Posts publicados em 06/2021

A história da web

Eu sou apaixonado por histórias daqueles dez, quinze primeiros anos da internet, quando comunidades se formavam ao redor do brilho dos monitores para desbravar tudo o que a internet poderia fazer. Essas comunidades eventualmente criaram as tecnologias fundadoras da web, e serviços que até hoje sustentam a mega-infraestrutura que existe para manter a internet o mais livre e independente possível.

Como The Soul of the New Machine e Halt and Catch Fire, a série de artigos Web History, de Jay Hoffmann, narra em um tom poético mas nada romântico como essa fundação da web aconteceu – das brigas internas dos times de pesquisadores da ARPANET à introdução de CMS como o WordPress e o Blogger, que democratizaram a criação de sites. Alguns capítulos, como o dedicado ao CSS, podem ser cheios de termos muito técnicos para quem não trabalha com esse tipo de coisa, mas vale muito conferir. É uma documentação histórica da internet, e eu gosto que ela existe de uma bonita assim.

Além dos textos, os capítulos são oferecidos em formato de áudio em um podcast, que é o meu jeito preferido de acompanhar. Eu posso ouvir enquanto desenvolvo as coisas do trabalho. É em inglês, mas o narrador Jeremy Keith usa uma voz bem calma e espaçada, se você está arranhando um pouco na língua acho que é uma boa pedida.

Arquitetura infinita de Benjamin Sack

Detalhe do desenho de uma metrópole superpopulosa, em que uma catedral se destaca em meio aos prédios “Boxed In”

O artista desenhando uma metrópole superpopulosa circular “Roots of Being (Per Aspera ad Astra)”

Detalhes do desenho anterior, com prédios tão grandes que formam labirintos na metrópole Detalhe de “Roots of Being”

Detalhe de um desenho em que uma megalópole circula montanhas, que se confundem com os prédios colossais Detalhe de “Leitmotif”

Esses são alguns desenhos do artista Benjamin Sack, que imagina ambientes em que construções e estruturas em megalópoles podem até parecer labirintos imensos. Sua nova obra, a imensa Roots of Being (Per Aspera Ad Astra) vista acima, começou a ser feita no início do lockdown em março de 2020 e foi finalizada quando ele tomou a primeira dose da vacina, em abril desse ano. Ele descreve a tela para o [Colossal] como “um labirinto enorme, emblemático da época em que nós persistimos”.

Confira também esse vídeo que mostra um pouco do processo de Sack.

O trailer da segunda temporada de Central Park

As minhas séries favoritas do ano passado decidiram voltar juntas nesse mês, aparentemente. E eu não vou reclamar. A segunda temporada da charmosa Central Park tá aí, e a série volta nessa sexta-feira, dia 25, na Apple.

Eu comentei sobre Central Park ano passado, e como eu tava triste que essa comédia tava presa em um serviço de streaming que ninguém ia assinar. Ano passado eu achava Central Park (e, em menor medida, For All Mankind) a única série que valia a pena assistir no serviço, mas nesse último ano entre as temporadas a Apple TV trouxe Ted Lasso, Snoopy e sua Turma, Wolfwalkers, a maravilhosa segunda temporada de For All Mankind, e uns documentários maravilhosos, como Boys State e O Ano em que a Terra Mudou.

Eu ainda não tenho certeza que a Apple TV “vale a pena”, mas eu acho que se a qualidade desse último ano se manter por mais um ano eu não duvido que a gente vai parar de comparar a Apple TV como um Netflix com menos conteúdo e começar a comparar ela com a própria HBO, e daí sim não vai ter como fugir de assistir essas séries. A qualidade tá lá em cima.

A minha nova dieta da internet

Em janeiro eu escrevi sobre como o recurso de lista de leitura me ajudou a navegar melhor pela internet nos últimos anos. Porém, há algumas semanas, a forma como eu navego pela internet mudou bastante de uma hora para a outra, e me fez pensar em como eu gosto de como eu navego hoje em dia.

Mês passado o Twitter comprou um serviço que eu utilizava todos os dias: o Nuzzel. O Nuzzel era um agregador de links das pessoas que você segue no Twitter. Ou seja: quando um amigo meu tuíta sobre um artigo, esse artigo aparece no Nuzzel com um “comentário” (o tuíte) do meu amigo. Quanto mais pessoas tuítavam sobre um mesmo link, mais destaque o link recebia no Nuzzel. Há um tempo já eu não acessava o Twitter em si, eu via aquilo que meus amigos comentavam no Twitter através do Nuzzel, que dá destaque ao conteúdo em si. Em sua eterna sabedoria, o Twitter desativou o Nuzzel assim que o comprou.

O Nuzzel era, junto com o Digg, uma ótima forma de descobrir coisas novas na internet. O Pão é basicamente o meu recorte daquilo que eu mais gosto nessas minhas descobertas — um artigo interessante, um vídeo bacana, uma galeria de fotos bonitas no Flickr, etc. O fim do Nuzzel me atrapalhou um bocado, porque ia ser mais difícil de ver o que estava chamando a atenção dos meus amigos, mas me incentivou a repensar em como navegar por aí para não ter que me fazer voltar a acessar o Twitter com maior frequência.


Eu me esforço muito para não depender de acessar o Twitter para descobrir coisas bacanas. Por exemplo: sites que possuem feeds, como Kottke e BLDGBLOG, ficam no meu leitor de RSS. Mas eu descobri que meu leitor também dá suporte à listas do Twitter, então eu criei algumas listas com autores que eu gosto (e que não possuem blogs ou coisas do gênero) e “assinei” a lista no meu leitor.

Minha dieta da internet hoje em dia consiste basicamente em feeds RSS, newsletter e podcasts. Quando links chegam pra mim, eles geralmente são compartilhados diretamente pelo Telegram ou WhatsApp. Eu acho bacana.

Mas uma dieta não é apenas o que, mas também quando e como. No caso, eu não passo o dia inteiro com leu leitor RSS aberto, nem fico de olho no meu email para ler minhas newsletters assim que elas chegam. E esse é um detalhe importante, que eu até comentei no guia de RSS: meu leitor RSS não pode parecer trabalhoso, e o que eu assino por lá importa muito.

Por isso meu leitor RSS não é a única forma que eu assino meus feeds. Eu divido eles em basicamente dois grupos, assinados em lugares diferentes:

  1. No meu leitor RSS eu recebo “descobertas”, coisas postadas em blogs e revistas que postam mais eventualmente. Eu acesso o meu leitor RSS antes do trabalho, no intervalo do almoço e no fim do expediente, e não gosto de ter um número muito alto de artigos não lidos, porque assim eu não vou acabar vendo nada. Vou só ignorar todos os itens e fechar o leitor. Com poucos posts, todos são interessantes.
  2. Feeds que postam mais frequentemente (geralmente sites de notícias), eu assino através do Livemarks, uma extensão para o Firefox que assina feeds RSS e os transforma em pastas de favoritos (ou live bookmarks) que ficam na minha barra de favoritos do navegador. Como meu navegador está sempre aberto no trabalho (eu trabalho com internet, afinal de contas!), sempre que sobra um tempinho eu dou uma olhada nas últimas notícias da Folha ou do Kotaku, por exemplo. Eu clico nas manchetes que me chamam atenção, e não preciso ficar “marcando como lido” todas as 300 notícias que eu não leio.

O bom dessa forma de navegar pela internet é que ela não é ditada pelo momento em que um link apareceu para mim, e sim o momento em que eu me liberei e posso conferir o link. É uma mudança sutil, mas importante: a gente para de se sentir “preso” à timeline e começa a tomar as rédeas de como acessamos a internet de volta. Eu defino quando e como eu vou acessar os links que meus amigos compartilham, ou que aparecem no meu leitor, que eu acesso quando tenho tempo o suficiente para prestar atenção. A falta de um algoritmo para criar falsos “prazos de validade” faz com que a ansiedade de perder um link acabe, então aquela checagem constante de Twitter, Facebook ou Instagram acaba.

Quando tem algo que eu quero prestar muita atenção, mas não vou ter tempo para ler naquele momento, eu salvo no Pocket, minha lista de leitura que já é integrado no Firefox. Nele eu posso destacar trechos e fazer anotações, e eu gosto de ler meus artigos no Pocket antes de dormir ou tomando meu café antes do expediente. A gente volta a gostar de acessar a internet quando a gente coloca ela à nosso serviço, e não o contrário. Como uma boa dieta, a gente se sente um pouco mais saudável e mais bem disposto também.

Pelo visto eu devia ler as notas da edição em livros antigos?

Eu, em minha eterna ignorância, sempre pulei tudo aquilo que “não era o livro em si” quando eu lia algum livro antigo. Eu não queria saber sobre o prefácio do tradutor ou as notas da tradução. Eu queria pular pro prato principal.

Lendo a coletânea de contos do Raymond Carver no ano passado, eu li pela primeira vez a introdução do editor. Ainda bem que sim, porque a introdução me preparou pra evolução estilística de Carver que eu provavelmente não ia ter percebido nem apreciado quando eu fui de Fogos para Catedral, por exemplo.

Mesmo assim, eu cometi o mesmo erro de ignorar todo o conteúdo extra-textual em Orgulho & Preconceito quando eu comecei a ler o livro no início do mês. Tinha um ou detalhe que estavam me chamando a atenção, uma estranheza mesmo, na forma como essa ou aquela frase terminam ou uma oração muda de forma. Primeiro, eu achei que era resultado do discurso indireto livre de Jane Austen, o que torna seus livros tão deliciosos de ler (além do sua sagacidade e bom humor).

Então eu me rendi e li os comentários da edição, e aí sim que entendi que Orgulho & Preconceito sofria mudanças a cada publicação, tentando “corrigir” justamente essa estranheza que eu tava sentindo. As notas da edição me deram o contexto em que essas passagens possam ter surgido (um problema na primeira edição, ou algo assim), e como a tradução tratou de cuidar delas para não causar nenhuma estranheza que a própria autora não pretendia. É importante esse contexto, porque Austen, uma mulher, teve que lidar com desconfiança e machismo na hora de tomar suas decisões autorais que reverberam até hoje na sua literatura.

Foi aí que eu decidi ler notas das edições de outros livros antigos que eu li, como Uma Criatura Dócil e Fausto e, amigos, é assim que eu percebo minha burrice. Eu passei meses lendo Fausto, por exemplo, porque passava muito tempo me preocupando que eu não estava entendendo isso ou aquilo. E tava ali, explícito na nota da edição, o porquê daqueles detalhes. Isso teria poupado tanto da minha atenção e do meu mau humor, vocês não têm ideia.

Enfim, leia as notas da edição. Não faça como eu.

videogamedunkey faz uma resenha surpreendente de Playtime

videogamedunkey é um dos meus canais favoritos no YouTube. Ele faz ótimas reviews de jogos que são ao mesmo tempo engraçadas e esmiuçam muito bem como o jogo funciona ou não. Ele também faz vídeos engraçados de vez em quando.

Eu não tava esperando que ele fizesse uma review de um filme, principalmente não de uma comédia quase experimental francesa dos anos 1960, mas aí está. E é uma ótima resenha, inclusive, que consegue esmiuçar como esse filme faz você procurar o que olhar, e porque isso é legal.

“Esse filme” é PlayTime, um dos melhores filmes que eu já vi e provavelmente o filme mais impressionante de todos. É uma comédia gigante, tanto em escopo quanto em potência, e eu recomendo muito se você não viu. PlayTime é um filme estranho no início, então eu realmente recomendo que você assista à resenha do Dunkey antes de assistir para te preparar pelo que está por vir.

Se você gostar de PlayTime, o que eu acho muito provável que vai acontecer, eu também recomendo que você se aventure em toda a filmografia do seu diretor, Jacques Tati (o MUBI faz uma retrospectiva do diretor de vez em quando). Tati é um dos grandes mestres do cinema, que tinha um domínio surreal sobre o que e como a gente vê um filme. E são grandes filmes, que precisam ser vistos em telas gigantes para poder entender o que está acontecendo. De certa forma, PlayTime é como nada do que você já viu ou foi feito no cinema, e ao mesmo tempo é o progenitor de muito o que foi feito no audiovisual desde então.

Tacoma é uma boa alternativa para quem tem muito medo de Alien: Isolation (eu)

Eu tô jogando Tacoma essas últimas semanas. Tacoma é um jogo de mistério em que você investiga o que aconteceu com a população em uma estação espacial através de registrosde conversa e acesso aos computadores pessoais deles.

Tacoma é um jogo do pessoal da Fullbright, o estúdio que alcançou as estrelas com Gone Home, que tem uma jogabilidade muito parecida: são jogos em primeira pessoa, e você precisa investigar uma série de ambientes. “Investigar” é uma palavra forte pro que acontece, na verdade. Você faz isso mentalmente, mas no jogo a investigação é uma série de ações mundanas: ver capas de livros, olhar com atenção para um quarto, ouvir o disco favorito de um personagem.

Através dessas ações, você vai remontando a história dos personagens que habitavam os lugares que você está. É uma fórmula “simples” – alguns jogadores sequer consideram esse tipo de jogo um jogo, mas eles são babacas –, mas eu acho extremamente eficaz. É fácil de pegar o jeito com os controles, e Tacoma retribui sua atenção com passagens belíssimas. O verdadeiro cuidado desses jogos está em como a história do todo é distribuída cuidadosamente por esses espaços inabitados. A gente vê apenas o que restou daquelas pessoas, mas na nossa mente a gente consegue imaginar quem elas foram, e pelo que elas tavam passando.

Eu cheguei em Tacoma por acaso: eu tava jogando Alien: Isolation, mas eu sou extremamente suscetível à me apavorar em jogos de terror, e tava sendo muito difícil passar por alguns maus bocados naquele jogo. Isolation é lindo, e se você tem o coração e o fôlego pra jogar um jogo em que você está em um ambiente que não quer você lá, eu super recomendo.

O que eu mais gostava em Alien: Isolation, porém, era como ele conseguia capturar aquele sentimento do Alien original, de pessoas que precisam conviver no meio do vácuo mortal do espaço sideral através de câmaras de metal. São espaços muito vívidos, cheios de detalhes sobre a tripulação daquelas naves, e quando o Alien me dava uma trégua eu adorava ficar vasculhando a nave por detalhes sobre a tripulação e ver o apreço aos detalhes que o time da Creative Assembly pôs em cada espaço que o jogador passa.

Mas jogos são feitos com verbos, e alguns deles são mais fortes que outros: em Alien: Isolation, o verbo “sobreviver” é mais forte do que “descobrir”. É um jogo em que você está preso na mesma bolha de ar que um ser feito para matar tudo o que ver pela frente, então é uma questão de prioridade mesmo. Em Tacoma, o desastre já aconteceu, e você precisa ver o que restou daquelas pessoas. “Investigar”, em Tacoma é ver, ouvir e prestar atenção. As vezes, algumas coisas que você está ouvindo só vão fazer sentido bem depois, porque você só ouviu o final de uma discussão e não viu o que causou ela.

Eu sou um fã de ficção científica, e um fã de histórias que se passam no espaço em especial. Tacoma olha para essas histórias com doses certas de fascínio e cinismo: fascínio pela conquista da humanidade, de enviar pessoas para fora do nosso planeta; e cinismo, sabendo que cada conquista da humanidade leva nossos traumas de imperialismo e colonialismo e autoritarismo junto. Mas Tacoma consegue manejar esse cinismo com a humanidade que as melhores histórias no espaço – como Alien – com a beleza da vida humana que a gente leva pra onde nós conseguimos ir. A gente investiga um desastre e o resultado da exploração desenfreada, e o que a gente encontra é a humanidade, que luta para mostrar suas marcas mesmo fora do nosso planeta.

Aqui está o trailer da continuação de Breath of the Wild

Eu tô muito emocionado. Na apresentação, Eiji Aonuma disse que a sequência de Breath of the Wild vai ter seu cenário expandido de Hyrule para os céus.

Tem algo que o time do Aonuma conseguiu nesses trailers que eu simplesmente não sei expressar direito. Eles nos atraem pro seu senso de aventura. Eles querem que a gente vá e explore e descubra tudo o que esse mundo de Zelda tem a oferecer. Esses jogos nos atraem para uma mágica que existe nesses jogos. É como se fosse mágica mesmo.

A sequência de Breath of the Wild deve ser lançada em 2022. Eu acho que, se esse novo Nintendo Switch for real, ele pode ser lançado só quando esse jogo estiver pronto. Zeldas abrem gerações.


Em outras notícias da apresentação da Nintendo na E3, minha lista de compras para o Switch até o final do ano tá assim:

  • The Legend of Zelda: Skyward Sword HD (julho)
  • WarioWare: Get It Together (setembro)
  • Metroid Dread (EU NÃO ACREDITO, outubro)
  • Pokémon: Brilliant Diamond (novembro)

Eu achei que a Nintendo ia anunciar uma coleção de remakes para celebrar o aniversário de Zelda esse ano (a gente sabe que Twilight Princess HD e Wind Waker HD estão parados lá no Wii U), e agosto e dezembro ainda são meses sem nenhum lançamento grande da empresa, então ainda tenho um pouquinho de chance de que isso pode acontecer. Fico feliz que eles mencionaram que Metroid Prime 4 ainda tá em desenvolvimento (eu aposto que esse aí se tornou em um título de lançamento pro novo Switch), e ainda mais contente que o primeiro Metroid em 2D em mais de duas décadas vai ser lançado esse ano. O trailer até chama Metroid Dread de “Metroid 5”.

Enfim, mais um ano sem um relançamento de EarthBound.

Como a montagem de Ted Lasso captura o espírito colaborativo da comédia

Na TV, comédia pode ser filmada de algumas maneiras. As duas mais comuns são os chamados setup de multiplas câmeras (multi-cam setup) e o setup de câmera única (single cam setup). Você provavelmente já viu séries que usam cada uma dessas abordagens, e provavelmente sabe dizer qual é qual instintivamente: as chamadas “sitcom” são geralmente gravadas com várias câmeras em frente à uma platéia. É o caso de Friends e The Big Bang Theory, por exemplo. Já comédias como Fleabag e Ted Lasso são gravadas com uma câmera só, de uma forma mais parecida com um filme.

Nesse texto para o AV Club, Saloni Gajjar comenta como a montagem de Ted Lasso traduz bem a sensação de colaboração do futebol, e das amizades, e como ele cria uma série tão boa de sentir com isso:

Look no further than the first meeting between Ted, Coach Beard, and kit-man Nathan (Nick Mohammed) in the pilot. When Ted and his fellow coach ask the latter for his name, he’s surprised; no one ever asks. Instead of immediately giving an answer, there’s a pause as the camera cuts back and forth between their faces, setting the comedic tone and letting Nathan’s confusion linger (and Mohammed’s performance shine). The joke continues when Ted and Coach Beard see Nathan again and remember his name, and the scene cuts to another look of happy surprise on the kit-man’s face. The Ted Lasso editors build on a similar momentum for every character and running gag. One of the show’s biggest secondary arcs is Roy and Keeley’s romance, and the editors prime us to root for them early on by focusing on their longing gazes, flirtatious parking lot conversations, and when Roy finally asks Keeley out in episode eight (“The Diamond Dogs”).

McCoy and Catoline’s intercuts from the field, to the coaches, to the viewers in the stands and those watching the game at home present the matches in an appealing way to fans as well as viewers not particularly interested in soccer. In the establishing shot of the premiere with the AFC Richmond team practicing on the field, the duo combines close-ups of legs and passes with slow-motion scenes and pans out to catch all the gameplay. These jump-cuts, especially in the finale, generate the necessary energy for high-stakes storytelling. This is true of non-game scenes as well. Two of the show’s most memorable moments—the team celebrating its win by going to a karaoke club in “Make Rebecca Great Again,” and Ted’s game of darts with Rebecca’s ex-husband, Rupert (Anthony Head), in “The Diamond Dogs”—speak to McCoy and Catoline’s remarkable ability to follow the script’s character developments and the actors’ work with their cuts.

Ai, ai. Ted Lasso é muito boa. A nova temporada estreia no mês que vem, e eu mal posso esperar.

Um guia gentil para você começar a usar RSS

Eu escrevi aqui (mais de uma vez) sobre como RSS é bom e como ele melhorou meu dia-a-dia na internet depois que eu voltei a usá-lo. Eu tô prestes a terminar um próximo post sobre ele, mas antes disso eu lembrei que alguns amigos meus me pediram ajuda para começar a usar leitores de feeds, e os tutoriais na internet sobre o assunto geralmente são escritos por entusiastas da tecnologia, que têm um tom um pouco presunçoso. Então eu decidi escrever esse guia bem simples de como configurar um leitor e encontrar seus feeds favoritos.

O que é o RSS

RSS é uma sigla para “distribuição realmente simples” em inglês, e é isso que ele faz: ele distribui o conteúdo de um site para outros lugares através de feeds, uma lista desse conteúdo que outros aplicativos podem ler e mostrar para o usuário. Um leitor de feeds é esse aplicativo, que consome o feed — o conteúdo dos posts desse site — e o disponibiliza no próprio aplicativo.

Com o RSS, eu posso distribuir o conteúdo do Pão para um leitor RSS. Com um leitor de RSS, você pode receber o conteúdo distribuído por diversos sites em um só lugar. Você decide de quais, você decide quando abrir, e você decide se quer ler ou não.

Digamos que você assina uns dez feeds: alguns blogs, algumas newsletters, e o feed de um jornal, como a Folha de São Paulo. Quando você abrir o seu leitor RSS de manhã, você vai ver as notícias, os novos posts e as edições de newsletters desde a última versão que você abriu em um só lugar. É como se fosse um jornal personalizado. Essa é a mesma tecnologia que distribui podcasts, então se você escuta algum podcast, você já está usando RSS!

Se o número de conteúdos não lidos acumula, você pode achar maçante ter que abrir seu leitor RSS, então eu recomendo que você assine apenas aquilo que realmente importa para você: os sites que você visita com mais frequência durante o dia, ou blogs que você esquece que existem até que o algoritmo do Twitter ou do Facebook finalmente lembre você de ir lá conferir — eles provavelmente postam raramente, então você não vai ficar com muita coisa acumulada.

Se você pesquisar sobre RSS vai encontrar artigos sobre Atom e XML e versões do RSS. Não se preocupe, de verdade! Um leitor RSS está preparado para tudo para que você não se preocupe com isso.

RSS e redes sociais

As melhores qualidades da internet de antigamente estão preservadas no RSS: ele é composto por arquivos pequenos, então eles carregam rápido, não consomem muitos recursos do seu computador ou do celular. Isso também significa sem anúncios que ocupam a página inteira, ou que controlam a rolagem do seu navegador enquanto você lê.

Diferente das redes sociais, o RSS não é controlado por algoritmos. É um jeito mais calmo de explorar a internet. A lista de posts é ordenada dos mais recentes para os mais antigos. Quando você marca eles como lidos, eles são arquivados. Você pode acessá-los quando quiser.

Você não precisa ter medo de perder algum conteúdo legal. O leitor não vai esconder posts que você não leu porque você ficou a última semana sem abrir o aplicativo. Ele vai esperar você voltar quando quiser. Se você não quiser ler nada, você pode marcar tudo como lido de uma vez. Se algo te interessa, você pode marcar para ler depois.

Usando um leitor RSS

RSS é uma tecnologia aberta e gratuita, então existem vários leitores bem diferentes para você escolher e que melhor se adaptam à sua experiência! Alguns oferecem sincronia entre diversos dispositivos, então sua lista de feeds vai estar atualizada entre seu celular e seu computador, por exemplo.

Esses serviços costumam ser pagos, mas você pode optar por ter um leitor RSS só no seu computador ou só no celular, ou receber feeds diferentes em cada dispositivo. E para isso existem várias alternativas gratuitas. Fica ao seu critério como você vai querer usar.

Alguns dos mais populares são:

  • Feedly, com planos gratuitos e pagos.
  • InoReader, também com planos gratuitos (bem generosos!)
  • The Old Reader, o plano gratuito é cheio de recursos
  • Feedbin, pago mas com recursos poderosos

Todos eles oferecem os mesmos recursos básicos, então é muito mais uma escolha sobre o design do que você mais gosta e se os recursos “extra” te chamam mais a atenção. Eu uso o Feedbin, por exemplo, porque eu posso criar feeds de perfis no Twitter e de canais no YouTube. É muito útil!

Uma ótima alternativa também é o Livemarks, uma extensão para o Firefox que permite que você assine um feed na barra de favoritos do navegador. A extensão cria uma pasta com os links mais recentes do feed e os atualiza na periodicidade que você escolher. Eu gosto muito de usar essa extensão para feeds que se atualizam constantemente, como a Folha de S. Paulo, porque as últimas notícias ficam sempre se atualizando enquanto eu trabalho.

Encontrando feeds

Todos os blogs possuem feeds, e a maioria dos jornais oferecem feeds gerais e específicos. Se você quer receber todas as notícias publicadas no G1 você pode, mas se você quiser receber apenas as notícias de um colunista ou de uma seção (Esportes, por exemplo), o site oferece um feed específico para você só receber o conteúdo daquilo que desejar.

O jeito mais fácil de encontrar um RSS é pesquisar pelo nome do site e o termo RSS no Google. Cada página de escritor no Medium oferece um feed; cada canal do YouTube também.

Para assinar esses feeds, você só precisa copiar a URL da página para o seu leitor. Ele vai escanear a página pelo endereço do feed e assinar. Você pode organizar seus feeds em pastas ou em tags, para deixar tudo arrumadinho.

Seu RSS é algo que você vai construir com o tempo. Você vai descobrir um site legal ou um canal no YouTube interessante, e então você assina o feed. Se você perder o interesse por algum desses feeds, ou se eles postam demais e você se sente perdido, você cancela a assinatura. É tudo muito simples, e você tem o controle sobre tudo.

Como as melhores tecnologias da web, o RSS foi feito para melhorar o seu dia e fazer você se sentir bem. Está na hora de a gente voltar a usá-lo!

E não esqueça de assinar o feed do Pão no seu novíssimo leitor.

Quem é você, Charlie Brown?

Esse é o trailer de Quem é você, Charlie Brown?, um documentário sobre o criador de Peanuts, Charles M. Schulz que vai estrear na Apple TV+ no próximo dia 25.

O documentário vai ser narrado por Lupita Nyong’o e parece bonzão. Eu tô gostando um bocado da leva de produções de Peanuts que tão aparecendo na Apple TV. Eles tem todo o acervo dos desenhos clássicos (com exceção de Snoopy, volte para cara) e Snoopy & Sua Turma é um charme. Se você gosta de espaço e de Peanuts, como eu, Snoopy no Espaço é ótimo. Eu só gostaria de uma série animada da turma mesmo, não só do Snoopy. Quem sabe mais pra frente.

No Sudden Move, e outros filmes que tem mais elenco do que espaço no cartaz

A HBO lançou o trailer do novo filme de Steven Soderbergh, No Sudden Move:

No Sudden Move parece um tipo específico de filme que eu adoro, que é aquele em que tem tanta gente boa no elenco que parte da graça é ver como eles conseguem encaixar o nome de todo mundo nos cartazes e nos trailers. São filmes que, com tanto talento, precisa de muita trama pra fazer render, então os filmes vão pra tudo o que é lado e inventam as desculpas mais improváveis para “acumular” essas atuações. É como ler um baita livro.

Isso acontece direto nos filmes do Wes Anderson também, como em O Grande Hotel Budapeste e no seu novo filme que estreia em Cannes esse ano, The French Dispatch – o filme que eu mal posso esperar pra assistir na minha primeira ida ao cinema depois da vacina:

O falante mais rápido do mundo canta “Bad” em 20 segundos

John Moschitta Jr. era considerado o homem que falava mais rápido no mundo, e para provar tem esse vídeo de 1987 em que ele recita “Bad”, de Michael Jackson, em vinte segundos. A música original tem mais de quatro minutos e meio.

Em contrapartida, esse vídeo acabou de reduzir a velocidade da minha fala porque meu queixo ainda não voltou pro lugar.

Gilberto Gil sobre o desenvolvimento e a democratização da tecnologia

Gil, sempre o mestre, em entrevista à Folha:

Desde os grandes produtores de tecnologia de internet, passando pelos consumidores e indo até os órgãos reguladores, todos estão de uma certa forma preocupados.

O Instagram estabeleceu suas regras. O Whatsapp apareceu agora com uma novidade. Todos tentando regulações, chamando o Estado para participar desse processo todo. Você vê, por exemplo, o [Mark] Zuckerberg [presidente do Facebook] tentando melhorar os serviços prestados pela companhia dele, estabelecendo um debate com os órgãos regulatórios para melhorar o atendimento ao consumidor, a questão das fake news. Tudo isso é preocupação permanente de cada vez mais pessoas na sociedade global.

O que se pode fazer é isso. A permanente atenção em relação aos usos dessas tecnologias todas, a avaliação permanente dos resultados desses usos, das correções que vão sendo feitas.

É um processo contínuo?

Como sempre foi. Uma solução cria novos problemas, que demandam novas soluções.

Quem é contra regulação nas redes fala em liberdade de expressão, tema que também é caro a artistas. Como equilibrar isso?

São critérios variados e oscilantes. Uma hora tendendo a favorecer um lado, outra hora o outro.

É uma discussão permanente sobre até onde vai essa liberdade, o que é liberdade, o que não é, qual o grau de interferência tolerável por parte da regulação, onde é que realmente a liberdade está sendo ameaçada ou quando a liberdade é ameaçada por mais liberação (risos). É tudo muito complexo. Não é uma visão linear que dará conta.

Em “Cérebro eletrônico”, de 1969, o sr. diz que a máquina é muda, não chora, não anda. Será preciso atualizar a letra?

Ela vai começar a mandar em vários níveis e vai ser travada pela inteligência humana em vários outros. Isso porque, de outro lado, a configuração da biociência vai se desenvolvendo, vai dando ao cérebro humano nova profundidade, nova capacidade de expansão de seus potenciais.

A contribuição que a máquina traz é equilibrada por aquilo que na existência humana não é técnico, maquínico. Esse lado vai sempre discutir com a máquina. A máquina só vai mandar sozinha, trabalhar sozinha, se o ser humano deixar, por alguma razão.

A humanidade pode decidir em determinado momento que a gente não quer mais a bioexistência, que queremos a existência maquínica e aí entregamos tudo para a máquina. Mas, enquanto a gente apreciar essa dimensão biológica, fisiológica em que estamos, a relação com a máquina será sempre de diálogo.

Ela só vai avançar se for permitida. Essa possibilidade de desastre do tipo “2001, Uma Odisséia no Espaço”, filme em que o computador resolve matar a tripulação toda, é uma situação extrema que deve estar no mapa, no elenco das possibilidades, mas que são muito remotas, porque nós conservamos nossas condições biológicas, de nossa cognição, na nossa corporalidade. Por mais maquínicos que estejamos, nossa autonomia biológica ainda é muito forte, o projeto humano é muito forte.

Desfazer a polarização que a internet alavancou na última década é um processo muito mais difícil, porque a binaridade é própria da tecnologia. Como desenvolvedores, a gente está constantemente trabalhando em casos em que algo acontece ou algo não acontece, e desconsideramos ou “generalizamos” casos em que não é um nem outro. A arte sempre teve essa função de enxergar os cinzas entre o preto e o branco, de discutir porque um é um e outro é outro, e de onde vêm essas ideias. Acho fantástico que o Gil tá fazendo essa ponte.

A tecnologia já tá ligada demais ao nosso cotidiano pra gente tentar reduzir nossas vidas à ela. O caminho é oposto – nós precisamos começar a olhar para a transformação tecnológica de forma mais complexa e fazendo perguntas mais difíceis se quisermos continuar usando e desenvolvendo. Nas palavras do próprio Gil:

Tudo é bom e ruim. Igual copo de leite, que é muito bom para alguém em determinada circunstância, mas pode ser terrível para alguém que tenha alergia a laticínios.

Gil vai dar a palestra Caminhos para a Democratização da Tecnologia no canal da ThoughtWorks Brasil no YouTube nessa quinta, às 19h.

Onde Fica a Casa do Meu Amigo? na MUBI

O filme do dia na MUBI é Onde Fica a Casa do Meu Amigo?, o filme que colocou o diretor iraniano Abbas Kiarostami na mira do público internacional. Se você nunca viu um filme do meu diretor favorito, eu recomendo muito começar por ele. É curtinho, e tudo o que eu aprendi a amar no cinema de Kiarostami começa aqui.

A história é simples: nosso protagonista, um garoto de oito anos, pega sem querer o caderno de um colega. O colega está tendo uns dias ruins, e o garoto imagina que se ele não entregar o tema de casa feito na aula seguinte, ele vai ser punido. O filme inteiro é a busca de Ahmed pela casa do seu colega, e como os adultos ajudam ele muito pouco, mas Kiarostami filma muito menos pela indiferênca dos adultos do que pela perseverança de Ahmed, que torna esse filme realista em uma pequena fábula, em que o mundo se contorce sob a visão de como as coisas funcionam para uma criança de oito anos. É lindo e é enganosamente simples, como os melhores filmes costumam ser.

Onde Fica a Casa do Meu Amigo? é o primeiro filme em uma “falsa trilogia” em que Kiarostami volta à região de Koker, onde esse filme foi filmado, e eu tenho a sensação de que os outros dois filmes vão chegar logo logo na MUBI também.

As obras-primas do streaming

A Polygon está com uma série de artigos chamada The Masterpieces of Streaming, com foco nos filmes e séries lançados no Netflix e em outras plataformas de streaming desde o início da criação de conteúdo específico pra esse meio (os chamados “originals”). Tem a típica lista dos 50 filmes mais importantes dessa era, e as séries que melhor utilizam a plataforma para maratonar. Tem também sobre um outro tipo de conteúdo, os vídeo-ensaios no YouTube, que por algum motivo não lista nenhum vídeo da ContraPoints.

O que eu mais gostei são os artigos que analisam essa era de conteúdo, em especial esse em que o autor, Charles Bramesco, tenta identificar o porque as plataformas de streaming geram tão poucos clássicos como as locadoras (e os cinemas) conseguem:

Humanity has spent a little over one hundred years developing a relationship to “the movies” as both a sentimental notion and a real place, priming us for the emotionally revelatory highs of a life-changing screening. There’s a crucial feeling of ceremony absent from the process of clicking around on the couch, and a certain investment in buying a ticket rather than simply hitting play. For the deliberateness required, these transactions mean more; it’s even in the language, of “going to the movies” versus “seeing what’s on.” Netflix has poured a bit of its capital into eventizing its films along these lines, buying out the Paris Theater in Manhattan as a place for the tastemakers of New York to take in the service’s more dignified releases as they were meant to be seen.

“As they were meant to be seen” is not a figure of speech. There are visceral, physical reasons for the way we have traditionally seen art and absorbed its effects. The sheer scale of theatrical presentation makes for an immediate bigness that amplifies our response to the moving lights on the wall. The enveloping environment of darkness, the elimination of extraneous sounds, and the upright stillness in the chair lull a viewer into a state of what film theorists called “lower wakefulness,” under which movies can permeate deeper than when watched from a couch. The company of the crowd goes a long way as well, their reactions giving approval to ours and vice versa in feedback loops of fuller-throated laughter, fear, or in the case of Magic Mike XXL, joy. The forced isolation of the past year-plus has only underscored the critical importance of the social, communal dimension to viewership.

Mas meu artigo favorito de todos é esse ensaio sobre o poder, e a influência, do Vine nisso tudo. Esse sim foi o rei da internet enquanto durou.