizadores e pessoas interessadas nos filmes, encontros quase sempre motivados pelos afetos e por uma sensação de comunidade e pertencimento - recriar esses ambientes de maneira online certamente foi um grande desafio para as equipes de produção destes eventos após a chegada da pandemia. O modelo adotado pelo Kinoforum foi um dos mais interessantes pela universalidade de acesso às atividades, garantindo uma visibilidade ainda maior para os filmes selecionados, uma vez que extingue às barreiras físicas.
Em 2021 o catálogo será disponibilizado como no ano passado, com sessões liberadas a cada 24 horas do dia 19 ao dia 26 de agosto - e do dia 26 ao dia 29 deverá estar inteiramente disponível com livre acesso e navegação entre todas as sessões. São 200 curtas-metragens de todos os continentes, selecionados a partir de uma ampla diversidade de territórios, estéticas e visões. Você poderá acompanhar o festival conosco, se quiser ter um guia na ajuda para decidir o que assistir poderá recorrer aos nossos textos sobre as mostras, que serão postados entre os dias 26 e 27.
Acompanhar o festival e trazer algumas impressões através dos textos foi a forma que encontramos de extravasar essa necessidade dos encontros e dos afetos (antes referida), de assistir e discutir os filmes entre amigos. Esperamos que os nossos leitores possam sentir esse carinho ao acompanhar conosco mais uma edição deste festival tão importante para o curta-metragem.
Seleções especiais da programação também estarão
disponíveis nas seguintes plataformas:
Tamanduá - de 20 a 29 de agosto exibe os filmes
selecionados para a Competição Brasileira
Sesc Digital - de 20 a 29 de agosto exibe uma seleção
especial de filmes
Spcine Play - de 23 de agosto até novembro, exibe uma
Meu tipo favorito de link é aquele sobre um assunto tão específico que é interessante tanto pelo assunto em si quanto pela curiosidade que levou até ele.
Esse texto do New York Times é uma volta ao mundo maravilhosa: como são os tons de embarque/desembarque dos metrôs em diferentes cidades. A de Paris é bem comum, acho que porque a gente ouve ela em vários filmes que se passam na cidade, mas eu acho tanto a de Toronto quanto a do Rio um charme. São pontuações bonitas pro nosso dia-a-dia.
O bacana do artigo (além da direção de arte) é a história de alguns desses sons.
In Paris, a simple “A” note plays as the doors shut. This is also a throwback, a sound that mimics the vibrations of a mechanical part that is no longer in use on any of the system’s trains. “But for a half century Parisians and visitors alike became used to that sound, so we decided to keep it, and recorded a synthesized version,” said Song Phanekham, a communications manager for the Paris transit system. “It’s a tribute to the heritage of the Paris Metro.”
In Tokyo, each station has its own custom jingle to signal departures. In Rio de Janeiro, the subway’s door chime pays homage to bossa nova. In Vancouver, the doors still close to a three-note sound that was recorded in the 1980s on a Yamaha DX7. (“The hallmark of any mid-80s pop song,” said Ian Fisher, manager of operations planning at British Columbia Rapid Transit Company.)
O artigo, que acompanha a “coleção de sons” de Ted Green, me lembrou da linda banalidade do dia-a-dia, algo que eu sinto falta agora que eu passo dias inteiros dentro de casa. Essa passagem me pegou:
“I think the appeal is the simplicity,” Green said. “You wonder, how can there be so many different variations of beeps? And then you listen, and they’re all so different.”
Quando eu ia a pé para o trabalho, eu gostava de não usar fones de ouvido porque tem algo no som da cidade naquela hora da manhã que me atraía. Ainda dava para ouvir o som dos pássaros enquanto os ônibus chiavam na João Pessoa.
Se você quer cair em um vórtice sobre esse assunto específico, esse canal do YouTube possui vários vídeos (alguns gravados pelo próprio Ted Green) com bipes e sons de vários trens ao redor do mundo.
A maioria dos jogos que eu me interesso no computador são independentes ou “experimentos de jogabilidade”. Não tem nenhum motivo poético aí: eu cresci em uma casa onde o único computador era o do trabalho do meu pai, e poucos jogos rodavam naquele gabinete da IBM com um processador Pentium 2. Meu pai, inclusive, gostava de jogos de aventura de apontar-e-clicar, então a gente não tinha nem iniciativa de ter um computador melhor para rodar os jogos mais pesados, a gente precisava aguentar jogar The Sims 1 quando TS2 já tinha sido lançado.
Isso guiou bastante o meu acesso e o meu gosto por jogos com o passar do tempo. Quando eu finalmente tive um computador um pouquinho melhor, ele ainda estava a alguns anos de distância de jogos mais modernos. Eu joguei Half-Life 2 em 2008, por exemplo — quatro longos anos depois do seu lançamento. A Steam tava crescendo muito nessa época, e com ela a explosão do acesso mais fácil a uma cambada de jogos menores. Existe todo um ecossistema de “jogos mais curtos e com gráficos piores” por trás dos blockbusters de Call of Duty e Battlefield, e foi esse ecossistema que eu aprendi a explorar por muitos anos em promoções da Steam e recomendações de amigos com as mesmas limitações tecnológicas que eu.
Hoje eu sou um usuário de Mac, o que é um beco sem saída: embora ele seja excelente para trabalhar com aquilo que eu preciso, ele não é muito poderoso nem tem uma oferta de jogos muito grande.
Mas tem algo fascinante aparecendo agora. Graças ao Apple Arcade, lançado no final de 2019, o Mac tá recebendo um fluxo constante de jogos novos. Toda a sexta-feira, o serviço de assinatura lança um jogo novo que roda em qualquer dispositivo suportado da Apple (do iPhone à Apple TV, passando pelo Mac e pelo iPad). E, por causa das limitações tecnologicas dos sistemas da Apple — por mais poderosos que sejam seus processadores, sua performance na hora de lidar com gráficos complexos não se compara a placas de vídeo dedicadas —, o Arcade está criando um ecossistema muito semelhante àquele que a Steam gerou nos anos 2000: estúdios ganharam um lugar para lançar seus jogos estranhos e que provavelmente não têm nenhum apelo de publicidade.
Eu amo esses lugares. O Wii tinha algo semelhante com o WiiWare, e o Xbox 360 tinha com o seu próprio Live Arcade. Ecossistemas assim oferecem jogos mais baratos, e por serem mais baratos eles se arriscam mais. Grandes títulos saíram de lugares assim, como os clássicos World of Goo e Dear Esther.
Agora, com o Apple Arcade, eu tô tendo a chance de descobrir jogos maravilhosos de novo. Eu já falei aqui de uns, como The Last Campfire e Populus Run, mas tem também WHAT THE GOLF? e Skate City e Alba e versões “definitivas” (sem compras adicionais) de Alto’s Odyssey e Monument Valley.
É uma pena que, como o Apple TV, o Arcade sofra da exclusividade que a Apple coloca nesses serviços. Eu quero muito poder recomendar um jogo como The Pathless ou Skate City para meus amigos, mas não posso porque eles não usam um Mac ou um iPhone, e eu acho essa limitação contra o espírito dos jogos que o Arcade oferece. Esses jogos contam histórias mais diversas do que as grandes produções da Microsoft ou da Sony, ou exploram temas mais difíceis como o luto e a gentrificação, e estando isolados em plataformas tão caras impedem que eles provoquem o barulho que podem.
Isso está mudando aos poucos: jogos do Arcade parecem ter um período máximo de exclusividade antes de aparecerem em em outras plataformas, e ele tá se transformando no meu jeito favorito de descobrir os jogos que quero comprar no meu Switch. Sayonara Wild Hearts e Cozy Grove e The Last Campfire são títulos que joguei muito no último ano, e que descobri primeiro no Mac e, de tanto gostar, queria levar eles para qualquer lugar no meu Switch. Da mesma forma que o streaming fez maravilhas para a diversidade da minha coletânea de filmes, o Arcade tá expandindo ainda mais a minha coleção de jogos. Esse é um espírito bacana de manter e de se inspirar.
Blob Opera é um experimento de aprendizado de máquina de David Li junto ao Google Arts and Culture, em que quatro vozes são moduladas pelo mouse do usuário para criar sons semelhantes aos cantores de Ópera.
Se você clicar no ícone do planeta no canto inferior direito da tela e escolher alguma outra casa de ópera, você pode escolher assistir os blobs tocando algumas composições famosas. Em Paris tem a belíssima Gymnopédie no. 1, mas a minha favorita é a canção de ninar zulu na casa de ópera da África do Sul.
Existe a possibilidade de eu ter passado tempo demais brincando com isso na hora do almoço.
No ano passado, graças à dedicação de algumas pessoas, realizamos a cobertura do 31° Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo. Foi uma forma de, em plena pandemia, mantermos o diálogo sobre cinema com amigos que compartilham desse interesse. Nada além do que já fazíamos anteriormente, porém com a missão de transmitir essa paixão para os nossos leitores e registrarmos nossas impressões sobre os filmes através dos textos.
O legal disso tudo é que funcionou muito bem, quase que de maneira intuitiva (com algum esforço mínimo de organização, é claro), pois as pessoas que toparam esse desafio tinham visões muito distintas e plurais sobre cinema. Nos dividimos através das mostras e nos esforçamos para falar do máximo de filmes possíveis, além de termos tentado trazer, também, visões mais gerais sobre a programação. Apesar das nossas limitações, que eram muitas, afinal o festival contava com 212 curtas no catálogo (e nós éramos apenas quatro pessoas), conseguimos fazer um trabalho muito especial, que registrou de uma forma muito íntima e pessoal, sem perder em objetividade, as nossas percepções sobre o festival - um tipo de linguagem e aproximação com o leitor que é característico do Pão, e que sabemos interessar a quem acompanha o blog.
Em 2021 resolvemos nos lançar nesse desafio mais uma vez. Inclusive, estamos atrás de pessoas que tenham interesse em se juntar a nós, acompanhando esse queridíssimo festival e expressando suas ideias sobre o evento, e os filmes, através dos textos. Se você tem esse desejo, e quer nos ajudar a fazer uma cobertura ainda mais completa e plural do Kinoforum, entre em contato conosco através do e-mail: [email protected].
É uma alegria imensa poder acompanhar e participar, de alguma forma, de um festival que a gente tanto gosta e admira - vale lembrar que a Associação Cultural Kinoforum é uma das grandes referências no mundo quando o assunto é a difusão e preservação do curta-metragem. Além das mostras e atividades relacionadas aos filmes e realizadores presentes, o festival ainda conta com oficinas e atividades voltadas a reflexão cinematográfica.
Através do site você pode conferir os filmes selecionados (ainda não organizados em mostras), navegar pelos eventos anteriores e fazer a sua inscrição nas oficinas e atividade oferecidas pela organização do festival: http://www.kinoforum.org.br/.
O fotógrafo Jan Langer fez retratos de pessoas centenárias no estilo de fotos que elas tiraram setenta ou oitenta anos antes para seu projeto Faces do Século.
Se você clicar no ⓘ embaixo de cada uma das fotos você pode ler uma pequena biografia da vida do retratado, sua antiga ocupação, seu relacionamento com a família. São histórias de pessoas que sobreviveram as duas guerras mundiais, a era espacial, a guerra fria, e viram a era da computação começar.
Segundo Langer, a República Tcheca possui 1.200 pessoas com mais de cem anos, mas esse número deve aumentar para 14 mil nas próximas décadas. A idade média do mundo parece crescer conforme a perspectiva de vida aumenta também, e mesmo assim vemos muito pouco sobre como é a vida quando se atinge esse estado centenário.
A curiosidade da autora é fascinante: a espécie que aparece no quadro “Madonna della Vittoria” habita naturalmente a região da Oceania, o que fez ela questionar “o que a presença desse pássaro revela sobre as conexões entre uma cidade italiana e as florestas distantes além do mundo conhecido pelos europeus”.
É um texto curtinho, mas excelente. Mead observa como os traços da mudança climática estão documentados por toda a parte na arte, quando espécies assim aparecem como intrusas. História da arte é basicamente ecologia forense, e um barômetro do meio-ambiente.
O diretor John Boswell e o podcast Twenty Thousand Hertz produziram esse vídeo sobre como o som do espaço poderia ser se náo fosse um vácuo, desde o “barulho” do Sol à explosão do Big Bang.
Eu gosto de como eles explicam que o espaço é formado por “trilhões de ilhas de som”, cada uma com características sonoras muito diferentes — as tempestades de Venus ou a superfície de Marte “soam” muito diferentes do que a Terra.