Looking: a segunda temporada
Desde a primeira temporada eu defendo que Looking é uma grande série que tem como maior defeito buscar um nicho bastante restrito do público. Bem, eu estava errado. Com o episódio dessa semana, Looking se tornou uma das melhores séries na TV atualmente — e se focar em um público específico talvez seja seu maior acerto.
É um salto tremendo o que a série criada por Michael Lannan e primariamente escrita e dirigida por Andrew Haigh conseguiu dar da sua primeira para a segunda temporada, mesmo considerando o primeiro ano de grande qualidade. Se na estréia Looking parecia uma comédia com episódios que beiravam ao drama absoluto, esse segundo ano deu à série a maturidade que Haigh apresenta em seu fabuloso filme Weekend e nos episódios que ele dirige com perfeição (“Looking for the Future” [1x05] e “Looking for a Plus-One” [1x07]). Desde o início (“Looking for the Promised Land”), a série consegue balancear seus temas entre o drama e a comédia e evoluir seus personagens a todo o momento.
Mas sério, o que “Looking for a Plot” fez esse domingo talvez seja o passo definitivo de Looking.
Centrado em uma amada personagem coadjuvante, “Looking for a Plot” é corrido, com algumas escolhas discutíveis de roteiro (levar Patrick para Modesto?), mas mesmo assim o episódio não consegue não ser espetacular. Apresentando tudo o que Looking consegue fazer de melhor, “… for a Plot” desenvolve personagens com impressionante profundidade em apenas algumas linhas de diálogo, investe em grandes verdades sobre seus personagens e leva, a todo o momento, a história para frente, mesmo que voltando em certos momentos a temas passados.
E assim Looking consegue avançar em sua jornada para tornar-se não mais um coming-of-age da temporada passada (o arco longo foi sempre de Patrick, Dom e Augustin precisando amadurecer), e sim tornar-se um estudo de personagens. Em uma cena, nos levando das lágrimas para o riso para o choro novamente, “Looking for a Plot” é uma verdadeira montanha-russa que tem como objetivo nos levar — junto com os personagens — para uma paz interna que eles tanto buscam, nem que seja por um momento só, quando Doris e Dom realizam que, aconteça o que acontecer, eles sempre terão um ao outro.
Looking é, de certa forma, uma versão extendida e semanal de Weekend, o que não é demérito algum. Se no filme de Haigh tinhamos um tempo limite, em Looking podemos acompanhar a jornada dos amigos mais calmamente, e mesmo assim enfrentando dilemas semelhantes. Por diversas vezes, Looking aborda a “saída do armário”, a infância de seus personagens e seus dilemas momentâneos (“porque eu desisti disso”, como Dom o fez essa semana). Sem nunca ficar a sombra do filme, porém, a série consegue ser uma impressionante e íntima realização da televisão contemporânea, que não tem medo de explorar a fundo seus personagens.
A intimidade e a naturalidade com que Looking trata seus personagens e sua temática tornam a série em um produto bastante específico, mas como o próprio Haigh diz sobre Weekend, “quanto mais específico sobre algum assunto você consegue ser, mais universal ele se tornará para as pessoas”. É uma série sobre gays em San Francisco, sim, mas Looking também é sobre seres humanos, como quaisquer outros, em busca de algo que seja real e que valha a pena.
E quem aí não está?