Olhe para esse sol
Esse é o nosso Sol em uma foto de 140 megapixel tirada por Andrew McCarthy.
Via Kottke.
Esse é o nosso Sol em uma foto de 140 megapixel tirada por Andrew McCarthy.
Via Kottke.
Toby Ord passou longas tardes restaurando fotos tiradas durante as missões Apollo, é um trabalho muito lindo que ele documentou no seu projeto Earth Restored, com detalhes de como essas fotos foram tiradas e de como foi o processo de restauração delas.
Most recent Earth photography is from the International Space Station. It is a superb vantage point, with excellent equipment and skilled photographers. But its position in low Earth orbit is just too close to allow photographs of the entire planet. If the Earth were a schoolroom globe, 30 centimetres across, the ISS would be viewing the Earth from less than a centimetre away — far enough to see a curving horizon and the black of space, but not to see the whole Earth. In fact, being so close, it can see just 3% of the Earth’s surface at a time.
To take a portrait of our planet you need to step further back. For example, to geostationary orbit (about 90 times further away) or the Moon (about a thousand times further). From these distances, you can see nearly an entire half of the Earth’s surface at any one time, while remaining close enough for a sharp image.
[…]
To find truly great photographs of the Earth — portraits of our planet — we have to go back to the 1960s and 70s. The Apollo program, with its nine journeys to the Moon, is the only time humans have ever been beyond low Earth orbit; the only opportunity they have had to take photographs of the whole Earth. They did not waste it. With great foresight, NASA equipped the astronauts with some of the best cameras ever made — specially modified Hasselblads, with Zeiss lenses, and 70mm Kodak Ektachrome film. But with the custom modifications, these were not easy to use. The cameras had no viewfinders or range finders, just a simple sighting ring. Composition, focus, and exposure came down to a mix of intuition and guesswork.
As imagens da NASA estão em domínio público, e Ord permite o uso de suas restaurações para fins não comerciais. Para saber mais, dê uma olhada na página do projeto.
The Underground Railroad é uma minissérie de dez episódios escrita e dirigida por Barry Jenkins, diretor dos maravilhosos Sob a Luz do Luar e Se a Rua Beale Falasse, dois dos meus filmes favoritos da última década. Jenkins é um mestre, e mal posso esperar pra ver o que ele vai conseguir fazer num escopo gigante de uma minissérie.
The Underground Railroad vai ser lançado no Prime Video em 14 de maio.
Annette é o primeiro filme de Léos Carax desde Holy Motors[^1], um dos melhores filmes da década passada. É um musical com Adam Driver e Mario Cottilard e é um projeto que eu tô acompanhando há anos (acho que a primeira notícia sobre esse filme veio em 2016?). É empolgante saber que ele finalmente vai ser lançado.
Annette vai abrir o Festival de Cannes em 6 de julho e ainda não tem previsão de lançamento no Brasil. Eu espero que eu possa assistir nos cinemas quando eles puderem reabrir em 2024.
Até pouco tempo atrás, eu não precisava muito me organizar pra assistir filmes ou séries. Eu fazia isso meio que instintivamente. Se eu acordasse cedo o suficiente, eu podia assistir um episódio de uma série enquanto tomava meu café da manhã, e eu conseguia encaixar uns dois filmes depois do trabalho e antes de dormir.
Escrevendo isso agora eu fico pensando que loucura era aquela, mas eu consegui manter esse “ritmo” por uns anos. Mas hoje em dia eu não consigo mais. Eu acho que o isolamento social tá tornando cada vez mais difícil que eu me focar em algo — imagina, sentar só pra ver um filme! Mas eu também tô tentando ser uma pessoa com hábitos mais saudáveis, e a diversificar um pouco a minha “rotina cultural”, digamos assim. Quando eu arranjava tempo pra assistir tudo que é filme ou série, eu acabava me dedicando muito pouco a ler os livros que eu queria, e eu gostava muito de ler! Eu também não jogava tantos jogos que eu queria, e acumulava coisas na minha biblioteca do Steam.
Quando eu percebi que eu queria voltar a ler mais, eu comecei a tentar encaixar a leitura na minha rotina (isso tem sido um tema frequente na newsletter desde maio do ano passado). Mas só tentar encaixar não foi o suficiente, porque parece que o meu nível de atenção e de “disponibilidade emocional” mudou. Eu não consigo assistir The Americans, jogar Alien Isolation e depois ir para cama e continuar lendo meu livro de contos, por exemplo. Parte do meu processo de absorver cultura, hoje em dia, é justamente ter um tempo para digerir ela. O que significa que eu precisei espalhar ela pela semana, e não ficar tentando encaixar o máximo possível em um só dia.
Em contrapartida, tinha dias que eu sabia no que eu queria me dedicar (por exemplo, ver um filme na noite de quarta-feira), mas ficava muito tempo passeando pelos catálogos da Netflix, da Amazon ou sei lá mais do quê, até que a vontade desaparecia e eu ia dormir triste porque queria ter visto um filminho. Ou eu me pegava num loop onde eu só conseguia rever Community e Gilmore Girls, e deixava um monte de série bacana para trás.
Eu acho que é sinal da idade. Talvez seja. Talvez eu vou acabar ficando cada vez mais insuportável conforme eu vá envelhecendo, tendo que organizar minha rotina ainda mais, mas esse é o jeito que eu encontrei de fazer um pouquinho a cada dia, de não ficar naquela ânsia de querer assistir algo, mas gastar todo o curto tempo que eu tenho antes de dormir escolhendo o que eu quero assistir1 não é uma opção que me deixa feliz.
Então eu elaborei um cronograma, que é mais ou menos esse que tá aqui embaixo. Ele é bem aberto em partes, mas rígido onde eu preciso: eu tenho pré-definido o que eu vou assistir e quando eu vou assistir, e não superestipula minha semana. Pode ter um dia que eu vá ter um mal dia, então eu posso só relaxar e rever Succession. Mas isso não pode ser frequente, porque senão eu entro nesses loops perigosos. E eu me conheço bem, um loop perigoso é desculpa para eu comer bobagem e ir dormir tarde. Eu vou me sentir horrível no outro dia se eu fizer isso por uma semana inteira.
Mas ele também me libera nos fins de semana: como eu já vou ter lido durante a semana e vou ter progredido na porra do RPG de 90 horas que eu teimei em querer jogar, eu posso sentar e ver todos os filmes que eu quis ver durante a semana e que eu lembrei de ter posto na minha watchlist do Letterboxd. Eu não consigo assistir mais que dois filmes por noite antes de dormir, mas geralmente são filmes que eu queria muito assistir. A qualidade vence a quantidade.
Esse é o meu cronograma atualmente. Ele provavelmnte vai mudar conforme as séries que eu tô assistindo forem terminando (o último episódio da temporada de For All Mankind foi nessa última sexta) ou forem estreando (tudo vai mudar quando a terceira temporada de Succession estrear). Mas, por enquanto, ele tá assim:
Uma reação colateral desse momento em que eu fico passeando pelos apps de streaming é que, se eu recebo uma notificação do Twitter ou do Instagram enquanto eu tô escolhendo o que eu vou assistir, a chance que eu perca ainda mais tempo preso na timeline por motivo algum é muito maior. ↩
Eu escuto poucos podcasts por vez, então nem sempre tenho o que ouvir durante o trabalho. As vezes eu começo a ouvir um podcast novo e posso ficar horas tirando o meu atraso ouvindo todos os episódios até ali. Mas isso é raro, e eu não consigo ouvir muita música enquanto tô trabalhando.
Foi então que eu decidi seguir uma recomendação feita (há muito tempo) por um amigo meu e assistir os vídeos de Jeremy Parish, um escritor especializado na história dos videogames. Chamado de Video Works, Parish acompanha a história moderna dos consoles (tudo o que veio depois do crash da Atari nos anos 80) de forma cronológica.
É um trabalho gigante, e muito divertido. Parish não fala só dos jogos ou dos consoles, mas oferece uma contextualização gigante ao redor dos seus lançamentos — como a crise energética dos EUA ofereceu uma oportunidade única para os videogames japoneses desembarcarem no ocidente, por exemplo.
Video Works é dividido em várias playlists, como NES Works e Game Boy Works. Se você tem um interesse em especial por algum console em específico pode ir numa playlist específica com tranquilidade, já que as séries são autossuficientes. Até mesmo os vídeos em si são divertidos. Eu dei uma chance pro projeto assistindo o vídeo sobre o Super Mario Bros. original, e é fantástico.
Eu encontrei esse vídeo há umas semanas no Open Culture e fiquei pensando nisso desde então (já que eu tô assistindo muito documentário natural nos últimos tempos). É algo nada surpreendente se você para pra pensar em documentários da natureza — nós temos tecnologia para capturar boas imagens de todos esses animais em longa distância, mas é difícil de capturar o som deles quando você tá escondido no meio da selva e não quer que a onça se assuste com você e sua equipe de três pessoas filmando ela pular de um lugar pro outro.
Na escola de cinema a gente aprende sobre a técnica de Mickey Mousing, em que animações antigas usavam a trilha-sonora para “sonorizar” ações que não têm sons muito “interessantes” para o público infantil. Então passos são notas de piano, uma gargalhada é um dedilhado no violão, ficar triste se torna umas notas de piano, etc. Eu vejo essa recriação de sons (que são feitos pelos profissionais de foley, heróis nunca mencionados do cinema) em uma espécie de Mickey Mousing 2.0. O som das aranhas é especialmente genial.
Neremiah Mabry é um professor e um engenheiro de estruturas, e nesse vídeo para a revista Wired ele explica cada tipo diferente de ponte e qual situação ela é usada.
Me fez lembrar que eu tinha um medo incomum de pontes quando eu era criança. Quando meus pais me levavam para Porto Alegre e eu via a Ponte do Guaíba eu ficava muito nervoso. Hoje em dia tem uma ponte ainda maior ao lado dessa, mas eu não tenho medo.
O vídeo acima é de um anúncio de uma empresa japonesa de bebidas, e é mais um anúncio que vai pra minha coleção de vídeos que eu amo porque usam efeitos visuais práticos.
Eu gosto muito de vários usos de computação gráfica, e esse vídeo com certeza usa para compôr e remover alguns detalhes pontuais, mas a parte mais legal mesmo — os corredores maleáveis e tudo voando pelos ares, é 100% efeito prático. Eu amo a sensação que esse tipo de efeito visual passa. Se você quiser dar uma olhada em como tudo foi feito (inclusive no corredor de 85 metros criado especificamente pro anúncio), dê uma olhada nesse vídeo de bastidores.
Esse vídeo me fez lembrar do anúncio Welcome Home que o Spike Jonze dirigiu para o lançamento do HomePod da Apple. É um dos meus vídeos favoritos (e também tem um making off muito bacana):
Eu não quero entrar para a briga de efeitos práticos e efeitos em computação gráfica aqui (até porque eu acho que essa é uma briga com um vencedor já). Computação gráfica cria coisas além da nossa realidade, mas eu amo a fisicalidade que os efeitos práticos de Mad Max: Estrada da Fúria criam, tornando aquilo que não pode ser verdade em algo real e tangível:
E usa computação gráfica para finalizar, tirar cabos e equipamentos de segurança e compôr os planos gerais. Que filme perfeito.
O compositor Ben Babbitt lançou no seu BandCamp um disco de “sobras” da trilha-sonora de Kentucky Route Zero. O disco inclui músicas ouvidas só nos trailers (como a belíssima The Flood) e músicas do jogo que não foram incluídas na trilha-sonora oficial, como ruídos de estações de rádio, sons distantes e sonhos.
Eu passei o fim de semana ouvindo esse disco, e me deu uma vontade imensa de jogar KRZ de novo. Essas “sobras” representam muito da minha experiência com o jogo: segundo Babbitt, esse é seu último envolvimento com o projeto que acabou ocupando toda uma década para o trio que compõe o Cardboard Computer, e de alguma forma eles ilustram o furor, o desespero e os sonhos dessa última década que não foram registrados como as faixas do disco oficial, mas que de alguma forma foram sentidos. Ouvir elas assim, fora do contexto do jogo, parecem justamente memórias. São músicas passageiras, que antes eu ouvia com os efeitos sonoros do jogo por cima. Elas soam diferentes agora, como uma memória parece ter um sentimento diferente daquele momento que foi vivido antes.
Lindo demais. Dá pra ouvir de graça no BandCamp, eu comprei pra manter comigo porque são músicas muito especiais.
Ted Chiang, autor de Exhalation, o livro de contos de ficção-científica que eu estou lendo nesse exato momento, e do conto que deu origem ao filme A Chegada, em uma entrevista para o podcast de Ezra Klein (ênfases minhas):
I tend to think that most fears about A.I. are best understood as fears about capitalism. And I think that this is actually true of most fears of technology, too. Most of our fears or anxieties about technology are best understood as fears or anxiety about how capitalism will use technology against us. And technology and capitalism have been so closely intertwined that it’s hard to distinguish the two.
Let’s think about it this way. How much would we fear any technology, whether A.I. or some other technology, how much would you fear it if we lived in a world that was a lot like Denmark or if the entire world was run sort of on the principles of one of the Scandinavian countries? There’s universal health care. Everyone has child care, free college maybe. And maybe there’s some version of universal basic income there.
Now if the entire world operates according to — is run on those principles, how much do you worry about a new technology then? I think much, much less than we do now. Most of the things that we worry about under the mode of capitalism that the U.S practices, that is going to put people out of work, that is going to make people’s lives harder, because corporations will see it as a way to increase their profits and reduce their costs. It’s not intrinsic to that technology. It’s not that technology fundamentally is about putting people out of work.
It’s capitalism that wants to reduce costs and reduce costs by laying people off. It’s not that like all technology suddenly becomes benign in this world. But it’s like, in a world where we have really strong social safety nets, then you could maybe actually evaluate sort of the pros and cons of technology as a technology, as opposed to seeing it through how capitalism is going to use it against us. How are giant corporations going to use this to increase their profits at our expense?
And so, I feel like that is kind of the unexamined assumption in a lot of discussions about the inevitability of technological change and technologically-induced unemployment. Those are fundamentally about capitalism and the fact that we are sort of unable to question capitalism. We take it as an assumption that it will always exist and that we will never escape it. And that’s sort of the background radiation that we are all having to live with. But yeah, I’d like us to be able to separate an evaluation of the merits and drawbacks of technology from the framework of capitalism.
Via Kottke. Esse é um assunto que me fascina desde que eu li The Soul of the New Machine, de Tracy Kidder.
Fetch the Bolt Cutters é uma obra-prima intimista e crua, composta por histórias que Fiona Apple não só conta como sente, porque são momentos e sentimentos da vida dela que a marcaram, de homens abusivos e da irmandade que ela encontrou em mulheres ao seu redor. Uma dessas é Shameika, em que Apple lembra da conversa que uma colega sua teve com ela na quarta-série sobre não dar ouvido para o bullying que ela estava sofrendo.
Uma das coisas lindas que Shameika captura é a imensidão de um pequeno momento. Na música, Apple conta que Shameika esteve em sua vida por pouco tempo — elas só foram colegas de escola na quarta-série —, e nunca teve a oportunidade de dizer para ela como o que Shameika disse foi importante para sua vida.
As pessoas se perguntaram onde estaria Shameika agora, e pelo visto a Pitchfork encontrou. Em novembro, Jenn Pelly publicou sua entrevista com Shameika Stepney, a colega de escola de Fiona Apple:
It was late April, deep in quarantine, when Shameika first found out about Fiona’s song, but not by hearing it. (She was always only vaguely aware of her former schoolmate’s music career.) The news came, instead, via an out-of-the-blue handwritten card sent in the mail by her and Fiona’s adored third grade teacher, Linda Kunhardt.
Shameika remembers venturing to her mailbox one day for a bit of fresh air and finding the curious note. Her disbelief is still palpable as she recalls the contents of the card: “Shameika, I hope this letter is finding you safe during quarantine, I had to write you because I don’t know if you remember this girl Fiona McAfee. You told her not to listen to bullies, and that she had potential. I just wanted to say thank you. And I wanted to let you know that your prophetic words have been turned into a beloved song titled your name…”
A entrevista toda é bacana, e uma prova de que Shameika realmente é a pessoa incrível que Fiona Apple lembrava ser, e contextualiza seu desaparecimento na vida de Apple — Shameika foi expulsa da escola um ano depois, quando bateu em uma garota branca que a insultou. Shameika, que também é uma compositora, mostrou a música que fez com o seu lado da história, Shameika Said: