Posts publicados em 05/2021

A simulação secreta de SimCity

Esse vídeo da Polygon sobre a simulação “secreta” que rege o que a gente faz em SimCity é excelente (e muito, muito denso, eu tive que rever umas vezes). Ele me fez lembrar esse texto sobre a política oculta e perigosa do jogo.

Também me lembrou que, depois que o SimCity foi lançado em 2013, uma galera tava reclamando sobre como era “difícil ou quase impossível remover os moradores de rua” da cidade. Tem esse post no Motherboard sobre isso.

Reaprendendo a amar o cinema

Se você acompanha o Pão há um tempo, pode perceber que nos últimos dois anos eu falei muito pouco sobre filmes. No início, o Pão era quase inteiro um blog sobre os filmes que eu gostava ou tinha descoberto recentemente, mas de meados de 2019 pra cá isso mudou um bocado.

Antes, eu era uma pessoa empolgada por descobrir diretores novos e explorar a filmografia de um país longínquo. Eu gostava de ir no cinema e pegar uma sessão sem nem saber a sinopse do filme que eu ia assistir, eu me importava com filmes que foram selecionados para festivais e organizava calendários de estreia para ficar atento a quando eu ia ver o quê.

Mas de lá pra cá, minha relação com o cinema mudou profundamente. Primeiro eu achei que era algo momentâneo, como acontecia antes, de eu passar umas semanas sem ver tantos filmes até que o fôlego de assistir um filme (ou mais!) por dia voltasse. Mas esses intervalos começaram a durar mais e mais, até que eu percebi que talvez fosse algo diferente, definitivo.

A verdade é que não foi só a minha relação com o cinema que mudou nesse tempo, mas a forma com que eu enxergo os filmes também1. Eu comentei um pouco sobre isso em uma edição recente da Baguete: eu leio resenhas antigas que eu publiquei aqui no blog lá por 2013 e 2014 e vejo o quanto isso mudou. Eu reduzia os filmes que eu assistia, até mesmo aqueles que eu gostava muito, a temas simples. Antes eu achava que meus posts sobre Zodíaco e Ela não eram bons porque eu não conseguia formular bem os motivos pelos quais esses filmes são bons. A verdade é que esses textos são ruins porque eu mesmo não era honesto sobre o que eu gostava sobre eles, conscientemente ou não.

Por exemplo, no post sobre Zodíaco, eu digo que o filme é bom porque é um retrato obsessivo sobre pessoas obsessivas, e a obsessão do personagem sobre a identidade do assassino do Zodíaco reflete a obsessão do diretor, David Fincher, em esmiuçar os eventos. Esse é uma das características que me fazem apreciar esse filme, mas não é por isso que eu gosto dele.

Eu passei o último ano sem falar muito de cinema por aqui, e não porque eu não vi filmes excelentes. Foi pensando nos motivos de eu não conseguir escrever um post sobre First Cow e Minari que eu comecei a entender o que mudou em mim. Esses são dois filmes que parecem simples: First Cow conta a história de dois amigos na era colonial dos Estados Unidos que começam a roubar o leite da primeira e única vaca da região para fazer quitutes e vendê-los por uns trocados. Minari conta a história de uma família de imigrantes coreanos na década de 1980 tentando criar uma plantação de legumes.

Porém, quando eu tentei aplicar minha abordagem pra resenhar eles, eu não consegui. Isso porque First Cow e Minari não são filmes “sobre” algo, não existe uma força temática forte sobre eles com a qual eu pudesse reduzir os filmes. Não que Zodíaco seja um filme com apenas um tema como eu dou a entender naquela resenha, mas eu “descasquei” um tema do filme e saí correndo com ele. Se eu fosse escrever sobre Zodíaco hoje, eu não saberia como.

Eu acho que isso tá acontecendo porque eu tô vendo filmes de um jeito diferente. Eu não vejo mais filmes “sobre um acontecimento”, mas sim filmes no momento em que algo acontece. É um jeito diferente de olhar, e eu acho mais difícil de escrever sobre o que eu gosto nesses filmes. Eles capturam algo que eu gosto, e me mostram de um jeito que eu gosto.

Minha impressão é que esse é um jeito mais gentil de ver filmes. Eu parei de cobrar que coisas aconteçam nos filmes, ou que eles me falem sobre algo — que eles tenham um Grande Tema, que eles me expliquem Uma Grande Situação. Eu ando assistindo filmes como se eu estivesse olhando pra janela enquanto tenho uma folga do trabalho. Eu vejo as coisas acontecerem naquele momento que eu enxergo elas. As vezes elas fazem sentido, as vezes não. É sobre o que elas me fazem sentir, bem mais do que elas fazem no filme em si.

Não sei se dá pra entender isso, mas essa mudança foi crucial pra eu voltar a gostar de ver filmes. Por um tempo, foi ficando cada vez mais difícil de escolher um filme pra assistir — eu fui ficando mais chato, eles tinham que ser mais inteligentes do que os anteriores, mais formalmente impressionantes, etc. Até um ponto que eu não tava gostando de mais nada do que eu assistia, e parei de querer ver filmes. E então eu percebi essa mudança em filmes pequenos. Filmes como First Cow, em que muito pouco acontece, mas que limparam a minha mente e me fizeram enxergar o que tava acontecendo neles, e não “sobre” o que eles tavam tentando me dizer.

Não sei se um dia eu vou voltar a resenhar filmes, mas provavelmente não. Eu ainda tô experimentando formas de escrever sobre os filmes que eu vi, e ainda não achei uma forma ideal. As vezes eu acerto em cheio, como essa observação de Certas Mulheres, que é até hoje um texto meu favorito sobre filme, mas é difícil de escrever algo assim. As vezes eu prefiro descrever como o filme me fez sentir, e acho que essa é uma boa saída também. As vezes eu faço uma observação mais pontual. Pode ser que eu escreva mais coisas assim.

Vocês provavelmente vão ler alguns desses experimentos no Pão daqui pra frente. Eu só precisava desabafar sobre isso em primeiro lugar. Acho que, agora, eu consigo ser mais honesto sobre os filmes que eu vejo.

  1. Tem uma questão de tempo aí também, eu simplesmente não tenho mais tanto tempo livre pra assistir a quantidade de filmes que eu via antes. 

Everything is Alive está de volta

Everything is Alive, o meu podcast favorito, está de volta para sua novíssima temporada entrevistando Adam, um banquinho de sentar.

Esse podcast é perfeito pra quem, assim como eu, assistiu Toy Story muito cedo e desenvolveu uma empatia perigosa por absolutamente tudo ao seu redor. Eu sento devagar no sofá pra não machucar ele, eu limpo a louça com cuidado para elas dormirem bem. Faz muito tempo que eu não acredito que as coisas ao nosso redor não têm uma vida própria e julgam o nosso dia-a-dia, mas resquícios desses pensamentos ainda vivem dentro de mim. E Everything is Alive ilustra isso com entrevistas com esses objetos. São conversas charmosas demais pra descrever, mas eu vou tentar: algumas são engraçadas, como a da jaqueta de couro e a calça jeans, que conversam sobre como seu dono não tem mais idade para vestí-las. Outras, como a do elevador, são de partir o coração.

A melhor dica que eu poderia dar a você nesse início de final de semana é essa. Escute Everything is Alive. Ele me ajudou a ver a beleza daquilo que nos cerca no dia-a-dia. Não tem presente melhor que esse.

Dois links nessa manhã de segunda

Dois links nessa manhã de segunda:

A história não contada de “Back at it again at Krispy Kreme” (nymag.com)

A história do melhor Vine de todos os tempos, com direito à uma investigação detetivesca de onde e porque ele aconteceu.

100 Visões da Maternidade (theluupe.com)

Um ensaio fotográfico curado pelo TheLuupe. São cem fotografias que mesmo assim sugerem que são poucas para conseguir capturar a experiência maternal pelo mundo.

Barry Jenkins: The Gaze

Enquanto filmava a monumental minissérie The Underground Railroad, o diretor Barry Jenkins também começou a trabalhar em The Gaze, um filme não-narrativo que parece existir naqueles momentos dos filmes do diretor em que os personagens extrapolam suas próprias histórias e olham o próprio espectador nos olhos.

In my years of doing interviews and roundtables and Q&A’s for the various films we’ve made, there is one question that recurs. No matter the length of the piece or the tone of the room, eventually, inevitably, I am asked about the white gaze. It wasn’t until a very particular interview regards The Underground Railroad that the blindspot inherent in that questioning became clear to me: never, in all my years of working or questioning, had I been set upon about the Black gaze; or the gaze distilled.

I don’t remember when we began making the piece you see here. Which is not and should not be considered an episode of The Underground Railroad. It exists apart from that, outside it. Early in production, there was a moment where I looked across the set and what I saw settled me: our background actors, in working with folks like Ms. Wendy and Mr. and Mrs. King – styled and dressed and made up by Caroline, by Lawrence and Donnie – I looked across the set and realized I was looking at my ancestors, a group of people whose images have been largely lost to the historical record. Without thinking, we paused production on the The Underground Railroad and instead harnessed our tools to capture portraits of… them.

What flows here is non-narrative. There is no story told. Throughout production, we halted our filming many times for moments like these. Moments where… standing in the spaces our ancestors stood, we had the feeling of seeing them, truly seeing them and thus, we sought to capture and share that seeing with you. The artist Kerry James Marshall has a series of paintings of ancestors for whom there is no visual record but for whom he has supplied a visual representation of their person. For me, most inspirationally, “Scipio Moorehead, Portrait of Himself, 1776.”

[…]

This is an act of seeing. Of seeing them. And maybe, in a soft-headed way, of opening a portal where THEY may see US, the benefactors of their efforts, of the lives they LIVED.

Nook: temas do Animal Crossing no Firefox e no Chrome

Se você já jogou Animal Crossing, você sabe que o jogo têm pequenos temas musicais para cada hora do dia. O das 9h é diferente do das 10h, que são diferentes do das 21h e das 22h. Alguns temas são mais “espaçosos”, outros são mais agitados, tudo depende do jogo e da hora do dia.

Esses temas são perfeitos pra quando eu estou jogando New Horizons, porque o jogo requer ao mesmo tempo um pouquinho de concentração e de criatividade. Por coincidência, o meu trabalho também requer um pouco de concentração e de criatividade ao mesmo tempo, então eu fiquei muito feliz quando encontrei o Nook, uma extensão para o Chrome e o Firefox que executa os pequenos loops musicais de vários Animal Crossing de acordo com a hora do dia.

Eu pessoalmente gosto de ouvir os temas de New Leaf de manhã, eles são mais melancólicos e bonitos. À tarde, geralmente o período mais movimentado do meu trabalho, eu gosto de ouvir as notas acústicas dos temas de New Horizons, que me acalmam. Eu acho um barato, porque a extensão tem algumas configurações muito úteis — eu posso diminuir o volume do tema sem precisar baixar o volume do resto do computador, então eu deixo ele baixinho durante as reuniões. Você também pode ativar a chuva (a música muda quando chove ou neva nos jogos). Você pode até mesmo ativar as músicas do K.K. Slider nas noites de sábado, pra quando você precisa fazer aquela hora extra.

Os postos de gasolina mais bonitos

Via Kottke, que também linka pra esse artigo sobre como postos de gasolina podem ser transformados em coisas melhores quando gasolina e combustível forem coisa do passado, tomara que esse dia chegue logo.

Eu sou apaixonado por postos de gasolina, bonitos ou não. Tem algo muito real nesses lugares pedestres, são estruturas “eternas” para momentos passageiros — muito como um elevador, mas eu tenho medo de elevadores. É estranho, mas eu geralmente vejo postos de gasolina como respiros em cidades grandes. Eles são horizontais, e não verticais como os prédios, eles precisam ter espaço, porque os veículos vão passar bem nom eio deles. E eles são momentâneos: existem para aquele momento que você precisa deles, e depois você vai embora. Tem algo poético e trágico em lugares assim.

Kentucky Route Zero é basicamente sobre isso: aquilo que é trágico e poético porque é passageiro. Ele começa em um posto de gasolina.

Nintendo anuncia Game Builder Garage

Game Builder Garage é um jogo/aplicativo para o Nintendo Switch que permite que as pessoas criem jogos usando uma interface gráfica amigável, como o Scratch ou o Kodu Game Lab da Microsoft. O usuário vai ligar blocos que podem ser objetos ou ações à blocos de interação, permitindo criar comportamentos e cenários.

Pelo trailer, Game Builder Garage é bastante inspirado no Labo Garage e no Dojô do Yamamura em Super Mario Maker 2, e aposta no grande forte da Nintendo: seu conhecimento inigualável dos fundamentos do game design. De longe as melhores aulas de design de níveis que eu tive foram através do Yamamura no SMM2, com lições com foco em cada elemento que um nível de jogos do Mario podem apresentar. Game Builder Garage parece uma versão extendida e mais poderosa desse modo de jogo e tô bem interessado no que ele pode oferecer. Me lembrou de quando a Nintendo lançava aplicativos como leitor de livros e bloco de anotações para o DS e o 3DS, sempre com um diferencial bacana. Parece que o Switch tá tomando esse mesmo caminho.

Algumas anotações de atualizações

Oi pessoal, queria só deixar uns avisos por aqui antes de começar o dia. Espero que todos estejam bem e seguros.

se você é um leitor atento do Pão, já deve ter percebido que eu tô sempre fazendo umas modificações aqui e ali. As vezes eu mudo o espaçamento nos posts, as vezes eu troco algo de lugar. O Pão já passou por alguns redesigns, mas eu tô bem contente com esse e a forma como ele vem crescendo. Você já deve saber que eu trato esse blog como um pequeno jardim, sempre arrumando uma coisinha ou deixando outra mais bonitinha. Eu adoro sentar na frente do computador no sábado ou no domingo por uma ou duas horas e ficar mexendo um pouco no código-fonte do Pão.

Nas últimas semanas eu estive dedicado a remover a plataforma de comentários que eu usava aqui antes, o Disqus. Ele era a única fonte de cookies externos sendo usados no Pão, e ele começou a exibir anúncios na seção de comentários há um tempo. Eu nunca gostei disso, mas como o Pão é um site estático, sem um painel de administração por trás dele, eu não sabia se tinha muitas opções como alternativas.

Como vocês podem ver abaixo desse post, eu encontrei uma! Na verdade eu lembrei que o IntenseDebate existia — eu o usei em um dos meus primeiros blogs há muitos anos. Então temos comentários de novo, e agora sem interferir a sua privacidade e sem abusar do meu layout. Todo mundo ganha!

Agora a má notícia: eu ainda estou tentando importar nossos comentários do Disqus pra IntenseDebate, mas tô suspeitando que isso não seja possível. Se não tiver, paciência. Os comentários do Pão nunca foram muito ativos (mais sobre isso em um post futuro, eu acho!), mas com o passar dos anos eles acumularam um efeito muito bacana de pessoas encontrando séries ou filmes ou jogos que eu comentei aqui há um tempão e reagindo às minas considerações. Era bacana ver essas reações com anos de distância, e elas ainda estão disponíveis no Disqus do Pão. Os novos comentários do Pão ainda vão permitir esse tipo de interação, mas esse histórico talvez fique pra trás.

Enfim, os comentários estão vivos, e continuam sendo regidos pela etiqueta de comentários. Eu também aproveitei para atualizar as considerações de privacidade para remover a nota sobre o uso dos seus dados pelo Disqus. Ele não tem mais vez aqui no Pão.

Obrigado pela visita e fiquem bem! Nos vemos logo mais.